D. Pedro I de Portugal, que reinou entre 1357 e 1367, é recordado tanto pelos seus amores como pela sua postura implacável em matéria de justiça. Sucedeu a D. Afonso IV, com quem teve desavenças que só terminaram graças à intervenção de D. Beatriz de Castela, mantendo a ordem na família real e no país.
O seu casamento oficial com D. Constança Manuel deu origem a três filhos, mas foi o romance com D. Inês de Castro, de quem teve quatro descendentes, que mais marcaria a sua reputação.
A execução dos responsáveis pela morte de Inês e a lenda de que teria coroado a sua amada postumamente deram-lhe o cognome de “o Justiceiro”. Ainda hoje se debate se obrigou mesmo a corte a beijar a mão da rainha já falecida, ou se esse episódio nunca aconteceu.
Dois dos culpados pela morte de Inês foram capturados e mortos de forma cruel em 1360, tendo o rei ordenado que lhes arrancassem o coração – a um pelo peito e ao outro pelas costas – enquanto assistia ao ato.
O terceiro suspeito fugiu de Portugal, escapando à vingança real. A rigidez com que D. Pedro puniu crimes conduziu a que recebesse ainda outro cognome: “o Castrador”. Existem relatos de que terá aplicado este castigo não só em casos de adultério, mas também a um dos seus escudeiros, de nome Afonso Madeira, por possível ciúme.
Corre a lenda de que o rei mantinha com este escudeiro uma ligação amorosa, embora a maioria dos historiadores considere improvável que tenha existido alguma relação íntima entre ambos.
De qualquer modo, Afonso Madeira gozava de grande apreço real, como se pode ler em crónicas de Fernão Lopes, que narram as qualidades do escudeiro e os benefícios que o rei lhe concedia. Contudo, após Afonso ter-se apaixonado pela esposa de um corregedor, D. Pedro puniu-o com a castração.
De acordo com as crónicas, a gravidade do castigo não residia apenas na traição, mas no apego que D. Pedro tinha pelo escudeiro. Afonso sobreviveu, mas o episódio serve de exemplo da violência que o rei exercia quando se sentia traído ou ultrajado.
Não foram estes os únicos relatos de atos sangrentos cometidos por D. Pedro I. Ainda durante o seu reinado, degolou dois dos seus criados por roubarem e matarem um vendedor judeu de especiarias.
Quanto ao bispo do Porto, por se ter envolvido com uma mulher casada, foi despido e açoitado em público por ordem régia. Noutro caso, D. Pedro condenou ao fogo uma mulher adúltera, ordenando que o seu amante fosse degolado. O marido só teve conhecimento do sucedido quando tudo já tinha terminado.
Assim, o rei ganhou fama de duro e pouco consensual, mas também de firme defensor da ordem e dos seus afetos. O seu reinado, de apenas dez anos, terminou com a sua morte a 18 de janeiro de 1367.
Encontra-se sepultado no Mosteiro de Alcobaça, ao lado da sua amada Inês de Castro, num dos túmulos mais simbólicos da História de Portugal.
À sua maneira, D. Pedro I deixou uma imagem complexa de um monarca apaixonado, mas implacável, influenciando o imaginário coletivo através de episódios de amor e vingança que perduram até aos nossos dias.