A arquitetura tipicamente alentejana é a primeira coisa em que um visitante da aldeia de Santa Susana repara, com as suas casinhas de rés-do-chão, caiadas de branco, com a barra azul e encimadas pelas grandes chaminés.
Aliás, diz-se mesmo que foi em Santa Susana que se iniciou a tradição de caiar as casas de azul, sendo daí que veio a designação da cor “azul de Santa Susana”. Quer a tradição oral seja verdadeira ou não, o certo é que os moradores desta aldeia têm muito orgulho nesta.
Não é por acaso que, a cada dois anos, os moradores se reúnem para pintar as casas, mesmo aquelas se se encontram mais ao abandono, para que se preservar e valorizar a beleza desta aldeia incrível.
Localizada entre duas ribeiras, que são afluentes da margem direita da ribeira de Alcáçovas, Santa Susana encontra-se distanciada da sede do concelho (Alcácer do Sal) em cerca de 15km, o que constitui um desafio para os seus moradores.
Afinal, nesta aldeia com menos de cem habitantes, não existem mercearias. O que não falta, no entanto, é um espírito de comunidade muito forte, que acolhe os visitantes com uma simpatia e alegria tipicamente alentejana, mas que ganha todo um novo sabor e contornos neste recanto tão belo de Portugal.
Os visitantes, para além de se maravilharem com os belos casarios, poderão também fazer uma visita ao cruzeiro e à Igreja Matriz. Mas o que recomendamos mesmo é que percorra as poucas ruas (são dez, no total) de Santa Susana e contemple toda a envolvência desta aldeia tão peculiar.
Procure conversar com a comunidade, maioritariamente envelhecida, e verá que passará bons momentos a ouvir as histórias de um passado que já lá vai. Procure também visitar o Teatro Comunitário onde, uma vez por semana, poderá assistir a uma aula de yoga, e onde ocorrem ocasionalmente concertos.
Como seria de esperar, as opções de alojamento e de comida não são muitas. Aliás, só existe um local onde pernoitar, que por acaso se trata também do único restaurante da aldeia.
A especialidade é o arroz de cabidela, mas, como não podia deixar de ser, estão presentes no menu pratos tipicamente alentejanos, como a açorda de alho. O artesanato é também uma parte importante desta freguesia, podendo os visitantes admirar as miniaturas de cortiça e madeira e as diversas rendas e bordados da região.
A história da região é antiga, tendo-se encontrado machados pré-históricos e uma pulseira de ouro maciça datada da idade do bronze. Nesta freguesia, localiza-se também uma mina de carvão, a Mina da Ordem. Mas Santa Susana nasceu como alojamento temporário para trabalhadores agrícolas, que acabaram por se fixar ali mesmo. E quem os pode censurar, com uma envolvente tão maravilhosa como esta?
O nome da aldeia tem também uma origem algo atribulada, de acordo com a lenda. Santa Susana era uma jovem, que apascentava ovelhas, lia a Bíblia e ajudava os pobres no que podia. Mas de nada lhe serviu a sua fé e boa-vontade quando foi presa pela Inquisição e queimada viva. Segundo a tradição oral, esta menina doce e que mais tarde deu nome a esta aldeia morreu a rezar.
A tradição do Madeiro de Natal está ainda muito presente em Santa Susana. Esta tradição consiste em acender uma lareira, cujo fogo permanece ateado desde a véspera de Natal até ao Ano Novo.
Outras festas da região são as festas de Santa Susana, a 13 de Maio, e as festas tradicionais, a 15 de Agosto, altura em que esta pequena aldeia tem mais vida. Afinal, é durante o verão que os visitantes aqui aparecem, para admirar a arquitetura e dar dois dedos de conversa com a simpática população de Santa Susana.
Outros visitantes, estes mais frequentes, pertencem ao centro budista tibetano Thubten Phuntsog Gephel Ling, situado a cerca de quatro quilómetros da aldeia, e que promove retiros e workshops regulares para quem está interessado. Um autêntico retiro de contemplação em pleno Alentejo.
Santa Susana, pela sua paisagem, pelos seus casarios e, acima de tudo, pelos seus habitantes, merece uma visita demorada da sua parte. Verá que a experiência será daquelas que vai ficar gravada na sua mente e, quem sabe, irá alterar a sua visão do que é a vida.