Quando o Império Romano do Ocidente caiu, o território correspondente à antiga província da Lusitânia passou para as mãos de Suevos, Visigodos e, no século VIII, dos muçulmanos. Durante o período islâmico, existia uma povoação no sítio da atual Évora, chamada Yabura.
Aqui se deram inúmeros conflitos políticos e militares, que levaram a que, no século X, Yabura tivesse de ser destruída e reconstruída – tornando-se assim a segunda cidade mais importante do reino Taifa, com sede em Badajoz.
Os dados arqueológicos existentes permitem-nos perceber a forte herança do legado árabe que ainda hoje subsiste nos traçados urbanos e nos hábitos quotidianos dos habitantes de Évora.
Voltemos atrás na história conturbada de Yabura, para melhor entendermos o presente. Em 714, a Évora visigoda foi tomada por Abd al-Aziz ibn Musa, o primeiro wali do al-Andaluz. É claro que o domínio mouro não se iniciou sem conflitos, mas, em finais do séc. IX, já Yabura fazia parte do senhorio de Badajoz, que tinha sido fundado por Ibn Marwan.
Em 913, Ordonho II da Galiza cercou a cidade e conseguiu tomá-la graças ao mau estado das muralhas, dizimando a população. O próprio governador foi morto numa mesquita, e Ordonho saiu da cidade com 4 mil cativos, entre mulheres e crianças.
A cidade acabou por ser repovoada em 914, graças aos aliados do senhor de Badajoz. A muralha da cidade foi reconstruída seguindo-se o traçado do muro romano da Antiguidade, e todo o local floresceu, suplantando Beja em termos de importância.
Segundo fontes cristãs de finais do século XII, Yabura tinha dois castelos, sendo que o mais recente tinha sido construído possivelmente no século XII. Na zona intramuros, 1/8 da zona leste era ocupado pelo alcácer, com a almedina (a cidade) a ocupar o restante. A malha urbana era muito densa e organizada de forma radial e não ortogonal, uma caraterística típica das cidades muçulmanas que ainda hoje é visível no centro histórico de Évora.
Foi também durante o período muçulmano que Yabura se estendeu para além das muralhas. A Sul, havia um arrabalde mouro, a Norte um arrabalde moçárabe, e, a Oeste, um arrabalde dos judeus. Com a reconquista cristã, os mouros assentaram no arrabalde Norte, que foi convertido numa mouraria e que, ainda hoje, é a zona da cidade que guarda mais traços do urbanismo mouro.
Em finais do século XII, o Gharb al-Andaluz passava por tempos conturbados, muito graças à ameaça do reino de Portugal. D. Afonso Henriques tinha já transferido a sua base de operações para Coimbra, procurando granjear o apoio de moçárabes enquanto fazia uma guerra de desgaste no Alentejo.
Por sua vez, a unidade era difícil de alcançar no lado dos muçulmanos, já que os recém-chegados Almóadas enfrentavam resistência Almorávida e do reino de Taifas.
Assim, a guerra entre cristãos e muçulmanos tinha contornos que iam para além do cultural e religioso, tendo-se chegado a formar alianças aparentemente pouco lógicas entre as diversas fações segundo a ocasião.
É neste contexto que surge Geraldo Geraldes, também conhecido como Geraldo Sem Pavor. Acredita-se que era um nobre de trato difícil, o que o levou a abandonar o Norte do reino de Portugal muito cedo, para se juntar à luta contra os mouros, no Sul. Acabou por liderar um bando de proscritos, salteadores e aventureiros. Quando D. Afonso Henriques parte à conquista do Alentejo e da Estremadura espanhola.
Geraldo oferece-se como voluntário para tomar Évora e as cidades vizinhas. Para isso, usou como base de operações o castro que hoje é conhecido como Castelo do Geraldo e introduziu-se na cidade, matando o governador mouro e entregando a praça ao seu soberano. A Praça do Giraldo foi nomeada em honra desta figura central na iconografia da cidade.
É claro que, por mais feroz que fosse a conquista, não se extinguiram totalmente os traços mouros da cidade. E ainda bem, já que assim a localidade preserva a sua herança e riqueza histórica de forma mais pura, por entre os edifícios e monumentos que honram a história de Évora e nos permitem viajar no tempo a cada nova visita.