Tudo o que somos hoje enquanto povo, foi moldado ao longo de séculos pelos diversos povos que ocuparam a Península Ibérica. Uma das provas mais evidentes desta nossa herança histórica e cultural é a língua portuguesa, que se espalhou por vários continentes e hoje é uma das mais faladas em todo o mundo.
A língua portuguesa não nasceu no dia em que D. Afonso Henriques proclamou a independência do Reino de Portugal; os dialetos que deram origem ao português já existiam muito antes de Portugal existir enquanto país soberano. E é precisamente destes dialetos que vem a semelhança atual entre o galego e português.
Atualmente, existem duas escolas que advogam diferentes origens destas duas línguas. A maioria dos estudiosos afirma que tanto o português como o galego derivam do latim vulgar, que deu origem ao galaico-português e que, ao longo do tempo, se dividiu em duas línguas.
Mas a outra escola, defendida pelo linguista Fernando Venâncio, diz-nos que o português vem diretamente do galego e que este, por sua vez, é que teve origem no latim vulgar. Mesmo alegando origens diferentes, estas duas correntes acabam por partilhar argumentos e factos em comum para explicar a origem destas duas línguas.
Portanto, ainda antes de existir Portugal, já se falava galego ou galaico-português na zona do Minho e Galiza. Esta língua derivava do latim vulgar, falado pelo povo, e que divergia do latim clássico, falado pelas elites do Império Romano.
O latim vulgar foi também influenciado pela herança de outros povos que ocuparam a Península Ibérica, como os Celtas e os Iberos. Por exemplo, da herança celta, podemos destacar o nome do rio Douro, que deriva do celta “dur” (água).
Portugal forma-se como Reino em 1143, e começaram-se a delinear as fronteiras a Norte, que separam hoje o nosso país da Galiza. Mas, apesar desta delimitação, ainda se falou galego ou galaico-português no nosso território até meados dos séculos XIV e XV, altura em que as duas línguas começaram a divergir.
Esta divisão aconteceu não só graças ao nosso crescimento como país, mas também ao domínio de Castela sobre a região da Galiza, o que levava a que o galego fosse cada vez menos usado, em detrimento do castelhano.
Apesar da divergência, o galego e o português são bastante semelhantes, o que ajuda ao entendimento entre os dois povos, tanto na linguagem escrita como falada. Isto abre portas a trocas comerciais e culturais.
A semelhança entre as duas línguas é tão grande que, por vezes, o galego se aproxima mais do português que do espanhol. Por exemplo, “carro” diz-se e escreve-se da mesma forma nas duas línguas (em espanhol diz-se “coche”), e “cão” é “can” em galego e “perro” em espanhol.
Esta semelhança pode-se revelar importante na preservação do galego. Segundo o presidente da Associação Galega da Língua, Eduardo Maragoto, apenas 50% dos habitantes da Galiza falam galego hoje em dia, valor que desce para os 20% na faixa etária mais jovem. Isto acontece graças ao maior poderio económico e social do espanhol.
Felizmente, têm-se sucedido as iniciativas de preservação da língua, que valorizam a relação entre o galego e o português e que ajudam a levar o galego a cada vez mais pessoas.
A semelhança entre estas duas línguas leva-nos ao longo de uma viagem histórica pelos povos que ocuparam a Península Ibérica ao longo do tempo, mostrando-nos a herança cultural e histórica por eles deixada, e à qual muitas vezes não damos a devida importância.
É impossível compreender a história da língua portuguesa sem compreender a história do galego, e vice-versa. Afinal, as línguas não são estáticas; encontram-se sempre em evolução. No passado, essa interação marcou-se a Norte do nosso país, onde o português surgiu do galego ou do galaico-português.
Hoje, essa mesma evolução vem do contacto com outros idiomas, como o inglês, com os estrangeirismos a tomarem lugar no nosso dia-a-dia, resultado de um maior contacto com outros povos diferentes.