No concelho de Montemor-o-Novo, encontra-se a aldeia de Safira, com nome de pedra preciosa. Mas desta jóia apenas restam destroços e os vestígios de um local que foi em tempos cheio de vida e próspero. Hoje, Safira é um pedaço de terra esquecido e perdido no meio do Alentejo, estando desabitada desde 1930 e votada ao abandono total desde 1965.
Segundo os historiadores, este abandono deveu-se à necessidade de procurar melhores condições de vida e de futuro, já que a aldeia era bastante isolada. Ainda se podem visitar as ruínas de Safira, que teimam em se erguer e acolher os poucos visitantes, que podem visitar a igreja, algumas casas, o lago e o cemitério. Para fazer a sua visita, basta existir uma placa toponímica que ainda hoje existe bem visível na EN4. Seguindo esse caminho, chegará a Safira e às suas ruínas.
Safira é uma das muitas aldeias, espalhadas pelo nosso país, que o progresso votou ao abandono. A falta de infraestruturas, ligações a outros locais e de oportunidades de emprego foram as principais causas para o abandono deste território que, segundo relatos, fora em tempos um local modesto, mas cheio de vida.
Em 1768, por exemplo, o padre Thomás de Vasconcelos Camello, na altura pároco da Igreja de Nossa Senhora de Safira, referia que na freguesia existiam “57 propriedades, e nelas se incluem 120 fogos onde residem 578 pessoas. No alto de uma charneca estão edificadas a igreja e as casas do padre e do sacristão”.
No mesmo documento histórico, refere-se a prática religiosa do local, a existência de um templo e respetivas alfaias, registos de atividade agrícola e pastorícia e até registo dos danos causados pelo terramoto de 1755 (“uma racha no arco da Capela-mor, outra na parede lateral direita e alguns prejuízos no campanário e no sino”).
Há ainda indícios da existência de uma fábrica de cal, de uma mina de arsénio na Herdade Gouveia de Baixo, e de uma mina de cobre e ferro na Herdade da Caeira. Deste pequeno relato, pode-se imaginar uma aldeia simples e modesta, que não conseguiu resistir ao avanço dos tempos no que à vivência humana diz respeito. A natureza acabou por tomar conta das ruínas, sendo abundantes os pássaros e as flores.
Safira foi local de título de nobreza, para Augusto Dâmaso Miguens da Silva Ramalho da Costa, que era um grande proprietário em Montemor-o-Novo, tendo sido Presidente da Câmara local.
Por decreto do rei D. Luís, foi elevado a Visconde, a 30 de abril de 1886, e mais tarde recebeu o título de conde de Safira. O nobre acabou por falecer a 3 de fevereiro de 1945, sendo que o título se extinguiu com ele.
A igreja de Safira é também rica em história, embora se encontre, tal como as restantes construções, votada ao abandono. Hoje, restam a fachada e paredes de um edifício que foi mandado construir no bispado do Infante Cardeal D. Afonso, no séc. XVI, filho de D. Manuel I e que foi bispo de Évora e de Lisboa. A igreja foi muito afetada pelo terramoto de 1775, sendo que este evento marcou o início da decadência da região, que se consumou totalmente no séc. XX.
Apesar de tudo, as ruínas de Safira merecem uma visita atenta, de modo a que possa absorver os vestígios do passado que nesta aldeia se encontram, imaginando a vida que aqui em tempos existiu. E se procura mais aldeias abandonadas ou desabitadas para visitar, sempre pode explorar um pouco mais Drave ou Broas, por exemplo.