Vide é um local especial, até porque faz a transição entre a serra da Estrela e a serra do Açor, mundos diferentes que se refletem na perfeição nesta pequena aldeia, como se as ruas e casas em xisto andassem lado a lado com a dureza do granito.
Antigamente, Vide era inteiramente construída em xisto, mas, com a emigração dos anos 50 do século XX, a população conseguiu mais recursos e, assim, começaram a pintar as casas de branco. Apesar disso, nos últimos anos, várias casas foram recuperadas mantendo a sua traça original de xisto.
Um dos melhores exemplos é o da casa mais antiga da aldeia, datada de 1734, que foi totalmente reconstruída, de maneira a preservar a sua identidade em xisto. É uma boa representante do que seriam as casas antigas na localidade: tem um alpendre que protegia da chuva nos dias de inverno e que, no verão, possibilitava momentos à sombra durante o dia, ou até amenas conversas com os vizinhos durante as longas noites mais quentes.
A vontade de regressar às origens de muitos dos moradores e seus descendentes está a dar uma nova cara a Vide, existindo cada vez mais casas recuperadas segundo as técnicas originais. A inspiração terá vindo de Piódão, que não está assim tão longe, e que conseguiu manter a sua essência em xisto e colher os frutos do turismo graças à sua conservação.
Foi com essa mesma intenção que Vide passou a fazer parte da rede das Aldeias de Montanha, conjunto de povoações espalhadas pela serra da Estrela e da Gardunha.
Os resultados dos esforços de preservação começam já a aparecer, com a recuperação do Lagar do Ribeiro, movido a água, que acolhe hoje um museu dedicado ao azeite. Mas há muito mais a descobrir em Vide, como a ponte medieval que atravessa a ribeira de Alvoco (curso de águas cristalinas que tem origem na Torre, em plena serra da Estrela).
Esta ribeira divide a povoação ao meio e marca a transição para a zona da serra do Açor, que fica já na outra margem. A água está sempre presente na aldeia, até porque, em Vide, são famosos os “poços de broca”, nome que os habitantes dão às cascatas. Na freguesia, existem três: o Poço de Broca de Muro, o Poço de Broca de Aguincho e o Poço de Broca da Barriosa, sendo este último o mais conhecido, porque tem uma praia fluvial mesmo ao seu lado.
Se quer explorar a aldeia, recomendamos uma caminhada pelas suas ruas, sinuosas e íngremes. Não será difícil descobrir as suas igrejas e capelas, a mais antiga das quais com 300 anos. Procure também visitar o centro de interpretação de arte rupestre, que nos ajuda a saber mais sobre quem por aqui passou há milhares de anos.
Caso seja adepto de caminhadas, pode seguir um dos vários trilhos que passam ou começam em Vide, como o percurso pedestre circular da Rota dos Meandros, que tem pouco mais de 5 quilómetros e é fácil de realizar. Por sua vez, existe um percurso que liga Vide à Torre, recomendado apenas a caminhantes experientes e em boa forma física.
E, caso queira partir à aventura numa caminhada, pode sempre fazer a grande rota das aldeias históricas de Portugal – uma das etapas, que liga Linhares da Beira a Piódão, passa por aqui.
A aldeia de Vide é um bom local de partida para conhecer a região e visitar os seus arredores com tempo e calma. Do lado da serra da Estrela, podemos destacar locais como as aldeias de Cabeça, Loriga, Alvoco da Serra, Sazes da Beira e Valezim.
Já no lado da serra do Açor, podemos destacar Piódão, Foz d’Égua, Chãs d’Égua, a Fraga da Pena e a Mata da Margaraça. Caso a sua visita seja feita no verão, procure dar um mergulho numa das inúmeras praias fluviais que por aqui existem, espalhadas pela ribeira de Alvoco e pelo rio Alva.
Por fim, antes de partir, não deixe de comprar alguma lembrança ou algum produto regional. Dessa forma, não só está a trazer uma recordação dos bons tempos que passou em Vide, como está a ajudar a economia local e a permitir que os habitantes possam continuar a viver por aqui e a recebê-lo de braços abertos sempre que decidir voltar para matar saudades.