A presença portuguesa em Ziguinchor começou no século XV, quando os portugueses exploraram a costa ocidental de África à procura de ouro, marfim e escravos. Estabeleceram postos de comércio em vários locais da região de Casamansa, trocando mercadorias com os reinos locais. Um desses pontos era Ziguinchor, fundada em 1645 pelos portugueses, juntamente com Farim na Guiné-Bissau.
Administrativamente, Ziguinchor dependia da região de Cacheu, na Guiné-Bissau, que fazia parte da colónia portuguesa da Guiné. Para proteger o seu comércio e influência na região, os portugueses construíram a Fortaleza de Nossa Senhora da Conceição. Também se misturaram com as mulheres locais, principalmente da etnia Diola, criando os “fijus di terra” – filhos da terra.
Estes “fijus di terra” eram descendentes de portugueses e mulheres diolas. Herdaram apelidos portugueses como Afonso, Barbosa, de Carvalho, da Silva e da Fonseca, entre outros. Distinguíam-se dos outros grupos étnicos pela língua crioula, baseada no português, pela religião católica e pelos hábitos e vestuário europeus. Eram proprietários de terras e negócios em Ziguinchor e mantinham uma boa relação com o rei de Casamansa.
A presença portuguesa em Ziguinchor durou até 1886, quando Portugal cedeu a região de Casamansa à França em troca da aldeia de Cacine na Guiné-Bissau. Este acordo desagradou aos “fijus di terra”, que se sentiram traídos pelos portugueses e abandonados aos franceses. Alguns resistiram à ocupação francesa, mas outros acabaram por se integrar na nova realidade colonial.
Apesar da cedência de Casamansa à França, os descendentes de portugueses em Ziguinchor mantiveram a sua identidade cultural e linguística. Continuaram a falar o crioulo de Ziguinchor, um dialeto do crioulo da Guiné-Bissau com influências do francês e das línguas locais. Esta língua é dinâmica e tem cerca de 30 mil falantes nativos e 35 mil como segunda língua.
Os descendentes de portugueses preservaram costumes e tradições dos seus antepassados. Um dos mais conhecidos é o “Domingo de Ziguinchor”, onde as pessoas assistem à missa na Catedral de Saint-Anthoine de Padoue e depois passeiam pelas ruas e jardins da cidade com as suas melhores roupas e chapéus, mostrando orgulho e estatuto social.
Outra tradição é o Carnaval, onde as pessoas se fantasiam e dançam ao som de música crioula. Esta festividade é uma oportunidade para brincar e satirizar os poderosos, além de reforçar os laços comunitários. Embora ainda seja celebrado, o Carnaval já não tem a mesma intensidade do passado.
A gastronomia também é uma parte importante da cultura dos descendentes de portugueses em Ziguinchor. Alguns pratos típicos, como o caldo de peixe e o arroz de coco, têm origem portuguesa, enquanto outros, como o calulu e o mafé, resultam da fusão entre as culinárias portuguesa e africana. A gastronomia reflete a diversidade e riqueza da herança cultural dos “fijus di terra”.
Atualmente, os descendentes de portugueses em Ziguinchor enfrentam vários desafios. Um deles é o conflito armado que afeta a região de Casamansa desde 1982. Este conflito entre o governo senegalês e os rebeldes separatistas do Movimento das Forças Democráticas de Casamansa (MFDC) já causou milhares de mortos e deslocados, além de prejudicar o desenvolvimento económico e social da região.
Os descendentes de portugueses sofrem com as consequências do conflito, mas também tentam contribuir para a sua resolução. Mantêm uma posição ambígua em relação ao separatismo: sentem-se ligados à história e identidade de Casamansa, mas não querem romper com o Senegal nem entrar em confronto com outros grupos étnicos. Defendem o diálogo e a paz como as melhores soluções para o problema.
Outro desafio é a preservação e promoção da cultura e língua dos descendentes de portugueses. Enfrentam a falta de reconhecimento oficial do crioulo de Casamansa pelo governo senegalês, que privilegia o francês como língua oficial. Além disso, há escassez de recursos educativos e materiais didáticos para ensinar e aprender o crioulo nas escolas.
No entanto, também há oportunidades para valorizar e divulgar a cultura e língua dos descendentes de portugueses. O Centro da Língua Portuguesa em Ziguinchor oferece cursos gratuitos de português e crioulo para crianças e adultos, além de organizar atividades culturais relacionadas com Portugal e os países lusófonos.
Portugal apoia o ensino do português e do crioulo em Ziguinchor através do Centro da Língua Portuguesa e de programas de formação de professores. Além disso, proporciona bolsas de estudo para estudantes senegaleses que queiram continuar os seus estudos em universidades portuguesas.