O português é uma das línguas mais faladas no mundo, sendo a primeira língua em países como Portugal, Brasil, Angola e São Tomé e Príncipe. Em Moçambique, é a mais utilizada, tendo também estatuto oficial em Cabo Verde, Timor-Leste e Macau, onde convive com outras línguas locais.
Mas a sua influência vai muito para além destas fronteiras, sendo amplamente falada, embora sem carácter oficial, em países como Andorra, Luxemburgo, Namíbia e Paraguai.
Mas se há um aspeto verdadeiramente curioso sobre a nossa língua, é a forma como a história dos Descobrimentos moldou a toponímia e os vocabulários de diversos países. Um dos exemplos mais intrigantes é a relação entre Portugal e a laranja!
No século XVI, foram os navegadores portugueses que introduziram a laranja doce na Europa, trazendo-a das suas expedições pelo Oriente. O impacto foi tal que, em várias línguas, o nome do fruto ficou diretamente associado ao nosso país.
Por exemplo, em romeno, a laranja chama-se “portocalâ”; em búlgaro, “portokal”; em grego, “portokali”; e em turco, “portokal”. Esta influência estende-se até ao farsi, a língua oficial do Irão e do Afeganistão, onde “porteqal” significa laranja.
O mesmo acontece no árabe, falado em cerca de 20 países, onde “burtuqal” designa o fruto que os portugueses ajudaram a espalhar pelo mundo.
Se a laranja ganhou o nome do nosso país, de onde vem afinal o nome “Portugal”?
A sua origem remonta ao século X e está ligada ao termo “Portucale”, que, por sua vez, deriva da localização portuária da região do Porto. O nome “Cale” já existia antes da chegada dos romanos, podendo derivar do grego “kalós” (belo), de um termo celta para “porto” ou até da mitologia gaélica.
Quando os romanos chegaram, acrescentaram “Portus” ao nome original, originando “Portus Cale”, que daria origem ao nome do nosso país.
Com a queda do Império Romano e as invasões visigóticas, o nome “Portucale” manteve-se e foi utilizado nos documentos a partir do século VII.
Mais tarde, com a chegada dos muçulmanos em 711, a região esteve sob ocupação islâmica durante vários séculos, até que Vímara Peres, um líder militar galego, a libertou em 868, fundando o Condado Portucalense.
Este condado, situado entre o Douro e o Minho, tornou-se gradualmente mais independente do Reino de Leão. Em 1096, foi entregue a Henrique de Borgonha, que casou com a infanta D. Teresa de Leão.
O desejo de autonomia cresceu e culminou na independência de Portugal em 1143, com D. Afonso Henriques a proclamar-se rei.
O Condado Portucalense foi apenas o início da identidade nacional. Com o passar do tempo, Portugal foi alargando os seus territórios para sul, consolidando-se como um reino independente. A cidade do Porto, como refere Camões, ficou para sempre como “a leal cidade donde teve origem (como é fama) o nome eterno de Portugal”.
Da história do nosso nome ao curioso legado da laranja, a língua portuguesa e a nossa herança continuam a ecoar pelo mundo, marcando culturas e vocabulários de uma forma que poucos imaginam.