Na estrada para Sortelha, antes de subirmos os impressionantes rochedos graníticos da Serra da Pena, podemos ver, do lado esquerdo, umas ruínas imponentes. Estas são as ruínas do Hotel da Serra da Pena, mais conhecido por Termas de Radium, cuja história nos mostra as muitas voltas que a ciência dá. à medida que a ciência progride, desfazem-se uns mitos e criam-se outros, e esta é precisamente a moral da história das ruínas deste local.
Foi em 1898 que Marie e Pierre Curie descobriram o rádio, que rapidamente passou a ser amplamente utilizado na medicina. Pensava-se que os seus efeitos eram benéficos para a nossa saúde, e que as águas com este elemento eram, por consequência, boas para tratar uma grande panóplia de males físicos, de doenças da pele a problemas circulatórios, renais e tudo o resto que se possa imaginar.
Foi graças ao aumento dos estudos sobre o rádio, que foram acelerados durante a Segunda Guerra Mundial numa tentativa de construir a bomba atómica, que a comunidade científica começou a perceber que este fazia mais mal que bem.
No entanto, enquanto não se chegou a esta conclusão, a exploração de águas minerais radioativas foi muito popular, tendo proliferado as termas e hotéis com esta finalidade um pouco por toda a Europa e América do Norte.
A água das nascentes da região envolvente à Serra da Pena foi analisada e descobriu-se que eram das mais radioativas do mundo, com este facto a ser divulgado até num Congresso, que teve lugar em Lyon em 1927.
Entretanto, algures entre 1910 e 1920, um conde espanhol que tinha ido caçar por aquelas bandas experimentou levar algumas garrafas de água para tratar uma doença de pele da sua filha. Os resultados foram tão bons que ele decidiu começar a explorá-las e erguer ali um hotel termal.
Este hotel foi construído e decorado com grande requinte, tendo 90 quartos e capacidade para hospedar até 150 pessoas. As instalações termais estavam equipadas com tudo o que era necessário para os tratamentos recomendados na época, que incluíam, para além de banhos e aplicações de lamas, tratamentos como lavagens do cólon e aplicações de compressas elétricas. Também era prescrita aos hóspedes a ingestão de 1 litro de água radioativa por dia e, para além disso, esta água era engarrafada e vendida para o exterior.
É claro que, quando se começaram a divulgar os efeitos nefastos do rádio, a atividade das Termas de Radium diminuiu de forma drástica, com a estância termal a ser encerrada em 1945.
Depois disso, o hotel foi ainda explorado, tendo passado por diversos donos, até que o seu recheio foi vendido e a propriedade foi deixada ao abandono. O atual proprietário é português e tem (ou teve) planos para o recuperar, embora a envergadura do projeto leve a que este continue na gaveta.
Passando pelas ruínas, é notório que estes anos de abandono não retiraram magnificência ao edifício. Algumas das paredes continuam de pé, e ainda podemos ver colunas rematadas por pináculos e frisos recortados, que evocam ameias.
Todo este complexo é um jogo de volumes diferentes, com cada edifício a ter o seu próprio formato e características, estando todos eles unidos por alguma parede comum, por escadas ou por varandas.
No entanto, o efeito final é harmonioso, mesmo que hoje lhe faltem alguns dos elementos essenciais. Por entre a vegetação, ainda podemos ver pedaços do chão em mosaico, decorado com padrões geométricos. Das madeiras, sobrevivem apenas algumas portas e uns quantos caixilhos das janelas, todos no mesmo edifício.
Longe da estrada principal e tendo como cenário de fundo os penedos graníticos da Serra, este é um local silencioso e que nos transmite alguma paz, embora também algum descontentamento por um edifício tão grandioso estar votado ao abandono.
Quer seja renovado ou se mantenha como está, este é um daqueles lugares que nos lembra que tudo no mundo é transitório, mesmo o que hoje se considera uma verdade inquestionável. Mesmo assim, não podemos deixar de sonhar com o dia em que o Hotel da Serra da Pena venha a conhecer uma nova vida.