A villa romana de São Cucufate é um monumento histórico em Vila de Frades, no município da Vidigueira, em Portugal. Consiste nas ruínas de um complexo do período romano, composto por uma mansão, termas, um templo e uma zona de produção agrícola. A villa é provavelmente a maior em Portugal, e um exemplar único no país, estando integrada na tipologia de uma villa áulica.
Ao contrário das villas romanas típicas, que se organizavam em redor dos peristilos, o complexo de São Cucufate apresenta uma composição única, marcada pela verticalidade, com dois pisos.
A villa foi construída entre os séculos I e IV d.C., sendo a sua fase mais monumental no século IV d.C. No piso térreo encontrava-se uma zona produtiva, conhecida como pars rustica, que incluía alojamentos para servos e escravos, armazéns, uma olaria e um lagar de vinho. O primeiro andar correspondia à residência do senhor da propriedade, que contava com grandes varandas ao longo das suas fachadas.
A residência era decorada com mosaicos, pinturas e esculturas, e equipada com termas, jardim e piscina. O senhor da propriedade dedicava-se à gestão da propriedade, ao lazer e à cultura, tendo acesso a livros, jogos e música. Também praticava a religião pagã, venerando divindades como Baco, Ceres e Silvano.
Os servos e escravos eram os responsáveis pela produção agrícola da villa, que se baseava principalmente no vinho e no azeite, mas também no trigo, nas frutas, nas verduras, no mel, no queijo e na carne. Estes produtos eram destinados ao consumo dos habitantes da villa, mas também ao comércio com as cidades romanas vizinhas, como Pax Julia (atual Beja), Scalabis (atual Santarém), Olisipo (atual Lisboa) ou Emerita Augusta (atual Mérida), que era a capital da província da Lusitânia.
As trocas comerciais eram facilitadas pela proximidade de importantes vias de comunicação, como a estrada que ligava Beja a Évora e a Mérida, e o rio Guadiana, que permitia o transporte fluvial de mercadorias.
A villa recebia das cidades romanas produtos como peixe, marisco, ovos, especiarias, doces, cerâmica fina, vidro, metal, tecidos, livros, jogos e música. Também recebia moedas romanas em troca dos seus produtos agrícolas, que serviam para pagar impostos e tributos ao Estado romano.
O complexo tinha também um templo dedicado a uma divindade romana desconhecida. O templo estava situado junto à entrada da villa e tinha uma planta retangular com um átrio e um santuário. Era decorado com colunas, estátuas e mosaicos.
No século VI d.C., com a difusão do cristianismo na região, foi transformado em uma igreja cristã dedicada a São Cucufate, um mártir catalão que teria sido enterrado no local. A igreja tornou-se um centro de peregrinação e devoção atraindo fiéis de várias partes do país.
No século VII d.C., foi construída uma segunda igreja mais pequena e simples junto à primeira. Esta igreja tinha uma planta quadrangular com uma abside retangular e era decorada com pinturas murais. As duas igrejas testemunham a mudança religiosa que ocorreu na villa e na região com o advento do cristianismo.
No século XVII d.C., foi fundado um convento da Ordem de São Paulo no local, que se manteve até ao século XIX. O convento foi responsável pela conservação e restauro de algumas partes da villa, mas também pela destruição de outras.
O convento ocupou o espaço da antiga mansão romana e construiu novas dependências, como o claustro, o refeitório e a sacristia. Também modificou as duas igrejas existentes, acrescentando capelas laterais, altares e retábulos.
A villa romana de São Cucufate é assim um lugar de encontro entre diferentes culturas, religiões e épocas, que reflete a história e a identidade da região e é um monumento nacional desde 1947 e está aberta ao público para visitação.
Conta também com um centro de interpretação e um núcleo museológico, onde se pode conhecer melhor o seu espólio arqueológico e a sua evolução ao longo dos séculos. Trata-se de um testemunho vivo do passado romano e cristão da Lusitânia e um património cultural de valor inestimável.
A vida na villa romana de São Cucufate
A vida na villa romana de São Cucufate era marcada pela diferença entre os habitantes da zona residencial e os da zona produtiva. Os primeiros desfrutavam de um estilo de vida palaciano, com uma alimentação variada e requintada, baseada nos produtos da villa e nos que recebiam das cidades romanas vizinhas.
Consumiam vinho, azeite, pão, frutas, verduras, mel, queijo, carne de porco, ovelha, galinha e coelho, peixe, marisco, ovos, especiarias, doces e outros alimentos importados. Também tinham acesso a utensílios de cozinha e de mesa de cerâmica fina, vidro e metal.
Os habitantes da zona residencial também usufruíam das termas, que eram um complexo de balneários que serviam para a higiene, o lazer e a saúde. O complexo termal tinha várias salas com diferentes temperaturas e funções, como o frigidarium (sala fria), o tepidarium (sala morna), o caldarium (sala quente), o sudatorium (sala de suor) e o laconicum (sala de vapor).
As termas também tinham uma palestra (sala de exercícios) e um natatio (piscina exterior). Eram abastecidas por um sistema de aquedutos e cisternas que captavam e distribuíam a água. Eram um lugar de convívio social e cultural, onde se podia conversar, jogar, ler, ouvir música e assistir a espetáculos.
Os habitantes da zona produtiva tinham uma vida mais dura e simples, dedicando-se ao trabalho agrícola e doméstico. A sua alimentação era mais pobre e monótona, baseada no pão, no vinho aguado, nas sopas de legumes e nas carnes salgadas ou fumadas. Não tinham acesso às termas nem aos bens culturais dos habitantes da zona residencial. Viviam em casas modestas de adobe ou pedra, com pouca iluminação e ventilação.
A paisagem em redor da villa romana de São Cucufate era caracterizada por uma zona fértil e plana, onde se cultivavam vinhas, oliveiras, cereais e outras culturas. O edifício estava situado num ponto elevado, que dominava toda a paisagem envolvente e que permitia uma boa visibilidade e defesa.
Estava também próxima de importantes vias de comunicação, como a estrada que ligava Beja a Évora e a Mérida, e o rio Guadiana, que facilitava o transporte e o comércio dos produtos agrícolas. A paisagem em redor da villa romana de São Cucufate era assim um reflexo da sua riqueza e prosperidade.