A capital portuguesa tem uma longa história, um conjunto de atrações fantásticas, paisagens belíssimas e gastronomia ímpar, o que torna Lisboa uma das cidades mais apelativas da Europa. Tudo isto leva a que Lisboa tenha também inúmeras curiosidades, que lhe dão ainda mais charme. Por exemplo, sabia que o sinal de trânsito mais antigo do mundo se encontra nas ruas da nossa capital?
É verdade! Trata-se de uma placa, autêntica joia histórica, que se encontra numa das ruelas mais famosas de Lisboa, na Rua do Salvador, nº 26, mesmo perto das Portas do Sol.
Antigamente, esta era uma importante artéria da cidade, apesar de hoje ser usada mais por facilitar o caminho entre a Rua das Escolas Gerais e a Rua de São Tomé. No entanto, no século XVII, a rua fazia parte do percurso que ligava o castelo à zona ribeirinha, o que a tornava muito concorrido e utilizada entre quem tinha afazeres junto da corte.
Assim, em 1668, D, Pedro II mandou distribuir diversos sinais pela capital – 24, para ser mais preciso. De todos esses sinais, apenas este chegou aos nossos dias. Na placa, podemos ler a seguinte mensagem: “Ano de 1686. Sua Majestade ordena que os coches, seges e liteiras que vierem da Portaria do Salvador recuem para a mesma parte”.
Afinal, Lisboa era já então uma capital vibrante, sendo que Portugal era um dos reinos mais importantes do planeta. Para aqui vinha a nobreza e mercadores e, como as ruas eram bastante estreitas, eram comuns os encontros e desencontros entre liteiras e coches vindos de direções diferentes.
Nessas alturas, ninguém queria recuar e ceder passagem, até porque fazer recuar os animais era uma tarefa bem complicada. Portanto, os problemas surgiam frequentemente, sendo comum rebentarem discussões que descambavam em pancadaria, até porque era comum a honra ser lavada com sangue. Assim, a Rua de Salvador, de grande importância, mas estreita, tornava-se especialmente problemática.
Portanto, a mensagem colocada na placa visava descomplicar o trânsito, dizendo que quem descia perdia a prioridade em relação a quem estivesse a subir (ou seja, tinha prioridade quem ia para o castelo). Quem descia a rua estava obrigado a recuar até à atual Rua de São Tomé. Dessa forma, diminuíram-se grandemente as disputas.
O problema do trânsito era mesmo sério na Lisboa setecentista, tendo o rei criado o equivalente a um Código da Estrada, existindo penalidades para os incumpridores.
Por exemplo, cocheiros, lacaios e liteiros foram proibidos de usar armas, já que se temia que estas fossem usadas nas discussões de trânsito. Quem desobedecesse a estas regras deveria pagar uma multa pesada, de 2.000 cruzados, e arriscava-se a ser degredado para Pernambuco, Baía ou Rio de Janeiro.
Se quer partir à descoberta desta placa, saiba que ela se encontra à direita de quem sobe. Normalmente, quem aqui passa não lhe presta muita atenção, devido à azáfama do quotidiano ou às muitas coisas que há para ver na cidade, podendo a placa passar despercebida aos mais distraídos.
Mas agora, já sabe o que esta placa representa e a sua importância histórica, que nos leva a um passado que tantas semelhanças acaba por ter com os nossos dias.
E já que está por Alfama, aproveite para passear pelos becos e ruelas deste belíssimo bairro histórico de Lisboa. Alfama é considerado o bairro mais antigo da capital portuguesa e o segundo mais velho da Europa.
Apesar de terem passado séculos desde a sua construção, continua a manter um aspeto medieval que lhe proporciona um charme único e muito próprio. Para o apreciar, nada como deambular pelas suas ruas estreitas e sinuosas e apreciar cada pequeno detalhe.