Todos nós sabemos que a Língua Portuguesa é uma das mais bonitas do mundo e prodigiosa na hora de recorrer a ela para escrever poemas bonitos. A poesia é uma das mais belas formas de arte e consegue expressar emoções e sentimentos que dificilmente poderíamos expressar de forma normal, por meras e simples palavras. Espalhada por 5 continentes, a Língua Portuguesa deu origem a alguns dos poetas mais talentosos do mundo.
Os países que mais contribuíram para a poesia em língua portuguesa foram, sem dúvida, Portugal e Brasil. Os poemas portugueses diferem um pouco dos poemas brasileiros embora, quando mais se recua no tempo, mais semelhantes eles são no seu estilo. Os autores portugueses sempre partilharam muitas semelhanças com os autores brasileiros e só nos últimos anos é que as diferenças entre os dois lados do oceano começaram a acentuar-se. A escolha é difícil mas aceitámos o desafio e apresentamos os 15 poemas mais bonitos escritos em português.
1. O Monstrengo – Fernando Pessoa
O mostrengo que está no fim do mar Na noite de breu ergueu-se a voar; A roda da nau voou três vezes, Voou três vezes a chiar, E disse: «Quem é que ousou entrar Nas minhas cavernas que não desvendo, Meus tectos negros do fim do mundo?» E o homem do leme disse, tremendo: «El-Rei D. João Segundo!» «De quem são as velas onde me roço? De quem as quilhas que vejo e ouço?» Disse o mostrengo, e rodou três vezes, Três vezes rodou imundo e grosso. «Quem vem poder o que só eu posso, Que moro onde nunca ninguém me visse E escorro os medos do mar sem fundo?» E o homem do leme tremeu, e disse: «El-Rei D. João Segundo!» Três vezes do leme as mãos ergueu, Três vezes ao leme as reprendeu, E disse no fim de tremer três vezes: «Aqui ao leme sou mais do que eu: Sou um povo que quer o mar que é teu; E mais que o mostrengo, que me a alma teme E roda nas trevas do fim do mundo, Manda a vontade, que me ata ao leme, De El-Rei D. João Segundo!»
2. Língua Portuguesa – Olavo Bilac
Última flor do Lácio, inculta e bela, És, a um tempo, esplendor e sepultura: Ouro nativo, que na ganga impura A bruta mina entre os cascalhos vela Amo-te assim, desconhecida e obscura Tuba de algo clangor, lira singela, Que tens o trom e o silvo da procela, E o arrolo da saudade e da ternura! Amo o teu viço agreste e o teu aroma De virgens selvas e de oceano largo! Amo-te, ó rude e doloroso idioma, Em que da voz materna ouvi: "meu filho!", E em que Camões chorou, no exílio amargo, O gênio sem ventura e o amor sem brilho
3. Quando – Sophia de Mello Breyner
Quando o meu corpo apodrecer e eu for morta Continuará o jardim, o céu e o mar, E como hoje igualmente hão-de bailar As quatro estações à minha porta. Outros em Abril passarão no pomar Em que eu tantas vezes passei, Haverá longos poentes sobre o mar, Outros amarão as coisas que eu amei. Será o mesmo brilho, a mesma festa, Será o mesmo jardim à minha porta, E os cabelos doirados da floresta, Como se eu não estivesse morta.
4. Mar português – Fernando Pessoa
Ó mar salgado, quanto do teu sal São lágrimas de Portugal! Por te cruzarmos, quantas mães choraram, Quantos filhos em vão rezaram! Quantas noivas ficaram por casar Para que fosses nosso, ó mar! Valeu a pena? Tudo vale a pena Se a alma não é pequena. Quem quer passar além do Bojador Tem que passar além da dor. Deus ao mar o perigo e o abismo deu, Mas nele é que espelhou o céu.
5. Amor é fogo que arde sem se ver – Camões
Amor é um fogo que arde sem se ver; É ferida que dói, e não se sente; É um contentamento descontente; É dor que desatina sem doer. É um não querer mais que bem querer; É um andar solitário entre a gente; É nunca contentar-se de contente; É um cuidar que ganha em se perder; É querer estar preso por vontade; É servir a quem vence, o vencedor; É ter com quem nos mata, lealdade. Mas como causar pode seu favor Nos corações humanos amizade, Se tão contrário a si é o mesmo Amor?
6. Amar – Florbela Espanca
Eu quero amar, amar perdidamente! Amar só por amar: Aqui… além… Mais Este e Aquele, o Outro e toda a gente Amar! Amar! E não amar ninguém! Recordar? Esquecer? Indiferente!… Prender ou desprender? É mal? É bem? Quem disser que se pode amar alguém Durante a vida inteira é porque mente! Há uma Primavera em cada vida: É preciso cantá-la assim florida, Pois se Deus nos deu voz, foi pra cantar! E se um dia hei-de ser pó, cinza e nada Que seja a minha noite uma alvorada, Que me saiba perder… pra me encontrar…
7. O Quinto Império – Fernando Pessoa
Triste de quem vive em casa, Contente com o seu lar, Sem que um sonho, no erguer de asa Faça até mais rubra a brasa Da lareira a abandonar! Triste de quem é feliz! Vive porque a vida dura. Nada na alma lhe diz Mais que a lição da raiz Ter por vida a sepultura. Eras sobre eras se somem No tempo que em eras vem. Ser descontente é ser homem. Que as forças cegas se domem Pela visão que a alma tem! E assim, passados os quatro Tempos do ser que sonhou, A terra será teatro Do dia claro, que no atro Da erma noite começou. Grécia, Roma, Cristandade, Europa-- os quatro se vão Para onde vai toda idade. Quem vem viver a verdade Que morreu D. Sebastião?
8. Soneto de fidelidade – Vinicius de Moraes
De tudo ao meu amor serei atento Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto Que mesmo em face do maior encanto Dele se encante mais meu pensamento. Quero vivê-lo em cada vão momento E em seu louvor hei de espalhar meu canto E rir meu riso e derramar meu pranto Ao seu pesar ou seu contentamento E assim, quando mais tarde me procure Quem sabe a morte, angústia de quem vive Quem sabe a solidão, fim de quem ama Eu possa me dizer do amor (que tive): Que não seja imortal, posto que é chama Mas que seja infinito enquanto dure.
9. Verdes são os campos – Camões
Verdes são os campos, De cor de limão: Assim são os olhos Do meu coração. Campo, que te estendes Com verdura bela; Ovelhas, que nela Vosso pasto tendes, De ervas vos mantendes Que traz o Verão, E eu das lembranças Do meu coração. Gados que pasceis Com contentamento, Vosso mantimento Não no entendereis; Isso que comeis Não são ervas, não: São graças dos olhos Do meu coração.
10. Poema 7 – Mário de Sá Carneiro
Eu não sou eu nem sou o outro, Sou qualquer coisa de intermédio: Pilar da ponte de tédio Que vai de mim para o Outro.
11. Nevoeiro – Fernando Pessoa
Nem rei nem lei, nem paz nem guerra, Define com perfil e ser Este fulgor baço da terra Que é Portugal a entristecer. Brilho sem luz e sem arder, Como o que o fogo fátuo encerra. Ninguém sabe que coisa quer. Ninguém conhece que alma tem, Nem o que é mal nem o que é bem. (Que ânsia distante perto chora?) Tudo é incerto e derradeiro. Tudo é disperso, nada é inteiro. Ó Portugal, hoje és nevoeiro... É a Hora!
12. Eu – Florbela Espanca
Eu sou a que no mundo anda perdida, Eu sou a que na vida não tem norte, Sou a irmã do Sonho, e desta sorte Sou a crucificada... a dolorida... Sombra de névoa ténue e esvaecida, E que o destino amargo, triste e forte, Impele brutalmente para a morte! Alma de luto sempre incompreendida! Sou aquela que passa e ninguém vê... Sou a que chamam triste sem o ser... Sou a que chora sem saber porquê... Sou talvez a visão que Alguém sonhou, Alguém que veio ao mundo pra me ver E que nunca na vida me encontrou!
13. Sei de um ninho – Miguel Torga
Sei um ninho. E o ninho tem um ovo. E o ovo, redondinho, Tem lá dentro um passarinho Novo. Mas escusam de me atentar: Nem o tiro, nem o ensino. Quero ser um bom menino E guardar Este segredo comigo. E ter depois um amigo Que faça o pino A voar…
14. Quando vier a Primavera – Alberto Caeiro
Quando vier a Primavera, Se eu já estiver morto, As flores florirão da mesma maneira E as árvores não serão menos verdes que na Primavera passada. A realidade não precisa de mim. Sinto uma alegria enorme Ao pensar que a minha morte não tem importância nenhuma Se soubesse que amanhã morria E a Primavera era depois de amanhã, Morreria contente, porque ela era depois de amanhã. Se esse é o seu tempo, quando havia ela de vir senão no seu tempo? Gosto que tudo seja real e que tudo esteja certo; E gosto porque assim seria, mesmo que eu não gostasse. Por isso, se morrer agora, morro contente, Porque tudo é real e tudo está certo. Podem rezar latim sobre o meu caixão, se quiserem. Se quiserem, podem dançar e cantar à roda dele. Não tenho preferências para quando já não puder ter preferências. O que for, quando for, é que será o que é.
15. Via Láctea – Olavo Bilac
“Ora (direis) ouvir estrelas! Certo Perdeste o senso!” E eu vos direi, no entanto, Que, para ouvi-las, muita vez desperto E abro as janelas, pálido de espanto… E conversamos toda a noite, enquanto A Via Láctea, como um pálio aberto, Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto, Inda as procuro pelo céu deserto. Direis agora: “Tresloucado amigo! Que conversas com elas? Que sentido Tem o que dizem, quando estão contigo?” E eu vos direi: “Amai para entendê-las! Pois só quem ama pode ter ouvido Capaz de ouvir e de entender estrelas.”
Está a faltar o título a vermelho “4. Mar português – Fernando Pessoa”
Obrigado pelo alerta, Francisco! Corrigido! :)
A divulgação do que se vai escrevendo em português é de louvar, pena é que não haja cuidado com o que se reproduz, perdendo-se parte da função! Não é “amo-se” mas, sim, “amo-te”. Não é “algo” mas, sim, “alto”. Para terminar, o poema de Olavo Bilac sendo um soneto deveriam ter dividido os versos em quartetos e tercetos.
Estes poemas são, de facto, bonitos, mas não se pode dizer que são os mais bonitos. Há muitos mais poemas que foram escritos por outros autores e que não ficam atrás destes aqui mencionados.
Eu penso que poemas e como tudo o resto!
Depende de quem os lê e sua cultura.
defacto é bonita poema. Mas não melhor do mundo ,atráz das onras dos autores existe muitas outras que meressem ser classificado por cimo das…
Que a poesia é necessária ninguém discute. Mais como qualquer idioma o Português é de uma riqueza ímpar. O que acho que falta descobrir trovas populares de uma profundidade digna das Academias, como esta que me fala ao sentimento mais profundo:- “A tua saudade corta como aço de “naváia”, o coração fica “afrito”, bate uma, outra “fáia”, e os “zóio” se enche d’água, que até as vistas se “atrapáia”. (Cuitelinho-cancioneiro popular).
vai fazer 8 anos que comecei a escrever romantismo, hoje já tenho a material para poder lançar um livro.
Mas realmente são muito lindos, gostei muito.
Très beaux poèmes. Admiro « Mar português ». Saludos do Québec.
são lindos os poemas obrigado