A história de Portugal está repleta de figuras marcantes, e entre elas destaca-se Mafalda de Saboia, a primeira rainha do país. Oriunda de uma poderosa família europeia, Mafalda casou com D. Afonso Henriques, o fundador da nação, desempenhando um papel crucial na consolidação do jovem reino.
Filha de Amadeu III, conde de Saboia, e da condessa Mafalda de Albon, Mafalda nasceu entre 1126 e 1130. O seu casamento com D. Afonso Henriques aconteceu em 1146, quando teria entre 16 e 20 anos.
A união não foi apenas uma aliança matrimonial, mas também uma estratégia política. Enquanto uns questionavam a escolha de uma noiva de um território tão distante, outros viam nela um meio de reforçar a independência de Portugal em relação ao Reino de Leão e Castela.
Na altura, a linhagem da Mafalda foi alvo de debate. Apesar de ser filha de condes, era também sobrinha do rei Luís VI de França, um dos monarcas mais influentes da Europa. O contrato de casamento foi assinado quando Mafalda tinha apenas 12 anos, mas a cerimónia só aconteceu quase uma década depois, quando já tinha 21 anos.
Mafalda encontrou em Portugal um marido 18 anos mais velho, com dois filhos ilegítimos de uma relação anterior. Durante os 12 anos de casamento, teve pelo menos sete filhos, entre os quais Sancho, o futuro rei D. Sancho I.
Contudo, a sua vida foi marcada pela tragédia, pois apenas três dos seus filhos chegaram à idade adulta. Mafalda faleceu em Coimbra, a 3 de Dezembro de 1157 ou 1158, pouco tempo após o nascimento da última filha.
Pouco se sabe sobre a personalidade da primeira rainha de Portugal, mas há relatos que sugerem uma mulher de espírito forte e crenças profundas.
Um dos episódios mais conhecidos da sua vida envolve o prior do Mosteiro de Santa Cruz, Teotónio, a quem pediu a bênção durante um parto difícil. Após a recuperação, tentou visitar o mosteiro para agradecer, mas foi impedida de entrar, pois o prior não permitia a presença de mulheres no local.
Mafalda teve um papel ativo na fundação de instituições de solidariedade, como o Mosteiro da Costa, em Guimarães, e um hospital no Marco de Canaveses.
Reza a lenda que o nome desta última localidade surgiu quando a rainha, ao beber água do rio através de uma cana, exclamou: “Guardai-a, porque a cana às vezes é boa”.
A morte prematura de Mafalda não apagou a sua importância na história de Portugal. Sepultada no Mosteiro de Santa Cruz, em Coimbra, ao lado do marido, D. Afonso Henriques, deixou um legado que se estendeu para além do seu tempo.
Só no século XVII se voltaria a estabelecer um laço entre Portugal e Saboia, com o casamento de Maria Francisca Isabel e Afonso VI.
Assim, a primeira rainha de Portugal continua a ser uma figura de relevo, símbolo de uma época em que as alianças políticas se forjavam através do matrimónio, mas onde o papel da mulher na consolidação do reino não pode ser esquecido.