O glamour do Estoril mantém-se até aos dias de hoje, mas começou há muito. Numa época de guerra, esta zona viveu, contrariamente a tudo o que seria de esperar, um enorme apogeu.
Falamos da 2ª Guerra Mundial e do modo como nesta zona se concentraram cidadãos de todo o mundo, inclusive agentes secretos, que tornaram o Estoril o culto da espionagem. Fique a conhecer alguns marcos desta história.
É sem dúvida contraditório e estranho, mas durante a 2ª Guerra Mundial existiu uma zona em Portugal que sobressaiu e teve um dos seus momentos mais altos.
Falamos do Estoril e da Costa do Sol, que viveram enorme expansão a nível de turismo, e não só, nesta fase. Ainda que forçado, o turismo aumentou muito nesta zona por via dos fugitivos de guerra e dos perseguidos nesta altura da história.
Podem elencar-se como figurantes desta realidade refugiados abastados e de alta reputação, mas também agentes secretos dos dois lados da barricada. Estes passavam por altos diplomatas, movimentando-se pela luxuosa Costa do Sol.
Vários foram os hotéis, ainda hoje existentes, que receberam estes ilustres convidados. Do lado da Alemanha, o Hotel Atlântico, o Grande Hotel do Monte Estoril e o Hotel do Parque foram os escolhidos para a estadia.
Já no que toca aos aliados o Grande Hotel de Itália, também no Monte Estoril e o famoso Hotel Palácio, este localizado no centro do imponente Estoril, foram os eleitos pelos agentes secretos.
Um exemplo de um escritor e igualmente agente secreto que se alojou no Estoril em 1941 foi o conhecido Ian Fleming. O criador de uma das maiores e mais famosas personagens do cinema, o mítico James Bond, utilizou o Estoril como domicílio enquanto trabalhou para o Naval Intelligence Department.
Falando em personagens célebres é de destacar a presença de “Garbo”, cuja identidade permaneceu secreta até 1984. Nesse ano foi identificado como Juan Pujol, natural de Barcelona, pelo autor Nigel West.
A curiosidade à volta deste agente reside no facto de ter convencido os serviços secretos alemães de que espiaria a seu favor na capital portuguesa, enquanto, ao mesmo tempo, se “oferecia” igualmente para trabalhar com os aliados.
Após ser aceite pela Intelligence Service britânica, depois de várias tentativas, “Garbo” iniciou uma transmissão de notícias falsas aos alemães relativas a recrutamentos que estaria a fazer, bem como sobre o desembarque de aliados na Europa.
Mas “Garbo” não foi caso exclusivo, outros espiões ocuparam o Estoril e desenvolveram um trabalho duplo, enganando um ou ambos os lados. Casos houve de agentes que acabariam por ser descobertos e entregues à Gestapo, tendo sido levados por esta até campos de concentração para serem executados.
Em locais como o Hotel Palácio estiveram hospedados algumas insuspeitas personagens. Uma delas, a atriz Zsa Zsa Gabor, fugida da Húngria, e também Leslie Howard, que colaborou com os aliados.
Leslie foi alvo de caças alemães quando seguia num avião da BOAC (British Overseas Airways Corporation), o que faz supor que a sua actividade enquanto colaborador dos serviços secretos alemães foi descoberta. Nesse avião seguia também Tyrell Shervington, director da Shell em Lisboa e igualmente próximo dos serviços secretos britânicos.
Mas, no Estoril, não estiveram apenas elementos dos serviços secretos britânicos. Em 1943, por via britânica, Salazar foi informado da existência de redes de espionagem alemãs que operavam a partir de vários locais em Portugal.
Assim, para além do Estoril, outros locais de Lisboa, Madeira e a Horta nos Açores, foram utilizados pela chamada “organização Bremen”. Nesta sequência alguns agentes desta organização foram identificados, presos e expulsos do país, o que de certo modo apoia a posição de neutralidade que Portugal, em teoria, assumiu ao longo deste período.