Trevões, no concelho de São João da Pesqueira, integra uma paisagem marcada pelos socalcos que moldam o Douro à medida que o rio entra em Portugal. O cenário de montanhas, vales profundos e vinhas em patamares evidencia o engenho das comunidades locais que, ao longo dos séculos, aperfeiçoaram técnicas para produzir vinho de elevada qualidade.
Para além do famoso Vinho do Porto, a zona explora outras culturas, como as hortícolas e as oliveiras, fruto de um clima que alterna entre influências do Douro e condições propícias já um pouco mais a sul.
A reconversão das aldeias históricas na região teve um impulso adicional com o projeto das Aldeias Vinhateiras do Douro, lançado em 2001. Trevões insere-se neste programa de recuperação patrimonial, à semelhança de Provesende e Salzedas, o que se reflete na renovação das casas tradicionais, na valorização de solares e de monumentos religiosos.
Embora a localidade seja pequena, alberga um conjunto arquitetónico interessante, com solares como o Solar dos Caiados ou o Solar dos Melos, e património notável, como o Museu de Arte Sacra, o Museu de Trevões, o Paço Episcopal e as igrejas e capelas dispersas pelas ruas antigas.
A aldeia possui ainda traços de uma judiaria, partilhando essa herança cultural com outras povoações próximas, caso de Várzea de Trevões, Espinhosa, Riodades, Vilarouco e Pereiros. Este pormenor chama a atenção de quem não espera encontrar tanta riqueza histórica e cultural numa zona aparentemente isolada.
Percorrer as ruas de Trevões, onde predomina a arquitectura em granito e um ambiente ainda marcado pelo ritmo rural, torna clara a importância económica e social que a povoação teve no passado.
Em tempos, chegou a ser sede de concelho, o que lhe granjeou algum desenvolvimento. Hoje, a vida centra-se muito à volta do vinho e das atividades de enoturismo, mas há ainda vestígios de outras práticas agrícolas, caso do azeite e de algumas hortícolas.
Para quem pretende contemplar a região à distância, o Miradouro de São Salvador do Mundo está relativamente perto, bem como a aldeia de São Xisto, outra atração para quem gosta de ambientes genuínos e paisagens imponentes.
A rota das Aldeias Vinhateiras permite uma visita mais abrangente, abrangendo locais como a Ucanha, Barcos ou Salzedas, povoações que, tal como Trevões, têm fortes ligações à viticultura.
Para os adeptos de caminhadas, existe a “Rota das Vinhas”, com cerca de 17 quilómetros, com início e fim em Ervedosa. O percurso atravessa vários pontos de interesse, com paisagens grandiosas e paragens em quintas onde é possível observar todo o ciclo do vinho.
É frequente os turistas aproveitarem para visitar propriedades vinhateiras como a Quinta da Gricha, a Quinta das Tecedeiras, a de Ventozelo ou a da Fonte Nova.
Em cada uma pode-se aprender mais sobre a produção, conhecer os lagares e saborear provas de vinho, momento que leva a descobrir diferentes nuances e castas típicas desta zona do Douro.
Quem se sentar à mesa em Trevões poderá provar pratos que prestam homenagem à gastronomia regional, concebida para sustentar as gentes do campo em épocas de grande esforço físico.
Destacam-se o cabrito assado, o arroz de cabidela e a feijoada transmontana, receitas que ganham um toque especial quando combinadas com os vinhos locais. São sabores que convidam à partilha e à conversa, refletindo a hospitalidade própria do Douro.
Para além do vinho, a região produz artesanato de qualidade. Adquirir uma peça típica permite ficar com uma recordação e, ao mesmo tempo, apoiar a economia local. Muitos habitantes continuam ligados a este sector, perpetuando técnicas e motivos ornamentais que passam de geração em geração.
Embora a vida nestas aldeias seja muitas vezes exigente, há um empenho crescente em conservar as tradições e a identidade que faz do Douro um destino único.
No final da estadia, fica a sensação de que Trevões representa um Douro menos difundido, mas igualmente autêntico. É um local onde a paisagem vinhateira marca o compasso das estações, onde o clima pode ser rigoroso, mas também onde a gastronomia e a cultura popular acompanham o turista a cada rua percorrida.
Trevões é, assim, um ponto de partida e de chegada para quem procura compreender o Douro profundo, com as suas encostas talhadas pela mão humana e a herança de um saber-fazer construído ao longo de séculos.