Já alguma vez se indagou qual é a igreja mais antiga de Portugal? Esta igreja simples, mas bela, tem mais de 1000 anos e foi testemunha silenciosa da nossa história, tendo os gostos das épicas sido refletidos na sua atual traça. É em Lamego que pode encontrar a capela de São Pedro Balsemão, erguida nos séculos VII e VIII. É considerada a mais antiga igreja nacional, apesar de muito modificada. No entanto, conserva ainda o santuário, datado do séc. VII, e com origens visigóticas.
A sua origem, na época da Reconquista, é um dos poucos exemplares que nos restam da arquitetura religiosa da Alta Idade Média, assim como a de São Frutuoso, em Braga (séc. VII) e S. Pedro de Lourosa, em Oliveira do Hospital (séc. X).
A estrutura primitiva deste espaço foi preservada na entrada da capela-mor, com destaque para o emprego de pedras de grande dimensão, colocadas no alto do remate dos pés direitos dos muros. O arco com moldura no intradorso é uma referência arquitetónica moçárabe, e a decoração de base geométrica e profusa tem origens suevo-visigóticas.
A decoração é completada com rosetas, círculos, cruciformes, meandros, ornatos em dentes de lobo e corda, numa profusão de elementos de inspiração asturiana. Sabe-se disto pela afinidade existente com a igreja moçárabe de S. Pedro de Lourosa, datada de 912.
Já em 1643, o espaço foi remodelado, sendo que os morgados da região, Luís Pinto de Sousa Coutinho e esposa, mandaram proceder à reedificação do templo e à sua integração no solar dos viscondes de Balsemão. É desse período que data o aspeto exterior atual, muito marcado pela sobriedade. O acesso ao templo é feito por portas laterais numa ampla escadaria, sendo que, sobre a porta da fachada Norte, se destacam três pedras de armas dos morgados e sobre o telhado uma singela sineira.
No interior do templo, podem-se encontrar diversas epígrafes funerárias romanas, sendo que o término augustal do imperador Cláudio está datado do ano 43. Estes elementos mostram bem a preocupação romana em conservar, reutilizar e mostrar elementos tão prestigiantes.
No séc. XIV, o então bispo do Porto, D. Afonso Pires, elegeu a capela para sua sepultura. O seu túmulo em granito lavrado foi colocado no extremo de uma nave lateral, podendo ver-se nele representadas três cenas da vida de Cristo: na face esquerda, a Ceia; na direita, o Calvário; e na testeira, o Salvador abençoando a Virgem coroada. Além disso, o bispo mandou erguer uma capela ou altar em honra de Santa Maria, onde, no século V, foi colocada uma imagem em pedra de Ança de Nossa Senhora do Ó, a Virgem Grávida, que ainda hoje lá se encontra.
Hoje, o templo está classificado como Monumento Nacional, pelo Decreto nº7 586, DG, 138, de 8 de julho de 1921. A sua gestão está a cargo da Direção Regional do Porto do IPPAR (Instituto Português do Património Arquitetónico).
Quais são as outras igrejas mais antigas de Portugal?
Por estranho que possa parecer, não é fácil datar este tipo de monumentos. O primeiro grande problema é que quase não existem documentos oficiais que atestem a data de inauguração de uma determinada igreja ou outro monumento. O segundo pormenor é que estas igrejas foram sendo alteradas e reconstruídas ao longo dos séculos, misturando estilos arquitetónicos que podem confundir os especialistas e impedir que se chegue a uma data concreta de inauguração.
No entanto, podemos destacar, com alguma certeza, outras igrejas muito antigas em Portugal: a Igreja de São Frutuoso (Braga/século VII), a Igreja de Nossa Senhora da Fresta (Trancoso/século XII), a Igreja de São Pedro de Lourosa (Oliveira do Hospital/século X) e a Igreja de Cedofeita (Porto/século XI).
Importa referir que estas datas não são consensuais. Vários historiadores afirmam, por exemplo, que a Igreja da Cedofeita existe pelo menos desde o ano 446, mandada construir pelo rei Suevo Reciário, fazendo dela a verdadeira igreja mais antiga de Portugal. O problema é que a idade da Igreja de Cedofeita é calculada apenas com base em lendas, como a que terá sido mandada construir em agradecimento a um suposto milagre.
A partir dos séculos XI e XII, começam a ser construídas em Portugal igrejas de muito maiores dimensões. A Sé Braga, a Sé de Lisboa e a Sé de Évora são os melhores exemplos e mais fáceis de datar do que as igrejas mencionadas anteriormente. Foram construídas naquelas que eram algumas das cidades mais importantes do Reino de Portugal naquela época e ainda hoje se mantêm de pé, embora com muitas reconstruções e algumas alterações da traça original.