A praia da Adraga é sem dúvida uma das mais bonitas da região de Sintra e, portanto, não admira que tenha sido classificada como uma das 20 melhores praias europeias de 2003, segundo a opinião dos leitores e jornalistas do The Sunday Times. Para esta classificação, contribuiu a beleza envolvente, na qual se destaca um rochedo em forma de arco, que mergulha no mar, as falésias e a gruta.
Na maré baixa, é possível passar-se para a praia do Cavalo e, subindo a falésia, pode-se admirar o Fojo, uma cratera natural, ou a Pedra de Alvidrar, um ponto de visita obrigatório pela sua beleza. Esta pedra, embora de difícil acesso, é um paraíso para os pescadores mais destemidos. O local tem uma longa história associada, o que lhe dá uma mística especial que complementa a beleza da paisagem e lhe trazem uma aura diferente.
No tempo dos romanos, foi local de julgamentos, de onde se atiravam os acusados: se sobrevivessem, eram inocentes; se não, eram mesmo culpados. Séculos mais tarde, era costume oferecer aos turistas o triste espetáculo de, a troco de uns magros cobres, ver homens e rapazes a subir e descer essa rocha enorme, arriscando a vida para gáudio dos que assistiam.
Francisco de Almeida Jordão, escritor e formado em cânones pela Universidade de Coimbra, escreve no livro “Relação do castelo e serra de Sintra e do que há que ver de raro em todo ele”, de 1748, referindo-se à Pedra de Alvidrar: «É toda escabrosa em declive até ao mar, de uma altura imensa, que foge o lume dos olhos quando se olha para baixo. Há homens tão bárbaros, que descem e sobem por ela descalços, que parece impossível, por um pequeno prémio».
Não pode também deixar de conhecer o Fojo, um poço natural muito profundo que, na sua base, se comunica com o mar. Esta gruta resulta da ação corrosiva das águas da chuva, conjugada com a ação do mar, o que originou um labirinto de grutas, cavernas e enormes fendas.
Diz-se que os romanos acreditavam que existia um Tritão a tocar búzio no fundo do buraco do Fojo (que tem cerca de 90 metros). Tratava-se, na realidade, do ruído causado pelas ondas, mas chegou-se a enviar uma embaixada ao Imperador Tibério (entre o ano 14 e 34 d.C) para relatar este fenómeno.
Mas nem só de Tritões se fazem os mitos deste local único. Diz a lenda que, há muitos séculos atrás, o deus Vulcano, sinistro e perverso, jurou vingar-se de uma princesa, formosa e espelho de virtudes. Isto porque Vulcano pretendia casar-se com ela, que já tinha prometido a sua mão a outro. Pouco satisfeito com isso, o deus procurou saber quem era o noivo, e ficou furioso quando descobriu que ele era o seu próprio sobrinho, filho primogénito da sua irmã.
Acorreu de imediato a casa da irmã Zipa, e queixou-se do seu desespero. Esta procurou convencê-lo a deixar os jovens seguirem a sua vida, porque o casamento tinha tudo para correr de feição a ambos. Vulcano, portanto, não tinha nada que se opor, até porque a casta princesa merecia um jovem como ela.
Mas Vulcano não acatou os conselhos prudentes da irmã, e organizou uma fortíssima expedição, que se dirigiu para as terras da princesa Al-vidrar e do seu sobrinho Foje.
Zipa ainda veio ao seu encontro, mas nada deteve a fúria de Vulcano. Daquela cruenta batalha, apenas restam os corpos carbonizados dos namorados, aos quais chamamos hoje Pedra de Alvidrar e Fojo.
Se quiser aproveitar e conhecer um pouco mais sobre os arredores do local onde se encontra a Pedra de Alvidrar, saiba que existe muitos pontos de interesse a poucos minutos de distância. O grande destaque vai para as praias da Adraga e da Ursa. E se quiser ter uma vista privilegiada sobre toda a região, pode optar por visitar o Cabo da Roca.
O Parque Natural de Sintra Cascais é perto e possui diversos pontos de interesse: o santuário da Peninha é um deles. Mas visitar esta região sem ir a Sintra ver os seus palácios, é quase irracional. Aproveite e visite o Palácio da Pena e o seu parque, o Palácio de Monserrate e a Quinta da Regaleira, só para dar alguns exemplos.