Diz-nos um olhar desatento que Peroguarda não tem nada que ver, para além da igreja de Santa Margarida. Mas aqui, a beleza não é só o que nos está diante dos olhos, mas sim as histórias desta comunidade, as canções dos homens e mulheres do cante, as lendas e a alma de Giacometti, que perdura neste povo. Afinal, não é por acaso que esta é considerada a aldeia mais alentejana de Portugal.
Esta designação surgiu no tempo do Estado Novo, quando o regime decidiu eleger a “Aldeia mais portuguesa de Portugal”. O concurso concedeu o título a Monsanto e as restantes concorrentes caíram no esquecimento. Na época, o regulamento estipulava que cada província podia levar a concurso 2 aldeias.
Pelo Alto Alentejo, concorreram as aldeias de Nossa Senhora da Orada e São Bartolomeu do Outeiro. Pelo Baixo Alentejo, coube a honra às aldeias de Peroguarda e Salvada. Ora… Peroguarda não ganhou o concurso, mas obteve a melhor classificação entre as aldeias alentejanas. Daí o título de aldeia mais alentejana de Portugal.
Existe uma lenda associada à fundação da aldeia, que nos diz que a localidade se chamava antes Pero Guarda, nome de um homem abastado que construiu umas quantas casas em torno de uma oliveira, perto do local onde hoje é o adro da aldeia.
Uma noite, o pobre homem foi atacado por um lobo, que acabou por o matar. Ainda assim, antes da morte, o homem exclamou: “Fiz Peroguarda e Alfundão, todos vivam como eu vivi, e ninguém morra como eu morri…”. As casas que foram fundadas por Pero Guarda seriam o início do que é hoje a aldeia. Quanto a Alfundão, a outra terra mencionada na lenda, faz parte da mesma freguesia que Peroguarda.
A aldeia de Peroguarda sofre do mesmo mal que praticamente todo o Baixo Alentejo: a seca climática e a seca demográfica. Aqui a água é pouca, apesar de existirem depósitos relativamente próximos, como a Barragem do Pisão. Além disso, a gente escasseia, e a que fica para trás está envelhecida.
No século XX, ainda existia aqui trabalho, apesar de este ser árduo e mal pago. Na atualidade, fugiram todos os jovens do campo, para as fábricas, para a capital ou para o estrangeiro. Apesar disso, ainda há aqui bom cereal a ser semeado e colhido.
Aqui o casario não podia ser mais regional, rico em casa rasas e alvas, com rodapés azuis e amarelos, e com a telha alaranjada a complementar o conjunto. As moradias amontoam-se num curto aglomerado humano, que é denso e concentrado.
O único local mais desviado é o isolado cemitério, onde Giacometti tem o seu eterno descanso, até porque foi aqui que ele fez parte das suas recolhas, hoje eternizadas no cancioneiro nacional. Afinal, Peroguarda sempre se destacou pela sua cultura, com o Cante Alentejano a ser a mais íntima expressão desta aldeia, como se fosse uma segunda língua.
Estas polifonias, com vozes masculinas e femininas de sotaque carregado, saem cá para fora nos principais momentos festivos, como a antiga festa de Santa Margarida e o moderno Festival Giacometti.
Talvez porque Peroguarda compila todas as características de uma só província num curto espaço, a propaganda do antigo regime levou a localidade ao concurso para a “aldeia mais portuguesa de Portugal”, enquanto representante do Alentejo. O título acabou por ir para Monsanto, mas isso não impediu que Peroguarda ficasse com a reputação de aldeia mais alentejana de Portugal.
Peroguarda encontra-se em Ferreira do Alentejo que tem muito para descobrir. Sugerimos que parta à descoberta da Capela do Calvário, símbolo maior desta vila, assim como da igreja da Senhora da Conceição, da Igreja Matriz e do Museu Municipal.
Terra de azeite e vinho, poderá descobrir mais sobre estas culturas no Lagar do Marmelo e na Herdade do Vale da Rosa. Por fim, quanto a maravilhas naturais, não pode deixar de conhecer a Lagoa dos Patos, que se encontra bem perto da Albufeira da Ribeira de Odivelas.