É verdade que, em termos de beleza, as opiniões podem variar, e por isso, não é tarefa fácil atribuir o título de “rua mais bonita de Lisboa”. No entanto, podemos ter em conta a opinião das revistas de turismo e dos turistas que visitam a nossa capital, e, assim, conseguimos perceber que uma das candidatas a esse título é a Rua da Bica de Duarte Belo.
Aliás, foi até considerada das ruas mais bonitas do mundo por um reputado site internacional que se dedica ao turismo. Assim, vale a pena conhecer mais sobre a Rua da Bica, que tem ainda muito do charme da nossa capital patente nos seus prédios, casas, e até nos estendais das suas varandas.
A Rua da Bica fica no pitoresco e histórico Bairro da Bica, considerado um dos bairros mais típicos da cidade, que é conhecido pelos pequenos bares e pelo emblemático ascensor que o atravessa, desde 1892.
Este pequeno bairro, entre o bairro Alto e o Cais do Sodré, compõe-se de um conjunto de calçadas e escadinhas, com origem em 1597, depois de um aluimento de terras. A zona pertencia a um judeu influente, que tinha ligações a D. João II, e foi inicialmente habitada por pescadores e peixeiras.
O nome deriva de uma bica que foi construída no século XVII e que pertencia ao comerciante Duarte Belo. No entanto, existiam outras bicas, que eram habitualmente locais de encontro dos moradores.
A zona foi pouco afetada pelo terramoto de 1755 e oferece maravilhosa vista sobre o Tejo, mantendo os coloridos edifícios dos séculos XVII e XVIII, muitos deles com as portas sempre abertas e varandas repletas de vasos de flores e estendais.
O Bairro da Bica é pequeno, e por isso foi esquecido durante muito tempo, ao contrário de outros, como Alfama, que era eleito pelos intelectuais lisboetas como símbolo da sua cidade. Assim, Alfama era valorizada já em finais do século XIX, enquanto o Bairro da Bica só ganhou visibilidade depois dos anos 50.
Ao contrário de outros bairros populares, a Bica não lendas, personagens-tipo ou factos marcantes na sua história, impondo-se através de uma publicitação sistemática da sua imagem, criatividade e vontade de afirmação.
O passado e as memórias são parte integrante deste bairro, que ficou muito marcado pelo Salazarismo, que ajudou a publicitar a zona, especialmente através das marchas populares.
A Bica foi mudando muito ao longo do tempo, até porque a rua onde passa o elevador se foi enchendo de bares, criando-se assim uma zona de divertimento e lazer noturna, que faz com que se alternem os grupos sociais, funções urbanas e vivências contrastantes neste mesmo espaço.
O famoso Elevador da Bica foi concebido pelo engenheiro português Raoul Mesnier du Ponsard, que é o responsável por outros projetos similares. Foi inaugurado a 28 de junho de 1892, e era inicialmente movido por um sistema de contrapeso (ou seja, o carro que ia descer enchia um reservatório de água que tinha no tejadilho.
O carro descia graças a esse peso extra e à força gravitacional do plano inclinado, rebocando o outro carro na sua subida). Passou a mover-se a vapor em 1896, e, em 1914, procedeu-se à sua eletrificação. Infelizmente, um acidente ocorrido nesse mesmo ano levou à paragem do elevador durante 9 anos.
O Elevador da Bica tem assim mais de um século de existência e é considerado o ascensor mais típico de Lisboa. Apesar de não ter a mesma afluência do Elevador da Glória, é mesmo assim uma das principais atrações turísticas da nossa capital.
Em 2010, o elevador foi intervencionado pelo artista plástico Alexandre Farto, ao abrigo do programa da Carris “Arte em Movimento”, integrado num programa de apoio da Arte Contemporânea Portuguesa. Esta instalação esteve patente até final de junho de 2010, tendo a iniciativa sido organizada novamente em 2013.