Já alguma vez ouviu falar da expressão “non fare il portoghese“? Ela tem origem italiana, e, apesar de hoje em dia não ser muito utilizada, é ainda conhecida nesse país. Traduzida literalmente, a expressão significa “não seja português” e a sua origem remonta ao século XVI.
Esta expressão acabou por ser usada em toda a península, e designava alguém que beneficiava de um serviço sem o pagar, acarretando assim o significado de que o povo português é caloteiro.
No entanto, a sua origem é muito diferente do significado dado à expressão, sendo um claro exemplo de um dizer de outra época que adquiriu proporções inimagináveis e se perpetuou no tempo, sem, no entanto, ser do conhecimento geral a origem da expressão, perpetuando-se assim estereótipos que em nada refletem a frase original.
Aliás, embora a expressão possa gerar algum sentimento de que os portugueses têm um caráter e personalidade algo duvidosas, neste caso, a expressão não representa a realidade dos factos.
Esta frase surgirá após um acontecimento histórico ocorrido em Roma, numa altura em que a influência de Portugal era significativa e existiam embaixadores do nosso país em diversos países europeus. Tratando-se de uma das nações mais poderosas do mundo, Portugal, tinha um embaixador em Roma, cidade em que os espetáculos eram constantes.
Na altura, Portugal estava já bem lançado nos Descobrimentos, recebendo especiarias, pérolas, ouro, madeiras exóticas e pedras preciosas, que chegavam aos cofres portugueses já há 496 anos.
Chegavam também a Portugal animais exóticos, nunca vistos na Europa, e para impressionar o recém-eleito Papa Leão X, D. Manuel enviou-lhe uma oferenda especial, contendo jóias e animais, desde macacos, papagaios, cavalos persas, uma pantera, um elefante e um rinoceronte (que acabou por falecer durante a viagem).
A 12 de março de 1514, chegava a Roma este maravilhoso presente. Como prova de reconhecimento, o Papa deu a ordem de que todos os portugueses tivessem entrada livre nas festas de Roma. Não era nem necessário um convite formal: bastava dizerem a sua nacionalidade como prova de identidade.
Como seria de esperar, ao saberem do sucedido, não tardou a que muitas pessoas, que não eram portuguesas, fingissem sê-lo, para não terem de pagar os ingressos nos eventos., dizendo “io sono portoghese” (derivando daí a expressão).
Assim, apesar de hoje a expressão ser usada como forma de dissuadir alguém de praticar truques e burlas, ou de beneficiar de algo sem o pagar, na sua origem, a expressão atestava o poder português e refletia a benesse concedida pelo Papa aos portugueses (e refletia, consequentemente, as burlas praticadas por pessoas de outras nacionalidades, que se aproveitaram da situação).
Por isso, se algum dia ouvir a expressão, já sabe qual é a sua origem e pode assim explicá-la com detalhe ou, pelo menos, saberá que, na verdade, a expressão não tem uma origem denegridora para os portugueses.