Portugal é um país rico em tradições e costumes, que ainda hoje se encontram bem enraizados. A época natalícia não é uma exceção, e existem ainda diversos rituais que se mantêm vivos ano após ano, um pouco por todo país, que vão um pouco mais além da árvore enfeitada, do Pai Natal e do presépio. Mas existem tradições de Natal um pouco mais diferentes e curiosas.
Muitas destas tradições têm origens pagãs, do tempo em que nesta altura se celebrava o solstício de Inverno. Era uma época de agradecer aos espíritos pelas boas colheitas do ano que terminava e pedir sorte para o próximo ano, libertando as más energias. Este tipo de tradições de Natal é visível ainda em alguns locais de Trás-os-Montes.
Outros hábitos e tradições surgiram sem qualquer explicação ou por obra do acaso. É o caso do Bananeiro, em Braga, por exemplo. Mais antigos ou mais recentes, estes hábitos acabaram por se enraizar na população e se transformar em fenómenos importantes da cultura popular. Descubra 7 curiosas tradições de Natal em Portugal.
1. Os caretos de Varge
Na aldeia de Varge, em Trás-os-Montes, celebra-se o solstício de Inverno com a chamada Festa dos Rapazes, em que os caretos espalham a desordem na aldeia. Assim, de 24 a 26 de dezembro, diversos jovens vindos desta aldeia regressam às suas origens para participar na festa e manter viva a tradição. A reunião dos rapazes ocorre dia 24 de dezembro, em que estes se organizam para preparar em segredo o que irá suceder nos dias seguintes.
No dia 25, depois da missa de Natal, os rapazes aparecem vestidos de caretos, chocalhando e gritando, acompanhados por um gaiteiro. Atira-se feno ao povo, as raparigas são chocalhadas, os animais são provocados, e procede-se com a tradição do “cantar das loas”, onde se critica e ridiculariza acontecimentos e a conduta das pessoas na aldeia durante o ano.
2. Bananeiro, em Braga
Aquela que é uma das tradições de Natal preferidas dos bracarenses começou há cerca de 40 anos, quando os comerciantes da Rua do Souto decidiram reunir-se à porta da Casa das Bananas, no final da tarde do 24 de dezembro, com o intuito de desejar Boas Festas a conhecidos e desconhecidos, tudo acompanhado de um cálice de vinho moscatel e de uma banana.
Aos poucos, o hábito de “comer uma banana e beber um banano” passou de ser um momento de convívio de um grupo restrito de amigos e clientes a um ponto de encontro de todos os bracarenses na véspera do Natal. Hoje em dia, nas tardes do 24 de dezembro, a rua enche-se com milhares de pessoas que procuram cumprir o ritual.
3. “O menino mija”, nos Açores
A tradição do “menino mija” tem-se mantido nos Açores, símbolo da tradição do arquipélago. Assim, entre os dias 24 de dezembro e o dia de Reis, a 6 de janeiro, diversos grupos de homens e mulheres andam de casa em casa, a visitar família e amigos, e a provar os doces e licores tradicionais que foram feitos ao longo do ano.
Antes de entrar, é quase obrigatória a questão “o menino mija?”. Esta tradição levou até à criação de um licor com o mesmo nome, com autoria da fábrica de licores Eduardo Ferreira, e que pode ser encontrado em superfícies comerciais e online, e que costuma esgotar na época de Natal.
4. Os caretos de Ousilhão
No concelho de Vinhais, na aldeia de Ousilhão, celebra-se também a Festa dos Rapazes, em honra de Santo Estêvão, nos dias 24, 25 e 26 de dezembro. A festa inclui a presença dos caretos, com as suas tropelias e travessuras, e com o caos que geram na aldeia após a missa, fazendo as tradicionais rondas em busca de ofertas de enchidos.
Os caretos mantêm ainda o seu papel de figura diabólica, que serve para libertar as energias contidas e anunciar um novo ano. Os habitantes da aldeia preparam uma mesa bem recheada com comida e bebida, para receber os “bons habitantes”, representados pelos moços da aldeia, e os “maus visitantes”, representados pelos caretos.
5. O Magusto da Velha, em Aldeia Viçosa
Em Aldeia Viçosa, na Guarda, celebra-se a 26 de dezembro o Magusto da Velha, tradição que remonta à história de uma velha senhora, com muito dinheiro, que quis deixar uma renda perpétua à Junta de Freguesia do local. Esta quantia serviria para oferecer aos pobres uma dose de castanhas e vinho. No entanto, toda a gente deveria rezar, por altura do Natal, um Pai-Nosso à sua alma.
Com o tempo, tudo se foi aliando e assim, no dia 26 de dezembro, chovem cerca de 150 kg de castanhas da torre da Igreja, enquanto os sinos tocam sem parar. Para além de rezar pela alma da velha senhora, a população enche os bolsos com castanhas, que depois são assadas nas brasas do Madeiro de Natal. Também é distribuído o vinho tinto, que é usado para brindar à velha.
6. O madeiro de Natal
Nalgumas zonas do interior do país, a noite do 24 de dezembro é marcada pela cerimónia da queima do Madeiro, tradição que se realiza sobretudo na área que vai de Trás-os-Montes até ao Alto Alentejo. O Madeira é uma grande fogueira, feita normalmente no adro da Igreja, onde a população se reúne depois da missa do Galo. Algumas fogueiras chegam a atingir a altura da Igreja e ardem toda a noite, até que se apagam.
A queima é antecedida pelo ritual da apanha da madeira e pelo seu transporte até ao local, que se realiza de forma diferente consoante a região do país. Em Penamacor, acende-se o maior Madeiro de Natal de Portugal, festejo que se encontra aliado a várias atividades natalícias.
7. A Consoada
Na maioria das casas portuguesas, está presente o inevitável bacalhau cozido com batatas e com ovos na mesa de Consoada. Mas há regiões do país onde este prato é substituído por outros, ou é complementado por outras iguarias.
No Algarve, é muito popular o galo de cabidela. Na Beira litoral, aprecia-se muito o polvo cozido nesta época. Na zona de Lisboa e Vale do Tejo, a Consoada é a altura perfeita para se comer um peru assado.
Em Trás-os-Montes e Alto Douro, o polvo é protagonista, bem como a pescada ou congro frito. Nos Açores, a canja da galinha destaca-se, bem como os torresmos com inhame e a morcela com batata-doce. Já na Madeira, as tradicionais espetadas são as rainhas da Consoada.