Escolher o jardim mais bonito de Portugal não é tarefa fácil, e poderá depender muito dos gostos de cada pessoa. Afinal, como não escolher o Parque da Pena, em Sintra, o Parque de Serralves, no Porto, os jardins do Buçaco, ou a Mata dos Sete Montes, em Tomar? Todos estes sítios são encantadores e diferentes, é verdade, mas há um jardim que se destaca dos demais, nos Açores, na encantadora ilha de São Miguel. Falamos do Parque Terra Nostra.
No vale das Furnas (que não é um vale, mas sim uma cratera com 7 km de diâmetro, memória de um vulcão há muito inativo) encontra-se um jardim há mais de 200 anos. O vale foi inicialmente ignorado pelos primeiros povoadores, mas começou a ganhar popularidade no final do século XVIII, graças ao crescente interesse no uso de águas minerais para tratamento de doenças como a obesidade e o romantismo.
As Furnas têm centenas de pequenas nascentes e cursos de água, cada uma com diferentes propriedades. No centro desta magnífica hidrópole, encontra-se o Parque Terra Nostra.
Por volta de 1775, o Cônsul Honorário dos Estados Unidos em São Miguel, Thomas Hickling, mandou construir uma casa de madeira no local, bem como um tanque de água com uma ilha no meio, e rodeou tudo de árvores. O local tomou o nome de Yankee Hall. Ainda hoje se pode ver um carvalho inglês que foi plantado por Hickling.
Em 1848, a propriedade foi comprada pelo Visconde da Praia, que construiu a atual Casa do Parque em 1854, no local onde antes estava o Yankee Hall. Como a Viscondessa se interessava por jardinagem, o casal aumentou os 2 hectares originais com a plantação de um belo jardim com água, tabuleiros de flores e alamedas sombrias. Existe no jardim um memorial em homenagem ao Visconde e Viscondessa da Praia, erigido pelo seu filho em 1896.
Após a morte do Visconde, em 1872, o seu filho, o Marquês da Praia e Monforte, embelezou a casa e o jardim, onde se construiu um canal serpentiforme, grutas, avenidas de buxo e caminhos ladeados de laranjeiras.
O início deste século é marcado pela visita régia à Casa do Parque. A convite do Marquês de Praia e Monforte, o rei D. Carlos I é recebido, em junho de 1901, com uma festa em sua honra. D. Carlos ficou uma noite na Casa do Parque. Após a morte dos viscondes da praia, o Parque Terra Nostra ficou ao abandono, e nos anos 20 do século passado, encontrava-se já num estado de degradação acentuado.
O Hotel Terra Nostra abriu em 1985, num terreno adjacente ao parque e, alguns anos mais tarde, toda a propriedade foi adquirida pela Sociedade Terra Nostra, sob a direção de Vasco Bensaúde, um apaixonado pela botânica, responsável pela vinda do jardineiro escocês John McInroy, que supervisionou a restauração do Parque Terra Nostra. Nessa altura, acrescentou-se mais uma porção de terreno e o parque ganhou a sua atual área de 12,5 ha.
No Parque Terra Nostra encontra não só flora endémica dos Açores, mas também inúmeras plantas nativas de países com climas distintos do existente nas Furnas. A adaptação é possível graças à experiência partilhada pela equipa de jardineiros do parque, que consegue adaptar as condições existentes à realidade dos países de onde as plantas são originárias, tudo da forma mais ecológica possível.
O parque tem vindo a enriquecer ainda mais o património botânico, com a aquisição de novas espécies vegetais, nas últimas duas décadas. É graças a esta preocupação em enriquecer a flora existente no local que hoje o parque tem grandes coleções e jardins com plantas de importante valor histórico e cultural.
Não podemos deixar de referir a coleção de Fetos, com cerca de 300 exemplares de diferentes espécies, variedades e cultivares; a coleção de Cycadales, com 85 exemplares de diferentes espécies e subespécies (uma das maiores da Europa); a coleção de camélias, com mais de 600 exemplares (e uma das mais notáveis do mundo); o jardim da Flora Endémica e Nativa dos Açores; e o jardim de Vireyas – Rhododendrons da Malásia, com exemplares de diversas cores.
O mais recente jardim do parque, construído em 2010, é o das Bromeliáceas. Com toda esta dedicação. Não é de admirar que, em 2010, tenha sido possível observar a nenúfar Victoria Cruziana neste parque, tornando-se um dos únicos jardins em Portugal a possuir esta planta ao ar livre.
Toda esta grandiosidade e beleza deve-se sobretudo à ação constante e dinâmica da família proprietária, que tem uma enorme preocupação e ensejo em preservar a majestade e beleza deste parque, parte integrante do património da história da ilha e ponto de paragem obrigatório no roteiro turístico dos Açores.