A história do ouro brasileiro sempre foi um tema polémico entre portugueses e brasileiros, dividindo opiniões e inflamando debates.
Uns apontam o dedo a Portugal, acusando-o de ter saqueado o Brasil, enquanto outros defendem que tudo se tratou de uma exploração legítima dentro de um território que, na altura, era português. Mas como se pode compreender esta questão sem cair em visões simplistas?
O ouro era Brasileiro… ou Português?
Em primeiro lugar, é importante recordar que no século XVIII o Brasil era uma colónia de Portugal. Assim, acusar os portugueses de “roubo” não faz muito sentido no contexto da época. Portugal explorava um recurso valioso numa terra que, legalmente, era sua.
Para complicar ainda mais, os verdadeiros habitantes originais do Brasil, os índios, não valorizavam o ouro como recurso económico ou cultural. Para eles, era apenas mais um metal brilhante na paisagem.
Quanto ouro chegou a Portugal?
Depois da descoberta do Brasil por Pedro Álvares Cabral, a colónia passou a pagar impostos à Coroa Portuguesa, inicialmente com produtos como o açúcar. Mas no século XVII, uma crise na produção açucareira obrigou o Brasil a procurar alternativas – e foi então que o ouro entrou em cena.
Durante o auge da exploração aurífera, chegaram a Portugal cerca de 20 toneladas de ouro por ano. Estima-se que, até 1760, a colónia tenha produzido cerca de mil toneladas no total.
Para onde foi o ouro?
Aqui é que a história ganha contornos interessantes. O ouro foi utilizado em várias frentes, umas notáveis e outras… nem por isso. Por um lado, uma parte significativa serviu para financiar obras grandiosas, como o Palácio Nacional de Mafra, um símbolo do reinado de D. João V que absorveu recursos em abundância. No Brasil, foram construídos palácios, igrejas, aquedutos e até cidades inteiras – muitas delas hoje património da UNESCO, como Ouro Preto e Olinda.
Por outro lado, muito do ouro acabou por enriquecer temporariamente os cofres do Estado e engordar os bolsos de algumas famílias abastadas. Mas nem tudo ficou em Portugal ou no Brasil: uma fatia considerável foi parar às mãos da Inglaterra, graças a acordos comerciais que davam privilégios aos britânicos em troca de apoio político e militar, como no Tratado de Methuen (1703).
Muitos historiadores acreditam que o ouro brasileiro ajudou a consolidar o sistema financeiro inglês, transformando Londres no principal centro económico da Europa.
Impacto no Brasil
Apesar de o ouro não ter ficado todo em território brasileiro, o impacto no país foi imenso. A exploração aurífera deslocou o centro político e económico da colónia para o Sudeste, com a capital a mudar-se para o Rio de Janeiro. Além disso, impulsionou a ocupação do interior do Brasil, que até então estava limitado ao litoral.
O período do ouro trouxe ainda um crescimento demográfico significativo e o desenvolvimento de uma classe média composta por artesãos, artistas e intelectuais. Foi uma época de grande efervescência cultural, visível nas igrejas decoradas a ouro, como a Igreja de São Francisco, em Salvador, e nos monumentos que hoje são orgulho nacional.
Conclusão: Roubo ou Gestão?
Portanto, o ouro brasileiro foi, sem dúvida, uma fonte de riqueza temporária, mas também um tema de eterna controvérsia. Não foi propriamente roubado, uma vez que o Brasil era território português na época, mas a sua exploração teve consequências complexas e nem sempre positivas.
Se há algo que podemos aprender com esta história é que a riqueza sem gestão é como um castelo de areia – desaparece rapidamente. E talvez seja essa a verdadeira lição deixada pelo ouro do Brasil. Afinal, não basta ter toneladas de ouro; é preciso saber utilizá-lo.