Se já visitaste Lisboa ou vives na região, provavelmente já ouviste a palavra saloio. Pode ser utilizada para descrever alguém das zonas rurais em redor da capital, ou até como um termo um pouco brincalhão para designar uma pessoa simples ou com hábitos do interior.
Mas afinal, de onde vem este termo, e porque ficou associado aos habitantes dos arredores de Lisboa? Vamos descobrir a história e curiosidades por detrás desta palavra tão típica.
A palavra saloio tem uma origem que remonta à época medieval. Deriva do termo árabe çahrawi (ou sahraoui), que significa “homem do deserto” ou “habitante do campo”. Quando os árabes ocuparam a Península Ibérica, referiam-se assim às populações que viviam em zonas rurais, afastadas dos grandes centros urbanos.
Com o passar dos séculos, este termo foi adaptado ao português e começou a ser utilizado para identificar os habitantes das zonas periféricas de Lisboa, sobretudo os que se dedicavam à agricultura.
Na prática, os saloios eram os produtores que abasteciam a capital com tudo o que se comia: fruta, legumes, cereais, queijos, leite e até o pão. Ou seja, enquanto os lisboetas se deliciavam com iguarias, alguém lá fora estava a trabalhar no duro para garantir que a mesa da cidade estava bem recheada. Em suma, o saloio era essencial – mas, como veremos, nem sempre foi tratado com o devido respeito.
A popularidade do termo saloio tem crescido, mas nem sempre de forma positiva. Lisboa, sendo uma cidade cosmopolita e em expansão, começou a desenvolver aquele complexo de superioridade típico das grandes cidades (não estamos a apontar dedos, mas quem nunca?).
Os habitantes do campo, vistos como mais simples e ligados à terra, tornaram-se alvos de estereótipos, sendo muitas vezes caricaturados como ingénuos ou pouco sofisticados.
Por exemplo, o saloio típico era representado como alguém com um grande chapéu de palha, roupas rústicas e um burrico a acompanhar. Era a antítese do lisboeta moderno, elegante e apressado – pelo menos na visão urbana da época.
Este estigma ainda persiste de forma ligeira no uso contemporâneo da palavra, que pode ser utilizada de forma humorística ou até ligeiramente depreciativa, dependendo do contexto.
Os verdadeiros saloios habitavam zonas que hoje reconhecemos como a Grande Lisboa, incluindo concelhos como Loures, Mafra, Sintra e Oeiras. Estas zonas eram predominantemente rurais, com quintas e aldeias onde se cultivava praticamente tudo o que abastecia os mercados da capital. Mesmo o famoso queijo saloio, que ainda hoje encontramos nos supermercados, é uma homenagem às tradições leiteiras destas regiões.
Curiosamente, algumas destas zonas, como Sintra, evoluíram de tal forma que é difícil imaginar que, há uns séculos, eram apenas aldeias saloias. Hoje, Sintra é um dos destinos turísticos mais populares do país, e ninguém associaria os seus majestosos palácios e jardins ao estereótipo do saloio com um burrico.
Embora o termo saloio tenha nascido como uma referência geográfica e profissional, hoje é utilizado de forma mais descontraída – e, por vezes, carinhosa. Quem nunca ouviu alguém dizer algo como “Estás a ser um saloio!” para apontar uma atitude um pouco desajeitada ou inocente?
É certo que o termo nem sempre é utilizado com afeto, mas convenhamos: ser saloio não é assim tão mau como parece. Afinal, quem é que nunca teve uma “gaffe” que o fizesse sentir-se um pouco fora do seu ambiente?
Se pensarmos bem, os saloios são, no fundo, os pioneiros do comércio local, os campeões da sustentabilidade antes mesmo de ser moda. Hoje, enquanto muitos se esforçam por cultivar os seus próprios legumes na varanda, os saloios já o faziam há séculos – mas à escala, e com direito a vender os produtos na praça.
Apesar das mudanças ao longo dos tempos, a identidade saloia continua viva em várias tradições. As festas populares, os mercados e até algumas expressões linguísticas ainda carregam a herança deste povo rural que tanto contribuiu para o desenvolvimento da região de Lisboa. Ainda que a urbanização tenha engolido muitas destas zonas, a memória saloia resiste em pormenores como os pratos típicos, as lendas e, claro, o queijo saloio.
Portanto, da próxima vez que ouvires a palavra saloio, lembra-te que ela carrega uma história rica e multifacetada. Não é apenas um termo para descrever alguém do campo, mas uma ligação à terra e às raízes de uma Lisboa que, sem os seus saloios, não seria o que é hoje.
No final de contas, ser saloio é mais do que uma questão geográfica. É um estado de espírito, uma relação com a terra e um orgulho por uma cultura que soube adaptar-se às mudanças do tempo.
E convenhamos, enquanto uns fazem yoga e mindfulness para “voltar às origens”, os saloios já lá estavam há séculos – de chapéu de palha, burrico e tudo!
Afinal ainda hoje se tem pouco respeito e pouca consideração por quem trabalha a terra planta e colhe o que se consome de alimentos,sem eles ninguem viverá mas sáo os mais mal pagos,nada de admirar da humanidade desumana negreira e escravisante,