Há mais de 100 anos, em 1887, inaugurava-se a linha férrea que unia Fregeneda, em Espanha, a Barca d’Alva, em pleno Parque Natural das Arribas do Douro. A linha foi desativada em 1985, por causa da grande degradação das pontes e dos túneis. Mas, nos seus tempos áureos, foi considerada uma das grandes obras de engenharia da Península Ibérica.
E porque lhe falamos desta linha de caminhos de ferro? Porque esta é, desde 2021, um extraordinário trilho pedestre, talvez um dos mais incríveis da Europa. O percurso chama-se Camino de Hierro (também conhecido como Rota dos Túneis) e percorre 17 quilómetros da antiga linha férrea.
Se tem medo das alturas, este é certamente um enorme desafio: o caminho passa por 20 túneis, 10 pontes metálicas e segue pelo vale do rio Águeda, por entre ravinas e rochedos. Um dos túneis tem 1.540 metros de extensão.
A caminhada inicia-se na paragem de Valdenoguera, na antiga estação de La Fregeneda, e vai terminar no cais de Vega Terrón, mesmo junto da fronteira portuguesa. Pode fazer o trilho na totalidade, numa duração estimada de seis horas, mas pode também optar por percorrer apenas oito quilómetros, até ao terceiro túnel, demorando cerca de três horas e meia.
Para conseguir acesso à caminhada, deve comprar bilhete online com antecedência, já que existe um limite diário de entradas. O bilhete custa oito euros e inclui seguro, assistência médica ao longo do percurso e lanternas para percorrer os túneis escuros. A viagem de autocarro desde o cais fluvial de Vega Terrón até ao ponto de partida está igualmente incluída no peço do bilhete.
Como o percurso se insere no Parque Natural das Arribas do Douro, os horários de acesso ao trilho podem ser restritos e vão variando ao longo do ano. Um dos túneis da rota é também casa de uma das maiores colónias de morcegos da Península Ibérica.
Estes animais não podem ser incomodados pelos visitantes durante a época de reprodução, entre maio e agosto. Caso este túnel esteja aberto ao túnel, há duas coisas estritamente proibidas: fazer barulho ou apontar alguma luz aos morcegos.
Tenha também em conta que, devido às altas temperaturas, o percurso não se recomenda durante a época alta, já que tem muita exposição solar. Caso tenha ficado com curiosidade e queira percorrer este caminho, poderá chegar ao início de carro, já que o local se encontra a pouco mais de 100 quilómetros da fronteira portuguesa.
Por outro lado, o aeroporto mais próximo é Madrid, podendo depois apanhar um comboio até Salamanca, e posteriormente um autocarro, que para em frente da antiga estação. Mas seja qual for o método de viagem escolhido, uma coisa é certa: o percurso não o vai desiludir e vale muito a pena a visita.
E já que está por estes lados, pode ser que queira aproveitar para conhecer um pouco melhor as redondezas. É preciso ter carro para explorar a região porque os transportes públicos não abundam, mas o passeio vale bem a pena.
Comece por conhecer duas das aldeias históricas mais bonitas e carismáticas de Portugal: Castelo Rodrigo e Almeida. Ambas estão a uma curta distância e em qualquer uma delas pode fazer uma autêntica viagem no tempo e descobrir um pouco mais sobre como era a vida nesta zona da raia nos tempos medievais.
Como não poderia deixar de ser, também as arribas do Douro merecem destaque. O melhor local para as contemplar é em Miranda do Douro e, a partir daqui, pode fazer uma viagem de barco pela parte mais selvagem deste rio que divide Portugal e Espanha.
Se gosta do passado e de história, faça uma visita até Foz Côa e ao seu museu de arte rupestre, onde pode apreciar algumas das manifestações artísticas mais antigas da Europa dentro deste género.
E no final da sua visita a esta região, não vá embora sem antes comprar uma pequena lembrança ou um produto regional. Além de ajudar o comércio local, irá também contribuir para que os seus habitantes possam continuar a viver aqui e a recebê-lo sempre de braços abertos.