A história dos Ovos Moles tem origem conventual no século XVI. Terá sido no Convento de Jesus de Aveiro que este doce típico terá sido elaborado pela primeira vez. Enquanto que as claras dos ovos eram usadas para tarefas domésticas — para engomar a roupa, por exemplo —, às gemas não se sabia que uso dar. Até ao dia em que lhe juntaram o açúcar!
Sem açúcar, não haveria ovos moles. A história deste doce tão famoso no nosso país é também a história da produção de açúcar em Portugal. A cana de açúcar foi trazida para o nosso território pelos árabes no século VIII e depressa começámos a tentar plantá-la. No entanto, só após alguns séculos descobrimos o local ideal para o fazer: a ilha da Madeira. A partir daí a produção de açúcar tornou-se numa importante actividade económica.
Dessa produção, uma parte ia directamente para a casa real que, por sua vez, distribuía outra parte como esmola por várias instituições e conventos. Um desses conventos era o Mosteiro de Jesus de Aveiro. E já está a ver onde é que esta história vai dar, certo?
Doceiras prendadas, as freiras do convento rapidamente criaram um delicioso doce de ovos que, mais tarde, resultaria nos Ovos Moles de Aveiro. Fechado o templo, a receita perpetuou-se pela mão da empregada da última religiosa que ali habitou.
Os Ovos Moles são servidos em hóstia (obreia), por influência conventual, em formas que remetem para a cidade de Aveiro e a sua tradição piscatória e proximidade com o mar — os peixes, os búzios ou as conchas. Mas também são apresentados dentro de pequenas barricas pintadas à mão.
Desde a implantação da linha de caminho de ferro Porto-Lisboa que é tradicional a venda de ovos moles na paragem dos comboios da estação de Aveiro, por mulheres vestidas com trajes regionais. O doce é tradicionalmente comercializado em barricas de madeira pintadas exteriormente com barcos moliceiros e outros motivos da Ria de Aveiro. Também se apresenta em tacinhas de cerâmica e ainda envolvida em hóstia, moldada nas mais diversas formas de elementos marinhos, passados por uma calda de açúcar para os tornar opacos a dar mais consistência.
A genuinidade dos Ovos Moles de Aveiro foi reconhecida pela União Europeia que lhe atribuiu, e pela primeira vez a um produto português, a denominação de Indicação Geográfica Protegida.
Já Eça de Queiroz n’Os Maias fazia referencia aos Ovos Moles de Aveiro! E onde os comer? Bom, se estiver de visita a Aveiro, damos-lhe duas sugestões. A primeira é a incontornável Confeitaria Peixinho, a casa que há mais anos comercializa Ovos Moles na cidade. Fica bem no centro de Aveiro, a um minuto da Câmara Municipal e tem portas abertas há 160 anos.
Outras das referências aveirenses quando falamos deste doce é a Casa Maria da Apresentação da Cruz. No número 37 da Rua D. Jorge Lencastre, os Ovos Moles continuam a ser confeccionados da forma tradicional e segundo a receita da família. Por isso, e uma vez em Aveiro, não deixe de passar por lá para levar uma (ou mais!) caixinhas para casa.
Na capital, esta iguaria também tem lugar de destaque — A Casa dos Ovos Moles em Lisboa. Em hóstia ou nas barricas decoradas a rigor, os Ovos Moles fazem parte de uma lista de doces conventuais que aqui são servidos com toda a tradição e onde os ovos são reis. Fidalgo, Trouxas de Ovos, Celestes ou Toucinho do Céu acompanhados por uma Ginjinha, um Vinho do Porto ou um Moscatel.
Acreditamos que tenha ficado com água na boca portanto a solução será mesmo dar um saltinho à Casa dos Ovos Moles em Lisboa. A casa mãe fica na Calçada da Estrela e ainda há uma outra no Mercado de Campo de Ourique. E como fazer ovos moles? É só espreitar a receita já a seguir…
Ovos moles
Ingredientes
- 8 gemas
- 150 gr açúcar
- 150 ml água
Preparação
- Comece por colocar a água e o açúcar num tacho.
- Deixe cozinhar até atingir o chamado "ponto de estrada" (quando passa a colher no fundo do tacho consegue ver o fundo, como se tratasse de uma estrada).
- Deixe arrefecer o preparado anterior.
- Coloque as gemas batidas numa panela e cozinhe-as em lume brando. De seguida, vá acrescentando a mistura do açúcar aos poucos e mexa sempre.
- Quando a mistura ficar mais espessa, retire do lume.
- Para fazer os ovos moles de Aveiro pode usar formas pré-feitas de hóstia.
- Preencha cada metade da forma de hóstia e depois use uma clara de ovo como cola para unir as duas partes das hóstias.
- A seguir use uma tesoura para recortar as formas.
- Repita várias vezes para fazer a quantidade de ovos moles que pretende.
Dicas
- A quantidade de água deve ser sempre semelhante à quantidade de açúcar. No entanto, algumas pessoas preferem colocar mais açúcar. Se preferir ovos moles mais doces, pode utilizar até o dobro do açúcar. Mas vão ficar bem mais calóricos! :)
- Em vez de utilizar o “ponto de estrada”, pode utilizar o “ponto de pérola”. Neste caso, a água e o açúcar devem ser fervidos até que formem uma calda espessa que cai em gotas (que fazem lembrar pérolas).
- Quando cozinhar as gemas, é muito importante fazê-lo em lume brando (a temperatura ideal é de 60 ºC). Isto fará com que o preparado não coagule. Acima de tudo, tenha muito cuidado para nunca deixar ferver.
- Se preferir medir as quantidades através de colheres de sopa, o geral, para cada gema, deve colocar 1 colher de sopa de açúcar e outra de água. Ajuste as quantidades com base no número de gemas utilizadas.
Gostava de ter mais ementas da cozinha tradicional portuguesa, obrigado, Venezuela.
Mário Maia
Caros amigos,
Estou interessado em receber mais ementas de cozinha tradicional portuguesa. Manter a nossa cultura, é passar a tradição de geração em geração.
Um grande abraço e até sempre.
Alberto
Amei!!!!!!!!!!!!!!!
Que maravilha um Moliceiro de ovos ! E agora, com a receita … Em casa não faltará mais esse “pecadinho” de Felicidade que minha filha me trouxe de Portugal !(Bruxelas- Agosto 2019) as Estelas /mãe & filha