Estima-se que cerca de 30% da população nacional seja descendente de judeus. O número pode parecer elevado, mas, se olharmos para a História, percebemos que já existiam judeus em território nacional ainda antes da formação do nosso país. A comunidade dos judeus sefarditas habitou Portugal e Espanha durante séculos e por aqui continuou, até ao início da Inquisição, altura em que foram forçados à conversão ao cristianismo e passaram a ser designados por cristãos novos.
Muitos recusaram esta conversão forçada e viveram clandestinamente um pouco por todo o país, em locais como Évora, Belmonte, Tomar ou Castelo de Vide. A comunidade judaica teve sempre uma grande importância na nossa história, em áreas tão diversas como a medicina, a ciência, a arte, a economia ou a política.
As personalidades que a seguir lhe apresentamos são judeus ou descendentes de judeus. Alguns são praticantes, outros não são religiosos e outros são apenas oriundos de famílias com raízes judaicas. Assim, deixamos-lhe 10 ilustres portugueses que são judeus ou descendentes de judeus:
1. Daniela Ruah
Faz parte de uma das famílias mais influentes da comunidade judaica nacional. O clã conta com muitas personagens fascinantes, como o médico Samuel Ruah (que costumava ser chamada à residência de Salazar).
Também merecem destaque o seu primo Joshua (clínico de Álvaro Cunhal), e esta atriz de renome internacional, assim como uma ex-grã-mestra da maçonaria feminina, um grande fotógrafo e um vendedor de pedras preciosas. No geral, trata-se de uma família muito reconhecida e talentosa.
2. Amato Lusitano
Este judeu português, médico e escritor do século XVI, nasceu em Castelo Branco, em 1511, tendo sido batizado como João Rodrigues. Estudou medicina em Salamanca, voltando brevemente a Portugal antes de iniciar um périplo pela Europa, devido à Inquisição.
Foi o primeiro a estudar cientificamente as plantas ibéricas, contribuindo dessa forma para a biologia, farmacopeia e botânica médica. Foi igualmente pioneiro na abordagem clínica da sexologia, tendo desenvolvido novos instrumentos e técnicas.
3. Garcia de Orta
Nasceu em 1501, em Castelo de Vide, filho de pais judeus que tinham sido expulsos de Espanha em 1492. Estudou em Espanha, tendo-se licenciado em Medicina e Filosofia Natural. Regressa a Portugal em 1523 e torna-se, mais tarde, médico pessoal de D. João III.
Embarca depois para a Índia, como médico pessoal de Martim Afonso de Sousa, vice-rei da Índia. É em Goa que se familiariza com a literatura médica indiana e que estabelece uma amizade com Luís de Camões. Como reconhecimento pelos seus serviços, foi-lhe entregue o foro de Bombaim.
4. Jorge Sampaio
É filho de Fernanda Bensaúde Branco, judia sefardita. Segundo a tradição judaica, filho de mãe judia é judeu. Apesar disso, Jorge Sampaio não era praticante, nem sequer religioso.
Ele e o seu irmão Daniel destacaram-se na vida pública, fruto da educação que receberam dos seus pais e que os motivava a ir sempre mais longe. Jorge Sampaio acabou por se tornar o 18º presidente da República de Portugal, entre 1996 e 2006, tendo falecido em setembro de 2021.
5. Francisco José Viegas
Viveu até aos 8 anos no Pocinho, última paragem ferroviária do Douro, tendo-se depois mudado para Chaves. Licenciou-se em Estudos Portugueses em 1983. Para além de se destacar no jornalismo, tem publicado obras de poesia, romance, conto, uma peça de teatro e relatos de viagens.
O seu romance “Longe de Manaus” valeu-lhe o Grande Prémio de Romance e Novela da Associação Portuguesa de Escritores. Homem religioso, abandonou o catolicismo da sua tradição familiar e aproximou-se da religião dos seus antepassados, o judaísmo.
6. José Maria Ricciardi
Descende de famílias com sangue nobre e judaico, tendo dedicado a quase totalidade da sua carreira profissional ao setor da banca. Em finais da década de 70, integrou o Banco Inter-Atlântico, S.A., e entre 1981 e 1983, foi financial controller na sede europeia do Grupo Espírito Santo, assegurando a função de Assistente do General Financial Controller a nível mundial.
Em 1983, tornou-se Diretor Adjunto do Bank Espírito Santo International Limited e, em 1987, foi nomeado Direto da Direção de Merchant Banking do Banco Internacional de Crédito, S.A.
7. Pedro Nunes
Foi um dos primeiros nomes na difusão e investigação científica do nosso país, tendo desenvolvido o seu trabalho na época dos Descobrimentos. Apesar de formado em Matemática, foi muito além da sua área de estudos, tendo-se revelado fundamental na instrumentalização das diversas viagens encetadas por tripulações lusas.
Sabe-se que nasceu em 1502, em Alcácer do Sal, e que tem ascendência judaica. Estudou em Salamanca, em Lisboa e em Coimbra, tendo lecionado diferentes disciplinas nesta última Universidade.
8. Ricardo Salgado
Este economista português era, à data de 24 de julho de 2014, o banqueiro há mais tempo no ativo em Portugal. Passou os primeiros anos da sua vida em Lisboa, tendo sempre frequentado escolas públicas.
Licenciou-se em Economia em 1969 e cumpriu serviço militar na Marinha Portuguesa, antes de se juntar ao Banco Espírito Santo & Comercial de Lisboa. Foi condenado a 6 anos de prisão efetiva em 2022, tendo sido acusado do desvio de 11 milhões de euros do Grupo Espírito Santo.
9. Abraão Zacuto
Terá nascido em Salamanca, em 1450, e ali estudou e lecionou astronomia e astrologia. Aquando da expulsão dos judeus de Espanha, em 1492, refugiou-se em Portugal, estando ao serviço de D. João II já em junho de 1493.
O seu trabalho foi importante para a ciência náutica, tendo melhorado o astrolábio e melhorado as tábuas astronómicas que serviam de orientação á navegação. Foi nomeado Astrónomo e Historiador Real por D. João II, cargo que exerceu até ao reinado de D. Manuel I. Apesar do seu papel relevante na corte, foi expulso de Portugal, tal como todos os que se recusaram converter ao cristianismo.
10. Herberto Helder
Nasceu a 23 de novembro de 1930, no Funchal, no seio de uma família judaica. Vai para Lisboa aos 16 anos, para estudar e, em 1948, matricula-se na Faculdade de Direito de Coimbra. Um ano depois, muda para a Faculdade de Letras, onde frequentou durante 3 anos o curso de Filologia Romântica, que não chegou a terminar.
Publicou o seu primeiro poema em 1954, e, 4 anos mais tarde, o seu primeiro livro, “O Amor em Visita”. Viveu em locais como a França, Holanda e Bélgica, onde teve trabalhos marginais, tendo sido repatriado em 1960.