O Panteão Nacional de Lisboa é um belíssimo exemplar arquitetónico, que recebe milhares de visitas todos os anos. A sua história faz-se de atrasos, reconstruções e restaurações – tudo começou em 1568, quando a infanta D. Maria mandou construir uma igreja na freguesia de Santa Engrácia. Infelizmente, um temporal destruiu o espaço, em 1681.
Um ano depois, inicia-se a reconstrução, mas os trabalhos são tão demorados que deram origem à famosa expressão “obras de Santa Engrácia”, que significa algo que nunca mais acaba. Afinal, a construção apenas foi terminada em 1966, quase três séculos depois!
Quem pode ser sepultado no Panteão Nacional?
A igreja ganhou o seu estatuto de Panteão Nacional em 1916, com a lei a prever o propósito do espaço: “homenagear e a perpetuar a memória dos cidadãos portugueses que se distinguiram por serviços prestados ao país, no exercício de altos cargos públicos, altos serviços militares, na expansão da cultura portuguesa, na criação literária, científica e artística ou na defesa dos valores da civilização, em prol da dignificação da pessoa humana e da causa da liberdade”.
A trasladação deve ser aprovada pela Assembleia da República, e o Presidente da República tem de assinar um termo de sepultura. De acordo com a lei, a trasladação só pode ocorrer depois de passar um ano sobre a data da morte.
Quem está sepultado no Panteão Nacional?
Hoje, no Panteão Nacional, estão sepultadas 12 personalidades portuguesas. Nele, podemos encontrar os túmulos de:
1. Almeida Garrett
Um dos escritores e dramaturgos portugueses mais importantes do século XIX, e um grande impulsionador do teatro nacional. Nasceu no Porto e faleceu em 1854, em Lisboa.
2. João de Deus
Poeta e pedagogo, escreveu a Cartilha Maternal em 1876, tendo também colaborado em diversos jornais e revistas e publicado poemas em nome próprio. Nascido no Algarve, faleceu em 1896.
A sua influência na cultura portuguesa e, especificamente, na pedagogia foi de tal ordem que os seus ensinamentos ainda hoje são utilizados em muitas escolas portuguesas.
3. Manuel de Arriaga
Foi o primeiro Presidente eleito da República Portuguesa, entre 1911 e 1915. Foi também uma figura proeminente da revolução republicana. Faleceu em 1917.
4. Sidónio Pais
Professor universitário e militar, foi eleito Presidente da República em 1918. O sufrágio universal foi decretado durante o seu mandato. Faleceu em 1918.
5. Guerra Junqueiro
Esta é uma das principais figuras da literatura lírica e satírica portuguesa, apesar de ter sido ministro de Portugal na Suíça. Faleceu em 1923.
6. Teófilo Braga
Sucedeu a Manuel de Arriaga como Presidente da República. Dedicou-se também à escrita, publicando trabalhos sobre tradições portuguesas. Faleceu em 1924.
7. Óscar Carmona
Foi o presidente que mais anos esteve no poder, tendo sido eleito em 1928. Óscar Carmona manteve o cargo até à sua morte, em 1951.
8. Aquilino Ribeiro
Apesar de ter falecido em 1963, apenas teve honras de Panteão em 2007. É considerado um dos grandes escritores portugueses e foi o 1º presidente da Associação Portuguesa de Escritores.
9. Humberto Delgado
Chamado de General Sem Medo, protagonizou uma aguerrida campanha eleitoral contra Salazar, que acabou por perder. Foi assassinado pela PIDE em 1965.
10. Amália Rodrigues
É considerada uma das mais importantes fadistas portuguesas, tendo levado o fado a todo o mundo. Faleceu em 1999 e encontra-se no Panteão desde 2001.
11. Sophia de Mello Breyner Andresen
Poetisa, escreveu contos, poemas e histórias infantis, sendo um nome marcante do panorama literário nacional. Faleceu em 2004 e está no Panteão desde 2014.
12. Eusébio
Este desportista de alta competição, que se destacou no mundo do futebol, foi o primeiro afro-português a merecer honras de Panteão, onde se encontra desde 2015.
Para além destes túmulos, o Panteão Nacional alberga também alguns cenotáfios (arcas tumulares de homenagem, sem corpo) que evocam as figuras de Luís de Camões, do infante D. Henrique. De D. Afonso de Albuquerque, de Vasco da Gama e de Pedro Álvares Cabral.
Existem planos para sepultar mais alguém no Panteão Nacional?
Hoje, existem ainda algumas petições para levar ao Panteão figuras como o cônsul-geral Aristides de Sousa Mendes, o músico Zeca Afonso e o historiador José Hermano Saraiva.
A Igreja de Santa Engrácia é o único Panteão Nacional em Portugal?
Para terminar, ressaltamos que este não é o único Panteão Nacional. O estatuto de Panteão Nacional foi também dado ao Mosteiro de Santa Cruz, em Coimbra, a partir de 2003, e ao Mosteiro dos Jerónimos e Mosteiro de Santa Maria da Vitória (na Batalha) a partir de 2016.
Apesar disso, ainda persiste a ideia de que a Igreja de Santa Engrácia é o único local com este estatuto, por ter sido o primeiro local a ter esta honra e por ser um espaço que foi adaptado especificamente para esse efeito.