Cada vila e cidade tem as suas características e particularidades que a tornam única e bonita, isso é um facto. Mas esta vila medieval, que conseguiu manter as suas características ao longo dos séculos, tem um lugar de destaque precisamente pela sua beleza única e estonteante.
Falamos de Monsaraz, local onde um pequeno passeio se torna uma autêntica viagem no tempo, onde se consegue encontrar a paz e a tranquilidade que tantas vezes nos falta nestes dias mais modernos, de correrias e tarefas que já deviam ter sido feitas ontem.
Marcada pela cal e pelo xisto, no mês de julho a vila torna-se em “Monsaraz Museu Aberto”, para que os visitantes e os moradores tenham a oportunidade de conhecer os hábitos, costumes e tradições alentejanas do passado, seja no artesanato, na gastronomia e nos vários espetáculos de cariz cultural que têm lugar, onde se inclui a música, a dança, o teatro e até exposições de artes plásticas. Se Monsaraz é bom para se visitar durante todo o ano, em julho esta visita fica ainda mais especial!
As belas muralhas que circundam esta vila são o lar de uma população muito acolhedora e hospitaleira, sempre pronta a abrir a porta dos seus lares mais pitorescos e tradicionais, banhados com a luz do solar e onde sempre se pode encontrar um sorriso.
Há muito para ver nesta vila, permitindo-nos descobrir o passado e o presente de uma forma conectada e que torna a visita ainda mais agradável. E há tanto para ver em Monsaraz, em pleno coração do Alentejo!
A visita deve preferencialmente ser a pé, tirando o seu tempo para apreciar verdadeiramente a paisagem e absorver devidamente o que o rodeia. Não se preocupe com o estacionamento: como as ruas da vila são ancestrais, Monsaraz tem um espaçoso parque de estacionamento perto das muralhas.
Observar estas muralhas deixa-nos sempre com uma sensação de espanto. Este imponente e peculiar cerco muralhado foi erguido durante as Guerras da Restauração, estando previsto no plano de construção erigirem-se o Forte de São Bento (que originalmente tinha uma forma estrelada), os Baluartes de São João e do Castelo e a Ermida de São Bento. Também estava planeada a construção de três torres de Monsaraz. A primeira, no marmelão de São Gens; a segunda, na herdade das Pipas; e a última, na herdade de Ceuta.
O acesso a Monsaraz pode ser feito a partir de quatro grandes portas. A principal, chamada Porta da Vila, está protegida por dois torreões de formato semicilíndirco. A encimá-la, encontra-se uma lápide consagrada à Imaculada Conceição, mandada erigir em 1646 por El-Rei D. João IV.
No lado norte da muralha, a Porta d’Évora está protegida por um cubelo, sendo também de arco gótico. As restantes portas (d’Alcoba e do Buraco) são portas de arco pleno.
Seja qual for a porta que escolher para entrar nesta bela vila, tire um pouco do seu tempo para virar as costas à entrada de Monsaraz e contemplar a vista sobre os campos do Alentejo em todo o seu esplendor. Uma experiência que fica certamente marcada na nossa memória!
Já dentro de Monsaraz, percorra a muralha até chegar ao castelo. Construído por D. Dinis, no século XIV, é um Monumento Nacional cuja visita é quase obrigatória. Como curiosidade, após a desativação das funções militares do castelo, em 1830, a antiga praça de armas passou a servir como praça de touros. Durante as festas em honra de Nosso Senhor Jesus dos Passos, existe uma tradicional tourada, tradição já secular em Monsaraz.
Para além da sua importância história, que merece já por si uma visita, o castelo de Monsaraz é também um dos mais esplêndidos mirantes sobre o espelho-de-água da Barragem do Alqueva, que é o maior lago artificial da Europa e uma das maiores obras portuguesas do nosso século. Escusado será dizer que irá certamente passar bons momentos, cheios de calma e contemplação, a observar esta paisagem.
Para além do Castelo e Torre de Menagem medievais (e das muralhas), destacam-se em termos de património o edifício dos Antigos Paços da Audiência (séc. XIV/XVI) e a Igreja Matriz de Nossa Senhora da Lagoa (séc. XVI/XVII). Por isso, uma visita a estes locais também se recomenda vivamente!
A vila de Monsaraz é muito rica em história. Erguida sobre uma pedregosa escarpa que domina a paisagem circundante e a região que inclui o vale do Guadiana, não é de estranhar que haja vestígios de uma ocupação já remota, apesar de não haver certezas quanto a uma ocupação castreja ou mesmo romana.
Há, no entanto, a certeza de que esta povoação existia já no período da ocupação muçulmana, sendo que as primeiras fortificações deverão datar desse período. Depois da conquista de Évora, feita por Geraldo Sem-Pavor, foi ocupada pelos cristãos e mais tarde doada à Ordem dos Templários, após cuja extinção passou para a posse da Ordem de Cristo, que foi sucessora dos Templários no nosso território. Na Igreja de Santa Maria da Lagoa, poderá ainda hoje visitar o túmulo de um cavaleiro templário, Gomes Martins Silvestre, povoador de Monsaraz.
O primeiro foral de Monsaraz foi outorgado por D. Afonso II em 1276, devendo-se a este monarca, bem como ao seu filho D. Dinis, a reedificação do castelo e da cerca amuralhada. No ano de 1381, durante as guerras fernandinas, a vila foi alvo de saque por um contingente de archeiros, comandados pelo Conde de Cambridge, parte das forças inglesas que tinham vindo auxiliar o nosso monarca, e que se revelaram bastante imprevisíveis, saqueando vilas e promovendo ainda mais violência.
Quatro anos depois, foi ocupada por D. João de Castela, mas pouco antes da Batalha de Aljubarrota foi recuperada pelo Santo Condestável, D. Nuno Álvares Pereira. Monsaraz foi então oferecida ao Condestável, como benesse de D. João I, passando-lhe por isso a caber (a si e aos seus descendentes) a faculdade de provimento de alcaidaria.
Pouco depois da proclamação de D. João IV, a praça recebeu uma nova cintura abaluartada, em função das campanhas de cariz militar que se anteviam. Estes trabalhos, inicialmente dirigidos por Nicolau de Langres e Jean Gillot, foram terminados pelos engenheiros portugueses Luís Serrão Pimentel, Diogo Osório e Francisco Osório.
A vila, já de si fortificada, tornou-se quase inexpugnável, o que é confirmado pelos assaltos falhados que ocorreram durante as guerras da Restauração e da Sucessão de Espanha.
Assim, se procura um pequeno paraíso rico em história e cultura e onde possa contemplar a natureza em todo o seu esplendor, Monsaraz é o local certo. E verá que, após a visita, terá tendência a concordar connosco; Monsaraz é, provavelmente, a vila mais bonita de Portugal.
Sou Português, nascido em Lisboa, moro fora de Portugal, mas adoro toda a história de Portugal, e, a de Monsaraz e fantástica, obrigado