O Palace Hotel de Vidago está situado em Vidago, concelho de Chaves. Um emblemático hotel termal, desenhado por José Ferreira da Costa, o Vidago Palace é uma grande ironia do destino e da história. O edifício foi mandado construir por D. Carlos, que queria pompa e circunstância para ali receber a realeza e aristocracia europeia, com a intenção de impressior os seus familiares e amigos que governavam a Europa.
Com o regicídio, seria o seu filho, D. Manuel II, quem seria o convidado de honra da inauguração. Nova reviravolta da história: a abertura estava marcada para 5 de outubro de 1910, dia em que se deu a instauração da República. A abertura do Palace seria no dia seguinte, com a bênção republicana a substituir o fausto real.
Vidago teve um período de esplendor entre 1875-1877, altura em que D. Luís visitou consecutivamente este destino termal idílico. A fama dos poderes curativos desta água espalhou-se para longe, tendo sido premiadas entre 1876-1889 em locais como Madrid, Paris, Viena e Rio de Janeiro. Segundo se consta, teria sido um pobre camponês que, em 1860, descobriu as águas termais de Vidago. E tudo fruto do acaso: o homem queria apenas saciar a sede e resolveu provar a água de uma pequena fonte. Notou que possuía um sabor estranho e que lhe aliviou a dor de barriga.
O relato acabaria por chegar a um médico da vila que mandou analisar a fonte. Descobriram assim as propriedades medicinais destas águas. O próximo passo foi abrir as termas ao mundo. Mas para que as pessoas normais (e os membros da realeza) pudessem desfrutar dos benefícios destas águas, era necessário criar as condições necessárias, algo que Vidago estava longe de possuir.
Ainda antes da construção do Palácio de Vidago, já muitos membros da realeza e outros notáveis da época viajavam até Vidago em busca das propriedades das suas águas. Ficavam alojados no Grande Hotel, construído pela Sociedade das Águas de Vidago. Mas rapidamente se percebeu que era necessário construir um espaço maior e mais digno, com todos os luxos necessários para tão ilustres visitantes. Foi assim que se decidiu construir o Vidago Palace.
A megalomania tomou então conta do projeto: a ideia original seria construir o palácio/hotel no topo da montanha e aceder a ele por teleférico. Os elevados custos acabaram por levar os responsáveis a alterar a sua localização para o sopé da montanha, mantendo no entanto a fachada e os planos originais de construção. O resultado por um edifício imponente, com 365 janelas repartidas por 200 quartos.
Foi o primeiro hotel do país a ter elevador. Os candeeiros a petróleo foram suprimidos e optou-se por lâmpadas elétricas (um total de 700), um luxo para a época. Todos os quartos tinham duches e frigoríficos, algo muito incomum para aquele tempo. E apesar de quase não existirem carros nas estradas portuguesas, o Palácio tinha uma ampla garagem. Estima-se que os custos da sua construção equivaleriam hoje a mais de 120 milhões de euros.
Com a construção da linha férrea entre Vila Real e as Pedras Salgadas em 1907, pelo mesmo rei, em 1907, que se estendeu para Vidago em 1909, colocou as termas numa renovada popularidade. Criavam-se assim todas as condições necessárias para fazer de Vidago um destino turístico de excelência para a realeza portuguesa e europeia: um grande e luxuoso palácio e bons acessos de comboio. Mas o destino trocou as voltas ao projeto.
Assim, o Palácio de Vidago foi o último palácio a ser construído em Portugal. Mas a realeza nunca usufruiu dele, sendo que o povo e a vila de Vidago ficaram com um dos mais belos monumentos portugueses, que hoje é um hotel. Mesmo assim, na época da sua inauguração, foi poiso da aristocracia portuguesa e europeia. Ou seja… apesar de nunca ter posto um pé no palácio, o Rei D. Carlos acertou nas previsões (pelo menos momentaneamente).
E assim foi durante alguns anos… mas os portugueses trocaram as termas pelas praias, a aristocracia europeia descobriu novos hotéis luxuosos noutras paragens mais acessíveis. E, lentamente, o Vidago Palace foi perdendo protagonismo, isolado numa pequena vila do interior de Portugal. Até que em 2006, perante o declínio e a degradação evidentes do espaço, se decide encerrá-lo completamente e proceder a uma remodelação revolucionária.
A fachada foi mantida mas todo o interior foi demolido. Os 200 quartos originais deram origem a apenas 70. Menos quartos mas mais luxo e espaço. Após a remodelação, o Vidago Palace ganhou um novo conforto, tornando-se mais atrativo para os potenciais turistas. Perderam-se alguns detalhes antigos, como pinturas a óleo ou a antiga piscina, mas ganhou-se um novo e moderno spa e um campo de golfe com 18 buracos.
O parque envolvente foi também remodelado e foram construídas casas nas árvores que ganharam prémios e fama internacional. Vidago voltaria assim, com toda a justiça, à lista dos melhores destinos termais em toda a Europa. Cem anos depois da inauguração, o Vidago Palace renovou-se e desenvolveu diversas valências, como um spa termal com assinatura de Álvaro Siza Vieira, e um segundo ponto de encontro para amantes de golfe (além do campo já existente), agora situado no Club House, edifício de 1886 onde primeiro se fez o engarrafamento da água Vidago.