O Palacete de Arsénio Morozov, localizado no centro histórico de Moscovo, na Rua Vozdvizhenka, n.º 16, destaca-se pelo seu estilo arquitetónico invulgar, fruto da inspiração recolhida em Portugal e Espanha no final do século XIX.
Construído entre 1895 e 1899 pelo arquiteto Víctor Mazyrin para o milionário Arsénio Morozov, o edifício combina elementos da Arte Nova e do Ecletismo, integrando ainda referências ao estilo Manuelino e ao Neomourisco. Deste conjunto de influências resultou uma obra invulgar, que não passou despercebida ao público moscovita da época.
A génese do projeto remonta à década de 1890, quando Arsénio Morozov (1873-1908), pertencente a uma abastada família de comerciantes russos, viajou com o arquiteto Víctor Mazyrin por Portugal e Espanha. Ficaram ambos impressionados com o Palácio da Pena, em Sintra. Assim nasceu a ideia de recriar em Moscovo um edifício com traços semelhantes ao palácio português.
Sobre o terreno que a mãe de Arsénio oferecera ao filho no seu vigésimo aniversário, ergueu-se um palacete que substituiu uma antiga casa neoclássica e rapidamente suscitou curiosidade e controvérsia. A população e a imprensa reagiram com espanto, considerando o edifício um exemplo de excentricidade arquitetónica.
Estas reações foram refletidas, por exemplo, no romance “Ressurreição” (1899), de Leon Tolstói. Aí, o protagonista, ao passar perto da mansão de Morozov, critica a construção, vendo-a como um desperdício de recursos. A mãe do proprietário também ficou pouco impressionada, ao ponto de comentar que, se antes apenas ela sabia da insensatez do filho, agora toda a cidade a descobriria.
O palacete apresenta-se marcado pelo Neomourisco, visível sobretudo no portal principal, ladeado por duas torres que exibem elementos como conchas e colunas torsas. A cornija e o ático rendilhados contribuem para a atmosfera exótica.
Noutras áreas, podem observar-se colunas de inspiração clássica, comprovando o carácter eclético da obra. Esta mistura de estilos e a assimetria do conjunto remetem diretamente para o universo da Arte Nova.
O interior revela a mesma multiplicidade. A sala de jantar, conhecida como Salão dos Cavaleiros, foi decorada ao estilo do Revivalismo Gótico. O salão de gala, palco de bailes e receções, segue o estilo Império. O boudoir da mulher de Morozov integra elementos do Barroco, encontrando-se ainda referências a estilos árabes e chineses noutros espaços.
Esta variedade reflete o gosto do proprietário, homem de vida boémia, que não usufruiu desta residência durante muitos anos. Em 1908, ao tentar provar que a dor física podia ser suportada, disparou contra a própria perna. A infeção resultante levou-o à morte poucos dias depois, quando tinha apenas 35 anos.
No período pós-revolucionário, o palacete assumiu diferentes funções. Durante um breve período, acolheu o estado-maior de anarquistas. Em maio de 1918, a Primeira Companhia Operária Móvel do teatro Proletkult instalou-se no edifício, onde se realizaram produções vanguardistas com a participação de Serguéi Eisenstein no início da década de 1920.
Posteriormente, o imóvel serviu diversos propósitos diplomáticos e culturais. Entre 1928 e 1940, albergou a Embaixada do Japão; durante alguns anos recebeu também a redação de um jornal em russo apoiado pelo Reino Unido, o “Britanski Soiuznik”; e até a Embaixada da Índia aqui funcionou, embora por um curto período.
A partir de 1959, o local passou a ser a Casa da Amizade, onde se organizaram conferências, exposições e encontros com personalidades estrangeiras do mundo da cultura.
Em 2003, iniciou-se um processo de restauro, reconstrução e modernização sob a alçada da Direção de Assuntos Gerais da Presidência da Rússia. Em janeiro de 2006, foi inaugurada no antigo palacete a Casa de Receções do Governo da Federação da Rússia, destinada a reuniões entre delegações governamentais, negociações diplomáticas e outros eventos internacionais.
O palacete, inscrito no Registo do Património Cultural da Federação Russa, continua a ser um testemunho da criatividade, das influências internacionais e do gosto eclético que marcaram um período específico da história de Moscovo.
A sua presença no centro da cidade recorda a ousadia estética de um homem e a capacidade de um edifício transcender o seu tempo, convertendo-se em palco para os mais diversos usos e protagonistas.