Nos Estados Unidos da América, ficou conhecido como “O Gigante da Virgínia”, “o Gigante da Revolução” e até pelo nome de “Hércules da Virgínia”. Falamos de um jovem órfão chamado Francisco, de origem portuguesa, que lutou ao lado de George Washington e do Marquês de Lafayette, sofrendo inúmeros ferimentos no combate pela independência da sua pátria de adoção. Francisco ainda hoje é celebrado pela comunidade portuguesa de New Bedford, no Massachussets, a 15 de março.
A sua biografia não é muito clara e está cercada por uma aura de lenda, atribuindo-se-lhe feitos extraordinários. De origens obscuras, sabe-se que foi encontrado em tenra idade (provavelmente, com cinco anos) numa tarde de junho de 1766 a chorar nas docas de City Point, na Virgínia.
Não falava inglês, percebendo-se que falava uma língua semelhante ao castelhano, e não tinha nada que o identificasse, apesar de ter roupas de boa qualidade e se lerem na fivela do cinto as iniciais “P.F”.
Eventualmente, foi capaz de contar a sua história, afirmando que se encontrava a brincar com a irmã pequena num “local lindo com palmeiras”, quando dois homens apareceram para os apanhar. A irmã conseguiu libertar-se, mas não ele, tendo sido levado para um grande navio que o levou a City Point.
Relativamente às suas origens, o investigador John E. Manahan identificou nos registos de nascimentos na Ilha Terceira, nos Açores, a existência de um Pedro Francisco, nascido em Porto Judeu a 9 de julho de 1760.
Francisco acabaria por ser acolhido pelo juiz Anthony Winston, de Buckingham County, na Virgínia. Quando atingiu a idade de trabalhar, foi instruído como ferreiro, devido à sua enorme força e tamanho (parece que ultrapassou os 1,98 metros e pesava cerca de 120 kg). O escritor Samuel Sheperd, que o viu no trabalho, escreveu acerca do jovem:
“Os seus ombros são como os de uma antiga estátua, como uma figura da imaginação de Miguel Ângelo, como o seu Moisés mas não como David. A sua queixada é longa, forte, o nariz imponente, a inclinação da testa parcialmente ocultada pelo seu cabelo negro de aspeto desgrenhado. A sua voz era suave, surpreendendo-me, como que se um touro ganisse.”
Aos 16 anos, e com os rumores de secessão a alastrarem-se entre a população, Francisco alistou-se no 10º Regimento da Virgínia. Estava presente quando Patrick Henry fez o seu famoso discurso “Liberdade ou Morte”, junto à igreja de St. John, em Richmond. Em setembro de 1777, serviu sob as ordens do general George Washington em Brandywine Creek, onde os colonos tentaram deter o avanço de 12.500 soldados britânicos que avançavam em direção a Filadélfia.
Não se sabe se foi nessa batalha que Francisco salvou a vida de Washington, embora se saiba que o jovem foi aqui alvejado. Segundo alguns relatos, ele tornou-se o guarda-costas pessoal do general. Para outros, Francisco era apenas um soldado vigoroso e agressivo que lutou ao lado de Washington.
O que se sabe com certeza é que Washington ordenou a confeção de uma espada adequada ao tamanho de Francisco, sendo que esta espada, com 6 pés de comprimento, terá aterrorizado os britânicos. Segundo Washington, escrevendo acerca de Francisco, “Sem ele teríamos perdido duas batalhas cruciais, provavelmente a guerra e, com ela, a nossa liberdade. Ele era verdadeiramente um Exército de um Homem Só.“
Francisco serviu nesta comissão por três anos, tendo, no final desse tempo, se realistado e combatido numa das maiores derrotas dos colonos no conflito, na batalha de Camden, a 16 de agosto de 1780. Aí, terá realizado um dos seus feitos mais célebres, quando, após os colonos se terem retirado do combate diante dos britânicos e deixaram para trás uma peça de artilharia com aproximadamente 1000 libras.
Afirma-se que Francisco a colocou às costas e a transportou, para que não caísse em mãos inimigas. Em homenagem a esse ato, os correios dos Estados Unidos emitiram em 1974 um selo comemorativo. Em pouco tempo, as histórias e feitos de Francisco espalharam a sua bravura e o seu vigor, tendo sido divulgadas em jornais e romances da época, incentivando a resistência entre as forças dos colonos.