A alguns quilómetros da fronteira entre Portugal e Espanha, encontramos um estrangulamento no curso de água, que tem 45 metros de largura, e que deu origem às Portas de Ródão, uma ocorrência geológica natural que abrange as duas margens do Tejo e os concelhos de Vila Velha de Ródão e Nisa. Trata-se de um dos mais interessantes fenómenos geológicos do Centro de Portugal.
Esta particularidade na paisagem situa-se na crista quartzítica da Serra do Perdigão, que serve de habitat para a maior colónia de grifos do país, e é assim um lugar privilegiado para pesquisas de fauna e avifauna. Aqui encontra 116 espécies de aves, muitas delas consideradas em vias de extinção, como a cegonha-preta ou a águia perdigueira.
O monumento natural das Portas de Ródão é constituído por enormes rochas, que se parecem erguer simulando portas, que guardam o rio e a vila, sendo daí que lhe vem o nome. Esta zona rochosa resulta da intersecção do relevo da Serra das Talhadas, e é formada por duas paredes escarpadas, com altura de 170 metros. Uma das portas está mais a norte, no concelho de Vila Velha de Ródão, e a outra encontra-se no estreitamento do rio, já no concelho de Nisa.
As Portas de Ródão são o resultado de 2,5 milhões de anos de erosão, bem visíveis aos olhos mais experientes, e bastante evidentes na margem direita. O local foi considerado um Monumento Natural em 2009, sendo possível apreciar toda a zona envolvente em segurança a partir de um miradouro que foi construído na zona.
Nas encostas que rodeiam o monumento, pode observar urze, alecrim, giestas e cedro, sendo casa de diversas espécies ameaçadas. As Portas de Ródão fazem parte do Geoparque Naturtejo da Meseta Meridional.
É claro que um monumento tão belo não podia deixar de estar ligado a uma lenda, neste caso à lenda do rei Wamba. Assim, diz a história que o rei Wamba, rei visigodo da Hispânia, aqui viveu durante o seu reinado, que durou entre 672 e 680, numa vida marcada pelo combate aos mouros. Diz-se que a esposa do rei acabou por se apaixonar por um rei mouro e, para viver o seu amor, o rei mouro tentou raptá-la, escavando um túnel que passava por baixo do Tejo.
Mas os cálculos não foram bem feitos, e o buraco do túnel saiu ao nível das águas. Assim que o buraco e a intenção foram descobertos, o rei Wamba presenteou o seu arqui-inimigo com a sua esposa, tendo-a atado à mó de um moinho e fazendo-a girar pelas encostas até ao rio Tejo.
Diz-se ainda que, nos locais por onde a mó com a esposa do rei Wamba passou, nunca nasceu vegetação. É possível observar o que outrora foi o castelo do rei no topo da porta norte, local que foi recuperado e é hoje uma pequena vigia.
A região das Portas de Ródão estende-se por 965 hectares, ricos em fauna e flora, com as aves a serem um dos maiores atrativos para os visitantes, até porque é aqui que, como dissemos, habita a maior colónia de grifos em território nacional.
A zona está classificada como Rede Natura 2000 e nela encontramos diversas espécies autóctones, como o medronheiro e o zimbro, sendo que este último constitui o habitat primário prioritário mais meridional na Península Ibérica de florestas endémicas de zimbros.
A importância do zimbro fez nascer um projeto de restauro de habitat e prevenção natural contra incêndios. Outras plantas caraterísticas são a murta, a aroeira e o carrasco.
Na região pode-se observar diferentes animais selvagens, tais como o javali, o veado, o saca-rabos ou até mesmo a lontra. A partir do rio consegue ver algumas espécies migratórias, como a lampreia e a enguia, agora desaparecidas devido à construção das barragens ao longo do curso do rio. Foram introduzidas a cara e o achigã, e tem como espécies invasoras o peixe-gato-europeu e o lagostim-vermelho-da-luisiana.
É claro que, se for visitar o local, tem muito para ver para além da beleza da natureza. Assim, não deixe de conhecer o templo de Nossa Senhora do Castelo e o miradouro, atravessando as Portas de Ródão para ambos os lados.
Visite o Centro de Interpretação de Arte Rupestre do Vale do Tejo, que conta com um dos mais importantes conjuntos de arte pós-paleolítico da Europa, e visite o Conhal do Arneiro, viajando até à mineração do ouro durante o período de ocupação romana. Não pode também deixar de passar as Portas pelo rio, para uma experiência ainda mais completa.