A história de Portugal tem vindo a ser construída ao longo do tempo, tendo sido dado um grande ênfase ao papel dos homens nesta. Foram muitas as mulheres que mereciam ter tido maior destaque, mas numa sociedade machista, muitas dessas personagens tiveram um papel de menor relevo, mesmo que a realidade tenha sido outra.
Apesar de tudo, existem alguns episódios que servem de exceção, e que nos revelam mulheres valentes, inteligentes e com caráter. Uma dessas personagens foi precisamente Brites de Almeida, a padeira de Aljubarrota.
A sua figura revelou-se a de uma heroína, e os seus feitos acabaram por tornar-se lendários, tendo sido celebrados pelo povo ao longo dos tempos, especialmente através de diversas canções e histórias tradicionais, que criaram toda uma narrativa em torno desta mulher.
O seu nome encontra-se principalmente associado à importante vitória dos portugueses na Batalha de Aljubarrota, em 1385, na qual as forças castelhanas foram derrotadas. A lenda conta-nos que Brites de Almeida usou a sua pá de padeira e o seu forno para assim matar 7 castelhanos, que se encontravam escondidos.
Existe também toda uma lenda associada à história da sua vida. Essa narrativa conta-nos que Brites de Almeida nasceu em Faro, no seio de uma família pobre e humilde, e que já desde criança gostava de andar à pancada e vagabundear, em vez de ajudar os pais na taberna, único sustento da família.
Diz-se que ela era uma mulher forte, não se enquadrando nos padrões femininos da época. Aos 20 anos, terá ficado órfã e, portanto, vendeu os poucos bens que herdou dos pais e meteu-se a caminho, recorrendo às suas caraterísticas físicas singulares para se ir destacando. Esta invulgar mulher aprendeu a manejar a espada e o pau, mostrando uma grande mestria, o que lhe granjeou fama de valente.
Outra história associada a esta figura diz-nos que um soldado se encantou com ela, e que a pediu em casamento. Como ela não estava interessada em perder a sua independência, impôs ao homem a condição de que lutassem antes de ela aceitar. Ora, o soldado ficou ferido de morte, e Brites de Almeida, com medo da justiça, fugiu para Castela de barco.
Mas o barco onde ela seguia foi capturado por piratas mouros e, portanto, Brites de Almeida foi vendida como escrava a um poderoso senhor da Mauritânia. Ela acabou por conseguir voltar para o nosso país, com a ajuda de outros dois escravos portugueses, escapando numa embarcação que acabou por atracar na praia da Ericeira, graças a uma tempestade.
A valente mulher cortou os cabelos e disfarçou-se de homem, já que ainda era procurada pela justiça, e tornou-se almocreve. Mais tarde, cansada daquela vida exigente, aceitou trabalho como padeira em Aljubarrota e, vivendo já enquanto mulher, casou-se com um honesto lavrador.
Assim, quando se deu a célebre Batalha de Aljubarrota, ela encontrava-se nesta vila, tendo-se tornado num nome marcante desta batalha, especialmente em relação ao imaginário popular. Brites pegou na sua pá e juntou-se ao exército português, ajudando a derrotar os castelhanos. Chegou a casa cansada, mas satisfeita.
No entanto, assim que chegou, ouviu um barulho estranho no forno e, abrindo-o, encontrou lá dentro sete castelhanos escondidos. Mulher sem medos, pegou na sua pá e matou-os ali mesmo.
O episódio ajudou-a a perceber que haveriam certamente outros castelhanos escondidos nas redondezas e, portanto, liderou um grupo de mulheres, que perseguia e encontrava os fugitivos castelhanos que ainda se encontravam na área.
Diz-se que esta valente mulher viveu o resto dos seus dias em paz, junto do lavrador com quem casara, e orgulhosa dos feitos heróicos que fizeram com que o seu nome ficasse inscrito na história. Quanto à sua pá, ficou religiosamente guardada no imaginário das pessoas, tendo-se tornado um símbolo de Aljubarrota por muitos séculos.
A sua suposta pá ainda hoje parte da procissão de 14 de agosto. Assim, Brites de Almeida ainda é recordada como um exemplo de uma mulher que se evidencia e não perde a coragem, mesmo perante circunstâncias menos favoráveis.