É algo discutível considerar a Pateira de Fermentelos o maior lago natural da Península Ibérica, porque vários outros lhe fazem frente. Mas a verdade é que este é o maior lago de Portugal (se descontarmos os lagos artificiais) e, dada a sua dimensão, é um local de grande influência na região do Baixo-Vouga, pela forma como molda o clima, pela ordem que impõe às povoações locais, especialmente na agricultura, e pela maneira como preserva um recanto de biodiversidade muito particular.
Também chamada de Pateira de Espinhel, esta foi em tempos uma reentrância do Atlântico pelo continente, numa altura em que aqui desaguavam o Vouga, o Águeda e o Cértima.
O nome pateira é um termo arcaico para lago, e faz também referência à abundância de patos. Hoje, o local é abastecido pelo Cértima e pela corrente da ribeira do Pano, assim como por alguns lençóis de água por baixo do solo. O lago já devia existir na Idade Média, até porque se diz que D. Manuel I por aqui caçava, o que corresponde a finais do século XV e inícios do século XVI.
A Pateira de Fermentelos ocupa 3 concelhos da Beira Litoral, o município de Águeda, o de Oliveira do Bairro e o de Aveiro, embora seja Águeda quem tem mais área sobre o seu domínio.
O lago tem a forma de uma bota, como acontece com a Península Itálica, e está circundado de pequenas elevações, que não ultrapassam os cem metros de altitude. O local faz parte da Rede Natura 2000 e é uma Zona Húmida de Importância Internacional.
Em termos de fauna, podemos destacar o pato, sobretudo o pato-real. Mas aqui poderá encontrar aves como garças, petinhas, águias, milhafres, guarda-rios, maçaricos e galinhas-de-água.
No que toca aos mamíferos, pode encontrar lontras, toupeiras-de-água, rãs ibéricas, javalis, coelhos, raposas e ouriços. Por fim, não podemos deixar de referir alguns habitantes destas águas, como a perca, o bordalo, o sável, as enguias, tainhas, carpas e o barbo-do-norte.
No que toca à vegetação, a lagoa é dominada por vegetação típica de sítios húmidos, com canas, nenúfares e bunhos a destacarem-se. No que toca a árvores e arbustos, irá encontrar sabugueiros, freixos, amieiros, choupos e eucaliptos.
Pela negativa, podemos destacar o jacinto-de-água, planta invasora que já não se dissocia da Pateira. Esta planta, que à primeira vista parece encantadora, já chegou a ocupar metade da área total do lago.
O jacinto-de-água esconde o sol da fauna que está por baixo de si, comprometendo os ecossistemas, bloqueia os canais de água da agricultura e torna as águas da lagoa inavegáveis.
A grande luta dos municípios encarregados da requalificação da Pateira tem sido precisamente esta planta, assim como contra a pinheirinha-d’água (esta última em menor grau), usando-se para isso uma máquina específica chamada pato-bravo.
Mesmo assim, o local presta-se a uma visita demorada, para que possa descobrir o melhor desta região com tempo. Percorrendo alguns dos percursos já delineados (como o Trilho dos Poços e o da Pateira ao Águeda), é possível observar toda a dimensão deste lago.
Poderá também observar particularidades, como as bateiras (lanchas tradicionais achatadas) e as bacas (bicicletas aquáticas parecidas às gaivotas). Além disso, poderá praticar atividades como a canoagem e a vela, para além de dar passeios a cavalo ou de bicicleta.
Destacamos também o Parque de Espinhel, onde encontra dois coretos com uma posição privilegiada sobre o lago e que nos convida a relaxar e observar a envolvente natural. Por fim, não deixe de visitar a bonita igreja matriz de Óis da Ribeira, no lado norte da Pateira de Fermentelos.