Muitos acreditam que Portugal nasceu em Guimarães, uma cidade repleta de história e orgulho, conhecida como o “Berço da Nação”. Mas será mesmo assim?
Embora seja praticamente consensual entre os historiadores que D. Afonso Henriques nasceu em Guimarães, a formação do reino de Portugal como entidade independente teve outro palco de destaque: Santa Maria da Feira.
Para compreender esta questão, é essencial recuar no tempo. O Castelo de Santa Maria da Feira, um dos mais impressionantes exemplos da arquitetura militar portuguesa, teve um papel crucial nos acontecimentos que moldaram a independência do país.
A sua história remonta a um antigo castro romano, posteriormente transformado em fortaleza durante a Reconquista Cristã. No século XI, era já uma estrutura de importância estratégica, tendo sido associada à nobreza portuguesa ao longo dos séculos.
Quando o Condado Portucalense foi entregue ao conde D. Henrique e à sua mulher, D. Teresa, em 1095, o Castelo da Feira destacava-se como uma das fortalezas mais relevantes da região, juntamente com as de Guimarães, Faria e Neiva.
No entanto, a morte do conde, em 1112, abriu caminho a um período de instabilidade. D. Teresa envolveu-se com o nobre galego Fernão Peres de Trava, o que gerou descontentamento entre os senhores do território.
Foi neste contexto que o jovem D. Afonso Henriques reuniu apoios e se preparou para enfrentar a sua própria mãe. A articulação política contra D. Teresa terá sido planeada, em grande parte, na região de Santa Maria da Feira, sob a liderança de Ermígio Moniz, um dos mais influentes senhores da época.
Este movimento culminou na Batalha de São Mamede, em 1128, travada em Guimarães, onde D. Afonso Henriques saiu vitorioso e deu o primeiro grande passo para a fundação de Portugal.
Dado o peso político e militar do Castelo da Feira na organização da revolta, alguns historiadores defendem que é ali, e não em Guimarães, que se encontra o verdadeiro berço da independência portuguesa.
A fortaleza, com as suas muralhas imponentes e estrutura defensiva singular, foi um dos bastiões onde se consolidaram as decisões que levariam à criação do reino.
Ao longo dos séculos, o Castelo da Feira manteve-se uma peça-chave na defesa e organização do território. No século XV, sofreu importantes remodelações sob o domínio de Fernão Pereira e do seu filho Rui Vaz Pereira, primeiro conde da Feira.
A sua impressionante arquitetura, que inclui uma imponente torre de menagem, muralhas ovaladas e diversas estruturas de defesa, continua a ser um testemunho vivo da sua relevância histórica.
No século XVII, foi erguido o Palácio dos Condes da Feira, mais tarde demolido, restando apenas algumas paredes e a escadaria. A vila viria a ser elevada a cidade em 1985, consolidando o seu papel na história nacional.
Afinal, onde nasceu Portugal?
A resposta depende da perspetiva adotada. Se considerarmos a origem de D. Afonso Henriques, Guimarães tem legitimidade para ser chamado “Berço de Portugal”.
No entanto, se nos focarmos no processo de independência, Santa Maria da Feira surge como um dos principais palcos onde foram tomadas decisões fundamentais.
Em última análise, ambos os locais desempenharam papéis essenciais na fundação do reino, contribuindo para a identidade de Portugal tal como a conhecemos hoje.