Um dos mais conhecidos jardins do Porto é o Jardim de João Chagas, popularmente conhecido como Jardim da Cordoaria. Encontra-se no Campo dos Mártires da Pátria, nas proximidades da Torre dos Clérigos, do Centro Português de Fotografia e do Hospital Geral de Santo António. Por muito tempo, o padrão desta praça foi um famoso “ulmus”, que não tinha o pitoresco de um verdadeiro monumento, mas que mesmo assim era popular e venerado.
Essa velhinha árvore, que foi plantada em 1612 e que morreu mais de 300 anos depois, resistiu a temporais, sobreviveu a um incêndio, e deu sombra e pousio a inúmeras gerações.
Sofreu também uma grave calúnia, uma vez que se dizia que um dos seus ramos mais possantes foi usado para enforcamentos, ganhando injustamente o nome de “árvore da forca”, onde, afinal, nunca ninguém foi enforcado.
A primeira “acusação” contra a árvore diz-nos que foi nela que o juiz José de Mascarenhas mandou enforcar alguns revoltosos, que protestaram contra a proibição de venda de vinho a retalho pelos taberneiros do Porto (ordem dada pelo Marquês de Pombal).
É verdade que os revoltosos morreram na Cordoaria, mas em seis forcas de madeira que foram construídas propositadamente para esse fim. As forcas encontravam-se no Campo do Olival, como era então conhecido o espaço acima da Rua dos Caldeireiros, entre as entradas das ruas de Trás e de S. Bento da Vitória.
A 2 de março de 1810, para castigar os responsáveis pelos tumultos que tiveram lugar no dia da entrada dos franceses na cidade, ocorreram novos enforcamentos. Dizem as crónicas da época que os acusados mataram diversas pessoas, sob o pretexto de estas serem jacobinas (amigas dos franceses).
Os corpos dessas pessoas, entre os quais figurava o do fidalgo da Casa da Bandeirinha e coronel do Exército Português, João da Cunha Araújo Portocarrero, foram arrastados pelas ruas da cidade e depois lançados ao Douro.
Já em 1829, ocorreram novos enforcamentos, desta vez políticos, com a morte de 12 liberais que foram mais tarde considerados Mártires da Pátria – uma denominação que acabou por ser dada à antiga Cordoaria. Estes liberais foram enforcados nos patíbulos levantados na antiga Praça Nova, hoje Praça da Liberdade.
Em 1831, ocorreram novos enforcamentos, com os protagonistas a serem meia dúzia de facínoras, acusados de terem assassinado uma família em Coimbra. Todos eles foram enforcados na Cordoaria, em forcas que foram erguidas num local onde, anos mais tarde, se construiu um lago.
Portanto, e apesar da sua fama, o velho “ulmus” foi apenas testemunha de enforcamentos feitos no antigo Campo do Olival, mas nunca participou em nenhum. Mas não deixou de ser uma árvore que ficou para a história e que até continua bem presente no imaginário coletivo.
Pode aproveitar o passeio para conhecer a falsa “árvore da forca” para conhecer também os seus arredores. E há muito para descobrir por estes lados, começando por outros parques e jardins: destaque para o Parque das Virtudes e para o Jardim das Oliveiras.
Como não poderia deixar de ser, aproveite também para apreciar a Torre dos Clérigos, um dos grandes símbolos da cidade do Porto. Construída no século XVIII, foi encomendada a Nicolau Nasoni, um arquiteto italiano que tanto fez pelo Porto e por outros locais em Portugal.
Um pouco mais adiante, encontra a quase secreta Praça das Cardosas, um recanto quase desconhecido na cidade invicta mas que merece cada minuto do seu passeio. Se tiver sorte, pode ser que a visite num dos dias em que se realiza o mercado urbano e onde se pode ouvir música ao vivo.
E quase sem dar por isso, já está em plena avenida dos Aliados e com a estação de São Bento bem perto. Aprecie cada detalhe dos edifícios circundantes, entre na estação e maravilhe-se com os seus belíssimos azulejos. Sem se aperceber, rapidamente irá esquecer-se que este passeio começou com uma árvore com fama de forca mas que nunca enforcou ninguém.