A aldeia de Querença, situada no concelho de Loulé, continua arredada do turismo de massas que marca grande parte da região algarvia. Apesar do crescimento de visitantes no verão, conserva um ambiente sereno e um ritmo de vida ligado às tradições, facto que a torna num dos locais mais emblemáticos do interior do Algarve.
Situada no cimo de um pequeno monte, Querença encontra-se numa zona de transição entre o barrocal e a serra. As casas brancas, dispostas ao longo da encosta, exibem o carácter rural algarvio.
No topo ergue-se a Igreja Matriz, símbolo incontornável do património local. A paisagem envolvente é fértil, pontuada por cursos de água e nascentes que conferem frescura e cor ao vale, um bem precioso numa região onde a água costuma escassear.
A presença de tanta água influenciou profundamente a vida e os costumes desta comunidade, desde as práticas agrícolas à gastronomia. Em Querença, prova-se a cozinha tradicional algarvia, onde não faltam pratos como a galinha cerejada, o Xerém ou o galo de cabidela.
Existem também especialidades que revelam a proximidade da serra, como o javali e o coelho. Estas iguarias fazem as delícias de quem visita, evidenciando a ligação da aldeia aos produtos locais.
Os licores ocupam um lugar central na economia e na vivência de Querença. Existem mais de uma dezena de variedades diferentes, entre as quais se destaca a de medronho. Também o mel e os enchidos, sobretudo o chouriço, são apreciados e representam a riqueza da produção artesanal que se encontra na região.
Para além das tradições gastronómicas, a aldeia é admirada pelo modo como preserva a autenticidade algarvia. Recomenda-se um passeio tranquilo pelos becos e ruelas, para observar os pormenores arquitetónicos e sentir a ligação estreita que Querença mantém com a água.
Esta relação é ainda mais evidente na Paisagem Protegida da Fonte da Benémola, muito próxima da aldeia, onde a água corre durante todo o ano. Este espaço natural acolhe diversas espécies de flora e fauna, beneficiando da abundância hídrica que nem sempre se encontra noutros pontos do Algarve.
Na Fonte da Benémola, existe um trilho oficial circular com cerca de 4,5 quilómetros, de dificuldade fácil. É uma boa oportunidade para mergulhar no património natural e desfrutar de vistas que contrastam com a imagem mais conhecida do Algarve costeiro.
Aqueles que dispuserem de vários dias poderão eleger Querença como ponto de partida para explorar as redondezas. Existem aldeias próximas que merecem atenção, como Tôr, conhecida pela pequena ponte de origem romana, e Estoi, onde se pode visitar o palácio e as ruínas romanas de Milreu.
Não muito distante encontra-se Alte, outra aldeia com uma forte identidade algarvia, repleta de casas brancas e flores nas janelas. Para além disso, dispõe de uma praia fluvial que convida a um mergulho nos meses quentes. Quem procurar ambientes mais agitados poderá dirigir-se a localidades como Loulé, Vilamoura, Quarteira ou Albufeira, destinos turísticos bem estabelecidos.
A experiência de visitar Querença é a oportunidade de contactar com um Algarve mais resguardado, fiel às suas origens. Longe de grandes multidões, a aldeia proporciona um modo de vida diferente daquele que se observa no litoral. A serenidade das ruas, os recantos sombreados e a hospitalidade dos habitantes são traços que ficam na memória de quem por ali passa.
Na hora de partir, vale a pena adquirir um licor, um mel ou algum enchido local, gesto que ajuda a manter vivas as tradições produtivas e a economia familiar. Além disso, quem compra estes produtos leva consigo um genuíno pedaço de Querença, recordando, mais tarde, as vivências tranquilas encontradas naquela encosta algarvia.
Em suma, Querença representa um Algarve menos exposto à agitação balnear, onde a água é parte essencial do quotidiano e a gastronomia reflete o encontro entre o barrocal e a serra.
Numa região onde o turismo tem crescido de forma acelerada, existem ainda recantos que mantêm uma ligação profunda à terra. Quem desejar descobrir estes ambientes mais preservados encontrará, em Querença, um refúgio que se mantém fiel àquilo que distingue o Algarve no seu interior.