Localizado na freguesia de Soutelo, concelho de Vieira do Minho, o Santuário de Nossa Senhora da Lapa é um local muito agradável, com zonas de sombra e algumas mesas e bancos que pode aproveitar para fazer um piquenique. Para chegar aqui, terá de subir a cumeada do monte de Penamourinha, com uma subida de carro a pedir a primeira e segunda mudanças, através das estreitas estradas de asfalto. Em dias de chuva formam-se nevoeiros que dificultam a visão da paisagem e do horizonte, pelo que deverá ter isso em conta.
Diz-se que, em 1805, Nossa Senhora da Lapa surgiu a uma pequena pastorinha. Quando soube do ocorrido, o pai da menina foi ao local. Quando a filha apontou para o local da aparição, lá estava Nossa Senhora novamente. A notícia espalhou-se rapidamente pelas localidades mais próximas, iniciando-se as romarias no primeiro dia do mês de junho desse ano.
A 10 de junho reuniram-se mais de 500 pessoas no local. Dado o enorme influxo de peregrinos, o abade Rodrigues Ramos ordenou a construção de um altar por baixo do bloco de granito onde se tinha dado a aparição. Também ordenou que a área em redor fosse preparada para receber o maior número de peregrinos possível.
No limite poente da cumeada, João Gonçalves e a sua mulher Margarida da Silva mandaram construir, em 1694, a capela da Senhora da Lapa, aproveitando para o efeito alguns afloramentos graníticos do local.
O pequeno templo está numa cavidade sob rochas, encerrado por uma parede de cantaria em granito, que forma uma fachada com desenho simples, onde se destacam os vãos das janelas e portas. Existe também um nicho com uma pequena imagem de Nossa Senhora.
Uma porta em grade dá acesso ao interior, onde se podem ver diversas inscrições gravadas no teto e um quadro com a história do santuário, escrita pelo padre José Maria Machado em 1851.
O recinto do santuário distribui-se por dois patamares, incorporando um coreto, instalações de apoio à romaria e fontes. A capela aparece já referenciada no livro “Memórias Paroquiais” de 1758.
Graças à sua edificação na rocha, a capela é provavelmente uma das construções religiosas mais invulgares de Portugal, residindo a sua beleza na simplicidade e originalidade do espaço, aliada a uma história de fé de quem a construiu e cuidou dela.
Nossa Senhora da Lapa e as “outras Lapas”
Sabe o que significa “Lapa”? É uma rocha que forma uma gruta ou um abrigo natural. Existem muitas “Lapas” um pouco por todo o país. É muito natural atribuir-lhes algum tipo de lenda, misticismo ou significado religioso (o mais famoso santuário deste género é o Santuário da Lapa, em Sernancelhe.)
E o mesmo acontece com outras rochas de grandes dimensões, mesmo que não sejam Lapas: veja-se o caso do Penedo dos Cornudos (em Amarante), da Pedra do Galo (no Redondo) ou da Rocha dos Namorados (em Reguengos de Monsaraz).
Estas rochas já seriam objeto de adoração antes da chegada da religião cristã ao território que hoje corresponde a Portugal. Nelas eram realizados rituais pagãos dos mais diversos tipos e com diferentes fins. A Igreja Católica, em vez de condenar quem realizava esses rituais, optou simplesmente por “cristianizar” essas rochas. Foi atribuído a cada uma delas um santo de devoção e, noutras, foi simplesmente construída uma cruz no seu topo. E assim permitiu-se que o povo continuasse a ver aqueles locais como sagrados mas, desta vez, dentro da nova religião.
No caso particular da Senhora da Lapa, em Vieira do Minho, não são claros os motivos originais da adoração do local. O facto de se encontrar no cume de um miradouro tem fácil explicação: os locais de adoração eram sempre escolhidos o mais alto possível, “próximo dos céus”, onde estariam os deuses homenageados.
Quanto à rocha gigante (a Lapa), ela poderia ser objeto de adoração simplesmente porque, para lá chegar, seria necessário passar por 2 grandes penedos, o que na época pagã poderia ter um qualquer simbolismo. Os rituais de passagem eram comuns naquela altura: a passagem da adolescência para a idade altura, a passagem do Inverno para a Primavera, etc…
Pagão ou cristão, com lendas ou sem lendas, o certo é que vale muito a pena conhecer esta pequena igreja em Vieira do Minho. O local é agradável para passear e passar algum tempo. E a partir daqui pode explorar o Gerês, por exemplo.