Já imaginou como seria viver num lugar onde o vizinho mais próximo fica a mais de dois mil quilómetros de distância? E onde a única forma de chegar ou sair é por meio de um navio que demora seis dias a fazer o trajecto? Pois esse lugar existe e chama-se Tristão da Cunha, o arquipélago habitado mais isolado do mundo, localizado no sul do Oceano Atlântico.
E o mais incrível é que esse lugar tem uma ligação com Portugal, pois foi descoberto por um navegador português em 1506. Quer saber mais sobre esta ilha misteriosa e fascinante?
Tristão da Cunha é um arquipélago formado por seis ilhas vulcânicas, sendo a maior delas a Ilha de Tristão da Cunha, onde fica a única vila do arquipélago, chamada Edimburgo dos Sete Mares. As outras ilhas são: Ilha Nightingale, Ilha Inacessível, Ilha de Gonçalo Álvares (ou Ilha Gough), Ilha do Meio e Ilha Stoltenhoff. O arquipélago faz parte do território britânico ultramarino de Santa Helena, Ascensão e Tristão da Cunha, mas tem uma constituição própria e um governo local.
O arquipélago foi descoberto pelo navegador português Tristão da Cunha em 1506, quando estava a caminho da Índia. Ele batizou a ilha principal com o seu nome, mas não conseguiu desembarcar nela por causa do mau tempo. Os portugueses não se interessaram em colonizar a ilha, mas usaram-na como ponto de referência para as suas rotas marítimas. A ilha também foi visitada por outros exploradores europeus, como os holandeses, os franceses e os ingleses.
A primeira tentativa de colonização da ilha foi feita pelos holandeses em 1643, mas desistiram após alguns meses. A segunda tentativa foi feita pelos franceses em 1767, mas também abandonaram a ilha após alguns anos.
A terceira tentativa foi feita pelos ingleses em 1816, quando ocuparam a ilha para evitar que os franceses a usassem como base para resgatar Napoleão Bonaparte, que estava exilado na ilha de Santa Helena. Os ingleses construíram uma guarnição militar na ilha e permaneceram lá até 1817.
A primeira colonização permanente da ilha foi iniciada em 1817 por um grupo de pessoas liderado por Jonathan Lambert, um americano que se declarou imperador da ilha. Ele chegou à ilha com três companheiros: dois americanos e um italiano.
Estes pioneiros dedicaram-se à agricultura e à pesca e receberam alguns visitantes ocasionais. Porém, em 1818, Lambert e um dos americanos morreram afogados num acidente de barco. Os outros dois colonos decidiram ficar na ilha e juntaram-se a alguns desertores da guarnição inglesa.
Em 1821, chegou à ilha o reverendo William Glass, um escocês que tinha servido na guarnição inglesa. Casou-se com uma das filhas do italiano e tornou-se o líder da comunidade. Organizou a vida social e religiosa da ilha e incentivou a chegada de novos colonos. Entre eles estavam alguns escravos libertados das ilhas Maurício e alguns náufragos de um navio americano. Assim, a população da ilha foi aumentando e diversificando-se.
Em 1836, a ilha recebeu a visita do naturalista Charles Darwin, que ficou impressionado com a fauna e a flora da ilha. Ele recolheu alguns espécimes de plantas e animais e observou o vulcão que domina a paisagem da ilha. Também elogiou a hospitalidade e a simplicidade dos habitantes da ilha.
Corria o ano de 1867 quando a ilha foi oficialmente anexada ao Império Britânico e passou a receber um administrador nomeado pelo governo. Também passou a ter uma escola, uma igreja, um hospital e um correio.
Em 1961, a ilha viveu um momento dramático, quando o vulcão entrou em erupção e obrigou a evacuação de toda a população. Os seus habitantes foram levados para a Inglaterra, onde ficaram alojados numa base militar.
Alguns deles adaptaram-se à vida na Europa e decidiram ficar, mas a maioria quis voltar para a ilha assim que possível. Em 1963, após dois anos de exílio, os habitantes regressaram à sua terra natal e reconstruíram as suas casas e as suas vidas.
Como é a vida dos cerca de 250 habitantes da ilha
A vida na ilha de Tristão da Cunha é simples, pacífica e comunitária. Os cerca de 250 habitantes da ilha são descendentes dos primeiros colonos e formam uma grande família. Eles dividem-se em sete apelidos principais: Glass, Green, Hagan, Lavarello, Repetto, Rogers e Swain. Falam inglês com um sotaque peculiar e usam algumas palavras de origem portuguesa e africana.
Os habitantes vivem principalmente da agricultura e da pesca. Cultivam batatas, cenouras, couves, alfaces e outras hortaliças em pequenas parcelas de terra. Também criam ovelhas, vacas, porcos, galinhas e gansos para obter carne, leite e ovos.
E ainda pescam lagostas, atuns, peixes-espada e outros peixes no mar que rodeia a ilha. Além disso, colhem algas marinhas para usar como fertilizante ou como alimento para os animais.
Os moradores de Tristão da Cunha também têm acesso à educação e à saúde. Frequentam uma escola pública que vai do jardim de infância ao nono ano. Depois disso, alguns alunos podem continuar os estudos à distância ou ir para Santa Helena ou para o Reino Unido.
A ilha também tem um hospital com um médico residente e alguns enfermeiros. O hospital dispõe de equipamentos básicos e pode atender casos simples ou emergenciais. Casos mais complexos são encaminhados para Santa Helena ou para o Reino Unido.
É interessante verificar que, de tempos a tempos e por breves instantes, os humanos mais próximos dos habitantes da ilha são os cosmonautas da Estação Espacial Internacional.