O centro de Portugal está alinhado com um concelho em particular – Vila de Rei. Precisamente nesse ponto central tem a situação assinalada com o marco geodésico do Picoto da Melriça. Nessa perspetiva é de destacar o que de mais espetacular aí existe, e que, de facto, pode desfrutar a partir do centro. E aí tem de ser mencionada a espetacular vista panorâmica que ostenta.
O Picoto da Melriça é o nome pelo qual popularmente se conhece a Serra da Melriça, pertencente ao Concelho de Vila de Rei, que por sua vez pertence ao distrito de Castelo Branco. Situa-se conforme já referimos muito próximo do centro da sede do Concelho.
Para chegar ao centro geodésico a partir de Vila de Rei siga em direção à Sertã e percorra 1,8 km. Nessa altura encontrará assinalada a indicação que tem como destino o Picoto da Melriça, que é literalmente o Centro Geodésico de Portugal e que encontrará menos de 1 km depois, mais precisamente 900m.
No Picoto da Melriça estará a uma altitude considerável e próxima dos 600 m, mais precisamente 592 m. Conforme já introduzimos terá a possibilidade de observar com uma visão de 360º um horizonte vasto e longínquo, que lhe permitirá identificar vários pontos de referência.
Em relação ao marco geodésico este está representado por uma pirâmide de alvenaria que tem nove metros de altura e mais de três metros de base. Rigorosamente 9,1 metros de altura e 3,25 metros de base. O começo da sua construção data de 1802, sendo que ao longo de tempo, e mais recentemente, sofreu várias obras de melhoria. Foi uma das primeiras pirâmides geodésicas do país e naturalmente é atualmente muito emblemática, sendo alvo de visitas de milhares de turistas anualmente.
Para além de ser o local onde está localizado o Centro Geodésico de Portugal Continental existem outros aspetos que devem destacar-se sobre a importância do Pico da Melriça. Nesta perspetiva é importante referir que foi a partir deste local que se iniciaram as observações angulares dos restantes vértices geodésicos do país.
História da definição do Centro de Portugal
Esta zona está intimamente ligada à história da cartografia moderna em Portugal. Para a contextualizarmos de maneira breve podemos referir que essa odisseia se iniciou em 1790, no reinado de D. Maria I, quando esta monarca solicitou que D. Francisco Ciera, iniciasse os trabalhos de triangulação geral do território, para a elaboração da Carta Geográfica do Reino.
Tais ações começaram em 1790 e no ano de 1802 ergueu-se o vértice geodésico da Melriça pertencente ao grupo dos primeiros 32 vértices nacionais. Contudo, e após treze anos de duração dos trabalhos estes viriam a ser interrompidos pelas invasões francesas.
Decorrente da situação política os trabalhos de triangulação foram interrompidos, sendo concluídos após alguma pacificação, cerca de três décadas depois, em 1834. Em Portugal Continental existem atualmente 7973 vértices geodésicos, fazendo parte da Rede Geodésica Nacional no apoio aos trabalhos necessários à cartografia do país.
Efetivamente, a informação geográfica precisa decorre em grande medida da informação que a Rede Geodésica Nacional pode fornecer, sendo o trabalho técnico de geógrafos e cartógrafos desenvolvido no passado decisivo para a sua organização.
O Picoto da Melriça apresenta mais de dois séculos de idade e é um local de paragem obrigatória e que desperta muita curiosidade. Não são raros os casos de viajantes que desviam a rota para ficar a conhecer um local de grande simbolismo no nosso país. E essa rota muitas vezes passa pela maior estrada do país, nomeadamente a estrada nacional n.º 2.
O que pode avistar a partir do Centro de Portugal?
A este respeito destacamos uma invulgar rosa dos ventos existente no local, feita em pedra numa espécie de palanque, que facilmente orientará o visitante para os pontos cardeais. Tem zonas de interesse em todas as direções, que tanto pode perder de vista no horizonte como servir para se orientar num roteiro a partir deste local.
Merecem natural destaque as Serras que avistará a norte, nomeadamente a Serra da Lousã, e, inclusivamente a Serra da Estrela, se a meteorologia o permitir, sendo que esta dista próximo de 100 km deste ponto central do país. A boa visibilidade é de facto essencial para tirar partido deste local, já que para além das Serras mencionadas, também outros grandes maciços da Cordilheira Central como a Serra da Gardunha e a Serra de Aire e Montejunto podem ser apreciadas.
E apreciadas é mesmo o termo correto, pois encontram-se a distâncias suficientemente longínquas para reparar nos seus detalhes, sendo de destacar o contorno das suas silhuetas e as próprias texturas litológicas.
Nos pontos mais a sul é de destacar que se avistam as planícies do Alto Alentejo, valendo a pena referir que a lezíria ribatejana é também avistada. Na direção Sudoeste é ainda possível vislumbrar uma leve gravura da linha dourada do mar.
O que visitar nas redondezas do Centro de Portugal?
Numa zona contígua a este espaço situa-se o Museu da Geodesia, que retrata toda a história produzida por cientistas portugueses que permitiram chegar à definição e organização do centro do país. A sala de exposições do museu contempla com destaque uma exposição permanente onde se podem verificar instrumentos importantes para a atividade geodésica.
Vale destacar que a rota merece bem a pena o desvio, pois para além de ser o Centro Geodésico de Portugal, Vila de Rei tem inúmeros pontos de interesse em todas as estações do ano. Só a título de curiosidade deixamos a indicação de belíssimas Praias Fluviais, como a Praia Fluvial da Zaboeira, a Praia Fluvial do Penedo Furado e a Praia Fluvial de Fernandaires, que curiosamente tem água a uma temperatura mais elevada que o habitual das praias portuguesas.
Estas são zonas a visitar no Verão, mas no Inverno pode igualmente aventurar-se pela Água formosa, Aldeia de Xisto da freguesia e Concelho de Vila de Rei ou visitar o Museu do Fogo e da Resina. Uma referência final à gastronomia, onde os famosos maranhos e o bucho são reis. Portanto, ótimas razões para ir, literalmente, ao Centro de Portugal.