Os Açores são um arquipélago português no meio do Atlântico, conhecido pela sua beleza natural e pela sua rica cultura. Mas será que escondem também um segredo milenar? Há quem acredite que sim, e que as pirâmides nos Açores são a prova disso. Mas nem tudo é o que parece e são muito mais as dúvidas do que as certezas.
As pirâmides nos Açores são estruturas de pedra que se assemelham a pirâmides egípcias ou maias, mas com dimensões menores. Algumas estão localizadas na ilha do Pico, outras estão submersas no oceano, entre as ilhas São Miguel e Terceira. Mas quem as construiu? E com que propósito?
Neste artigo, vamos tentar responder a estas perguntas, analisando as evidências e as teorias existentes sobre as pirâmides nos Açores. Serão elas mito ou realidade?
As pirâmides terrestres da ilha do Pico
As pirâmides terrestres da ilha do Pico foram descobertas em 2013 por dois arqueólogos da Associação Portuguesa de Investigação Arqueológica (APIA), Nuno Ribeiro e Anabela Joaquinito. Eles realizaram sondagens arqueológicas nas estruturas e encontraram artefatos como anzóis, pontas de metal, ossos, conchas, pesos de redes de pesca, utensílios de basalto, carvões e fragmentos de cerâmica.
Segundo os arqueólogos, alguns destes artefactos são anteriores à descoberta dos Açores pelos portugueses em 1427, o que sugere que as pirâmides teriam sido construídas por uma civilização pré-portuguesa que teria navegado até ao arquipélago. No entanto, esta hipótese ainda não foi confirmada por datações científicas.
As pirâmides terrestres da ilha do Pico têm características arquitetónicas peculiares, como degraus, pináculos e pisos circulares. Algumas têm câmaras no seu interior, com corredores estreitos e longos. A maioria está orientada no sentido sudeste/noroeste, o que pode indicar uma relação com o vulcão da ilha do Pico e com o solstício de verão.
Os arqueólogos da APIA acreditam que as pirâmides teriam funções astronómicas e rituais funerários, mas também admitem que possam ter sido usadas para limpar os solos e fazer agricultura. Esta última explicação é a mais aceite pela população local, que chama às estruturas de maroiços.
A pirâmide submersa entre São Miguel e Terceira
A pirâmide submersa entre São Miguel e Terceira foi descoberta em 2012 por um velejador português chamado Diocleciano Silva. Estava a navegar na zona quando os seus aparelhos detetaram uma anomalia no fundo do mar. Ao verificar as imagens captadas pelo sonar, ficou surpreendido ao ver uma forma piramidal com cerca de 60 metros de altura e 8 mil metros quadrados de base.
Diocleciano Silva divulgou as suas descobertas na internet e gerou uma grande polémica. Alguns especularam que a pirâmide seria uma obra da Atlântida, a lendária civilização perdida que Platão situou no Atlântico. Outros sugeriram que seria uma construção dos fenícios, dos cartagineses ou dos templários. E houve ainda quem defendesse que seria apenas uma formação geológica natural.
A verdade é que até hoje não há nenhuma confirmação oficial sobre a origem e a natureza da pirâmide submersa entre São Miguel e Terceira. O Governo Regional dos Açores não autorizou nenhuma investigação científica no local, alegando que não há recursos nem prioridade para tal. Assim, a pirâmide continua a ser um enigma que desafia a imaginação e a curiosidade de muitos.
Os maroiços dos Açores
Os maroiços dos Açores são montes de pedras que resultam da limpeza dos terrenos agrícolas. São uma prática tradicional que remonta aos séculos XVII a XIX, e que ainda hoje se mantém em algumas zonas do arquipélago. Os maroiços servem para melhorar a fertilidade do solo, evitar a erosão e criar abrigos para os animais.
Os maroiços têm formas e tamanhos variados, mas alguns assemelham-se a pirâmides. Estes são os que têm gerado mais controvérsia, pois há quem defenda que eles sejam anteriores à colonização portuguesa e que tenham um significado mais profundo. No entanto, não há nenhuma prova concreta que sustente esta teoria.
São um exemplo da adaptação do homem ao meio ambiente e da sua relação com a natureza. São também um elemento da paisagem cultural e da identidade açoriana, que merece ser preservado e valorizado.
Ok, vou acrescentar uma secção sobre possíveis evidências de que os Açores já seriam habitados antes da chegada dos portugueses. Aqui está:
Os Açores já seriam habitados antes da chegada dos portugueses?
As pirâmides nos Açores não são as únicas evidências que sugerem que o arquipélago já teria sido visitado ou habitado por povos antigos, antes da chegada dos portugueses no século XV. Há outras descobertas arqueológicas e científicas que apoiam esta hipótese, tais como:
- Um estudo internacional, publicado na revista PNAS em 2021, que analisou sedimentos de lagos das ilhas de São Miguel, Pico, Terceira, Flores e Corvo. O estudo detetou a presença de esteróis fecais, que são indicadores da atividade humana e de grandes mamíferos. A datação destes sedimentos revelou que a primeira presença humana nos Açores teria ocorrido 700 anos antes dos portugueses.
- Uma base em pedra com uma inscrição que parece da época romana, encontrada na zona da Grota do Medo, na ilha Terceira. O investigador espanhol António Colmenero defende que a inscrição tem referências ao imperador romano Marco Opelio Macrino, nascido na Mauritânia.
- Um conjunto de construções megalíticas na Grota do Medo, na ilha Terceira, com antas, restos de torres e outras estruturas. Numa pia esculpida numa rocha foi recolhida matéria orgânica que foi datada com 950 anos de idade por um laboratório americano.
- Uma necrópole escavada na rocha na zona das Lages, na ilha Terceira, com sete metros de altura e 178 nichos dispostos de forma semicircular. A estrutura tem semelhanças com os columbários romanos, que serviam para guardar as cinzas dos mortos.
Estas evidências ainda não são conclusivas e precisam de mais investigação e confirmação científica. No entanto, elas abrem a possibilidade de que os Açores já fossem conhecidos e frequentados por navegadores e colonizadores de diferentes origens e épocas, como celtas, fenícios, cartagineses ou romanos. Se assim for, a história dos Açores e da navegação no Atlântico teria de ser reescrita.