Ao longo dos séculos, o trono de Portugal foi sendo ocupado por monarcas que deixaram marcas profundas na história. Uns ficaram célebres pelas conquistas militares, pela capacidade de governar ou por grandes projetos culturais.
Outros, porém, tornaram-se famosos pela ineficácia, pelos escândalos ou pela falta de visão. Segue-se um olhar sobre alguns dos Reis mais relevantes — tanto pelos bons como pelos maus motivos.
Os Melhores Reis de Portugal
D. Afonso Henriques (1109-1185)
Conhecido como o Pai da Pátria, iniciou o percurso que levaria o Condado Portucalense à independência. Dotado de coragem e talento militar, enfrentou não só as forças muçulmanas como o próprio reino de Leão e Castela, alcançando o reconhecimento oficial do papado e do primo Afonso VII.
Para além de guerreiro, demonstrou astúcia política, rodeando-se de figuras influentes como S. Teotónio e Gualdim Pais. A sua longevidade foi também notável para a época, vivendo até aos 76 anos.
D. Dinis (1261-1325)
Chamado O Lavrador pelo seu empenho em valorizar a agricultura e povoar zonas despovoadas, foi mais administrador do que soldado. O Tratado de Alcanizes (1297) fixou a fronteira portuguesa, consagrando uma das mais antigas delimitações políticas da Europa.
Criou ainda o Estudo Geral, embrião da futura Universidade de Coimbra, e promoveu a língua portuguesa na documentação oficial. Protector das artes e das letras, compôs ele próprio cantigas e, segundo a tradição, mandou plantar o pinhal de Leiria, garantindo madeira para futuras construções navais.
D. João I (1357-1433)
Mestre de Avis, assumiu a coroa após a crise de 1383-1385, consolidando Portugal como reino independente e dando início à dinastia de Avis. Aclamado nas Cortes de Coimbra, venceu a Batalha de Aljubarrota e lançou as primeiras bases da expansão ultramarina ao conquistar Ceuta, em 1415.
O casamento com Filipa de Lencastre reforçou a aliança luso-britânica e gerou a chamada Ínclita Geração, que viria a liderar as grandes viagens marítimas no reinado seguinte.
D. João II (1455-1495)
Apelidado de Príncipe Perfeito, concentrou o poder ao suprimir a influência excessiva da alta nobreza, não hesitando em executar ou exilar quem ameaçasse a autoridade régia. Sob o seu comando, Bartolomeu Dias dobrou o Cabo da Boa Esperança (1488), alargando horizontes dos Descobrimentos.
Negociou ainda o Tratado de Tordesilhas (1494), assegurando para Portugal o direito a uma vasta zona de influência, incluindo as terras do Brasil. Nos últimos anos, foi abalado pela morte do seu filho legítimo e pela rejeição da legitimidade do bastardo D. Jorge.
D. João V (1689-1750)
O Magnânimo governou na época em que chegava ouro e diamantes do Brasil em grandes quantidades, graças ao imposto do quinto. Este afluxo de riqueza permitiu construir monumentos como o Palácio e Convento de Mafra, o Aqueduto das Águas Livres e a Biblioteca Joanina.
Católico devoto, enviou valiosas embaixadas a Roma e criou o Patriarcado de Lisboa. A sua vida privada foi, no entanto, marcada por inúmeros casos amorosos, incluindo relações com freiras, que lhe deixaram vários filhos ilegítimos.
D. Maria II (1819-1853)
Rainha constitucional, enfrentou um período conturbado marcado pelas lutas entre liberais e absolutistas. Foi proclamada soberana ainda criança, depois do pai, D. Pedro IV, ter abdicado a seu favor.
Depois de uma guerra civil, assumiu o trono aos 15 anos e passou a gerir as constantes rivalidades políticas, numa altura em que a Carta Constitucional conferia à monarca um poder moderador crucial. Chamaram-lhe A Educadora pela ênfase que deu à formação dos futuros príncipes. Morreu de parto aos 34 anos.
D. Carlos (1863-1908)
Rei num período de instabilidade, pretendia modernizar o país e rompeu com o rotativismo ao apoiar João Franco, que instaurou uma espécie de ditadura. Sucumbiu a uma forte contestação de sectores diversos, incluindo republicanos e monárquicos descontentes.
Foi assassinado no Terreiro do Paço, em 1908, juntamente com o filho mais velho, o príncipe D. Luís Filipe.
Os Piores Reis de Portugal
D. Afonso VI (1643-1683)
Marcado por graves problemas de saúde desde a infância, foi incapaz de governar eficazmente. Entregue à influência de figuras pouco recomendáveis, viu a própria mãe reconhecer que não tinha condições para reinar.
Acabou por ser deposto pelo irmão, D. Pedro, e viveu os anos seguintes enclausurado em Sintra e nos Açores.
D. Sancho II (1209-1248)
Rei sem grande capacidade de liderança, entrou em conflito com a Igreja e com parte da nobreza. O casamento com Mécia Lopes do Haro, aliado a uma governação pouco firme, abriu caminho a intrigas que resultaram na deposição a favor do irmão, D. Afonso III. Terminou os dias exilado em Toledo.
D. Sebastião (1554-1578)
Educado num ambiente dominado pela religiosidade e sem preparação prática, insistiu em liderar uma expedição militar a Marrocos, o que levou ao desastre de Alcácer-Quibir. Morreu nesse combate, deixando o país sem herdeiro direto.
O sebastianismo que se gerou após o seu desaparecimento revela a esperança num regresso miraculoso, mas também expõe os erros de um reinado que mergulhou Portugal numa crise sucessória profunda.