Para muitos, na história de amor entre D. Pedro e D. Inês, a lenda sobrepõe-se de forma quase definitiva aos factos históricos. Mas, mesmo que isso seja verdade, não se pode negar que as lendas têm o seu quê de encantador, criando heróis e histórias que perduram ao longo do tempo. Afinal, não é por acaso que esta é, muito possivelmente, a mais famosa história de amor que Portugal alguma vez registou.
Um dos locais que terá servido como palco de fundo a esta história foi a Quinta das Lágrimas, em Coimbra, cujos jardins podem hoje ser visitados. Antes de lá chegarmos, no entanto, iremos falar um pouco mais sobre a história de Pedro e Inês.
D. Pedro, infante português, era herdeiro de D. Afonso IV e foi educado desde cedo para suceder ao pai, sendo que o matrimónio era uma parte importante a definir na vida do futuro rei. Na altura, os matrimónios eram longas e complicadas negociações diplomáticas, que serviam de base a alianças entre diferentes reinos. A noiva escolhida para D. Pedro foi D. Constança Manuel, uma nobre castelhana, com o casamento a ser celebrado a 24 de agosto de 1339, em Lisboa.
Como era costume na época, D. Constança chegou a Portugal com um considerável número de aias, entre as quais se encontrava a jovem Inês de Castro, filha de um poderoso fidalgo galego.
Diz a lenda que Pedro e Inês se apaixonaram no momento em que colocaram os olhos um no outro, apesar de uma relação entre ambos poder dar azo a muitas complicações políticas, até porque seria grande a influência dos irmãos de Inês sobre o futuro rei.
Nada disto impediu Pedro e Inês de se amarem, tendo inclusivamente gerado descendência. Quem não gostou disso foi o rei D. Afonso IV, que decidiu exilar Inês em Albuquerque, na zona da Guarda. A distância não impediu os encontros e, após a morte de D. Constança, Pedro e Inês instalaram-se em Coimbra, no Paço de Santa Clara.
Dessa forma, D. Afonso acabou por decidir que só a morte de Inês poderia colocar um ponto final nesta história e, aproveitando a ausência do filho, dirigiu-se a Coimbra com um grupo de nobres, para executarem a sentença. Diz a lenda que as lágrimas por ela derramadas deram origem à Fonte das Lágrimas, que se encontra precisamente na Quinta das Lágrimas.
O assassinato de Inês levou a que D. Pedro se revoltasse contra o pai, guerra que apenas ficou resolvida com a intervenção da rainha D. Beatriz. Em 1357, D. Afonso IV morre, passando o seu filho para a história como D. pedro I. 3 anos depois, em 1360, D. Pedro faz de D. Inês rainha de Portugal, mesmo que postumamente, declarando que com ela se tinha casado.
O rei lança-se também numa autêntica caça ao homem contra os executores da sua amada. Dois deles foram capturados e executados em Santarém, de uma forma cruel, dizendo-se que a um foi arrancado o coração pelo peito e a outra pelas costas, enquanto o rei se banqueteava.
A lenda fala-nos também da macabra coroação de Inês, tendo D. Pedro supostamente obrigado a corte ao beija-mão do cadáver. Por entre lendas, o que se sabe é que D. Pedro reinou durante 10 anos, numa altura de grande prosperidade. Acabou por falecer em 1367 e jaz no mosteiro de Alcobaça, num monumental túmulo que se encontra em frente ao da sua amada.
No que toca à Quinta das Lágrimas, que se encontra na margem esquerda do Mondego, na freguesia de Santa Clara, em Coimbra, não há certezas de que realmente tenha sido palco de encontros entre os amantes, apesar de isso em nada desmerecer uma visita.
O local ocupa uma área de 18,3 hectares em torno de um palácio do século XIX, que é atualmente um hotel de luxo. Nos seus magníficos jardins, acumulam-se memórias desde o século XIV, tanto nas lendas como nos elementos ali construídos. É nos jardins que vai encontrar a chamada Fonte dos Amores e a Fonte das Lágrimas, fortemente associadas à lenda de Pedro e Inês.
Caso pretenda visitar este magnífico jardim, os bilhetes de entrada custam apenas 2,5 euros, com os menores de 15 anos e os maiores de 65 a pagarem apenas um euro. Existe também um bilhete de família, que tem um custo de 5 euros e que é válido para 2 adultos e 2 crianças. Caso pretenda fazer uma visita guiada, deverá fazer marcação prévia, sendo que a reserva é obrigatória.
Seja qual for o modo como decidir visitar este local, sairá de lá profundamente encantado e maravilhado com os elementos naturais e construídos da encantadora Quinta das Lágrimas.