Seria difícil imaginar que Vilar de Perdizes, uma pequena aldeia do concelho de Montalegre, em Trás-os-Montes, pudesse um dia chegar às bocas do mundo e construir para si própria um lugar na rota do turismo em Portugal. Mas conseguiu! E a forma como tudo aconteceu é um caso de estudo e uma prova que a força de vontade não tem limites.
A ascensão meteórica desta pequena aldeia transmontana começou em 1983, mas foi já no início deste século, em 2002, que ganhou maior repercussão. E tudo se deve a um homem: o Padre Fontes, um transmontano de gema, homem de honra e com muito amor pela sua terra e pelo povo que nela habita.
O Padre Fontes tornou-se pároco de Vilar de Perdizes e de outras aldeias da região em 1971. Inconformado com a falta de perspetivas de futuro para os habitantes da aldeia e com a fuga em massa para outros destinos, começou a procurar formas de criar empregos na terra e melhorar as condições de vida da população.
A ideia original começou por explorar todas as vertentes ligadas à medicina popular, feita com chás de ervas que crescem nos campos das redondezas. Criou assim o congresso de medicina popular. Mas esse congresso começou a atrair gente de todo o tipo: bruxos, cartomantes, curandeiros e videntes…
Em vez de desanimar, o Padre Fontes mudou de estratégia e aproveitou a onda criada em torno do congresso. Afinal de contas, as bruxarias atraiam mais curiosos do que os chás que ele pretendia, inicialmente, divulgar. As televisões e os jornais fizeram o resto e, em pouco tempo, Vilar de Perdizes tornava-se conhecida em todo o país.
Aproveitando a onda criada em torno do congresso de medicina popular, entretanto transformado em espetáculo de misticismo, a autarquia de Montalegre resolveu começar a celebrar cada sexta-feira 13 e também o dia das bruxas (31 de Outubro). Foi uma aposta ganha, tal como o futuro viria a revelar.
Hoje em dia, estas festividades atraem milhares de pessoas à sede do concelho, que passou a ser o local principal das celebrações para poder acolher tal número de visitantes. Todos se preparam para a festa, incluindo os restaurantes, que preparam menus e decorações a condizer.
A obra do Padre Fontes não se limitou a aumentar o turismo na sua terra. Reconstruiu também o Solar do Outão, na aldeia vizinha de Mourilhe, e transformou-o num hotel rural e também num local de divulgação da cultura e das tradições da região do Barroso. Quanto à sua Vilar de Perdizes, continua todos os anos a receber milhares de pessoas no seu congresso.
Nos últimos anos, Vilar de Perdizes tem tentado também recuperar o seu património para que deixe de ser apenas um destino de “bruxos e videntes”. A aldeia possui vestígios romanos, castros, menires e lagares rupestres. E recentemente foi construído um baloiço, com a icónica imagem de uma bruxa, tão associada a esta terra. Pode ainda visitar o Ecomuseu do Barroso e o Solar de Vilar de Perdizes.
A gastronomia é, obviamente, outro dos grandes motivos para visitar Vilar de Perdizes. Os pratos de carne são o grande destaque (ou não estivéssemos nós em plena região da vaca barrosã, uma das mais famosas do país). Os enchidos de porco, as compotas, os doces e o vinho são também de excelente qualidade.
E já que está por Vilar de Perdizes, talvez queira conhecer um pouco dos seus arredores. Chaves e Montalegre ficam bem perto e destacam-se como as melhores opções para um passeio. Ambas possuem um património histórico de relevo e uma gastronomia de fazer crescer água na boca.
Se preferir conhecer outras aldeias típicas desta região de Trás-os-Montes, pode dar um salto até Vilarinho de Negrões, Tourém (aldeia pertencente ao antigo Couto Misto) ou Travassos do Rio (onde pode visitar a famosa Torre do Boi, construída em honra a um dos mais bravos touros da aldeia).
E no final da sua visita a Vilar de Perdizes, não vá embora sem antes comprar uma pequena lembrança ou um produto regional. Além de ajudar o comércio local, irá também contribuir para que os seus habitantes possam continuar a viver aqui e a recebê-lo sempre de braços abertos.
É que, pese embora todo o esforço do Padre Fontes, a aldeia de Vilar de Perdizes passou de 1700 habitantes em 1960 para 400 em 2020. Trata-se de um exemplo perfeito do abandono a que o interior do país está sujeito e da luta, por vezes inglória, de quem tenta remar contra a maré. De quantos padres Fontes precisamos afinal?