Chamava-se Pêro da Covilhã e partiu de Portugal continental a pé, percorrendo os principais portos até chegar à Índia. A sua missão consistia em recolher informações para que, anos mais tarde, Vasco da Gama concretizasse a via marítima da Rota das Especiarias. Pensa-se que Pêro da Covilhã terá nascido em 1450 na terra que lhe deu o nome, e que aos 18 anos foi convidado a servir D. Juan de Guzmán, irmão do Duque de Medina-Sidonia (um dos mais conceituados fidalgos de Sevilha).
Ali lhe foi atribuído o papel de espadachim, sendo que a sua desenvoltura levou a que o convidassem a participar nas embarcações do Duque, algo que ele recusou. Em 1474, acompanhou D. Juan a Lisboa para uma entrevista com D. Afonso V.
O seu domínio de línguas como o árabe levou a que, aos 24 anos, fosse admitido como moço de esporas de D. Afonso V, que rapidamente o elevou a escudeiro, com direito a armas e cavalo. Em 1467, acompanha D. Afonso V na batalha de Toro, e mais tarde na jornada por França, no pedido de auxílio ao Rei Luís XI de França na luta pelo trono de Castela.
D. Afonso V acaba por abdicar para D. João II, sendo o Duque de Bragança executado por ordem do rei. Pêro da Covilhã foi destacado para investigar quais os nobres que conspiravam contra D. João II, tendo identificado o Duque de Viseu (D. Diogo) e o bispo de Évora (D. Garcia de Meneses). Pêro da Covilhã acabou por ser também escolhido como embaixador nos tratados de paz com os berberes do Magrebe, dando continuidade à obra iniciada pelo infante D. Henrique.
Em 1487, D. João II envia Pêro da Covilhã e Afonso Paiva à procura da Índia e do mítico reino de Preste João. Disfarçados de mercadores e treinados por cosmógrafos régios e pelo rabino de Beja, partiam a cavalo de Santarém até Valência. Atravessaram o sul da Península Ibérica até Barcelona entre os meses de maio e junho.
De Barcelona, partiram numa nau até Nápoles, e daí para o arquipélago grego, desembarcando na ilha de Rodes. Daqui seguiram para Alexandria, no Egito, onde mantiveram o disfarce de mercadores, e onde quase morreram pelas conhecidas febres do Nilo na época. Assim que recuperaram, rumaram para Roseta a cavalo e depois de barco para o Cairo.
Percorreram o deserto a par do Mar Vermelho e cruzaram a Arábia até às portas do Oceano Índico, tendo chegado a Adem em 1488. Aí se separaram, combinando reencontro no Cairo nos primeiros noventa dias de 1491. Afonso Paiva rumou à Etiópia, à procura do Preste João, e Pêro da Covilhã rumou à Índia, onde chega em novembro de 1488.
Desde o primeiro contacto com Calecute que percebeu o percurso das especiarias, conhecendo a proveniência da canela e da noz-moscada, e entendendo que Calecute era o centro de todo o processo. Acabou por visitar a costa oriental da África, registando que uma vez dobrado o fim de África (mais tarde conhecido como Cabo das Tormentas), facilmente se chegaria a Calecute. Será com base nestas anotações que Vasco da Gama decidirá atravessar o Oceano Índico diretamente para Calecute.
Em finais de janeiro de 1491, Pêro da Covilhã volta ao Cairo, como combinado com Afonso Paiva. No entanto, encontra o rabino de Beja e outro judeu português, que o informam que Afonso Paiva tinha falecido de peste no início desse mesmo mês. Assim, Pêro da Covilhã redige o seu relatório para o rei e volta a Adem, procurando saber notícias de Preste João.
Uma vez na Etiópia, percebe que afinal não se tratava de um mítico reino, mas de um povo pobre que tentava evitar ser esmagado pelos vizinhos muçulmanos. Com a morte de Nahu, irmão e sucessor do imperador Alexandre, descendente de Preste João, a nova rainha Helena convida Pêro da Covilhã para ser seu conselheiro régio, em 1508.
Desejoso de regressar a Portugal, este pediu as credenciais para voltar, mas o rei Narod não o deixou partir. Acabou por exercer cargos de administração na Abissínia, tendo-lhe sido doadas terras, onde se instalou e constituiu família.
O relato das suas viagens, enviado ao padre Francisco Álvares em 1521 pelo próprio Pêro da Covilhã foi editado em Lisboa, em 1540, na “Verdadeira Informação das Terras do Preste João das Índias”.
O relato que enviou ao rei D. João II provavelmente nunca terá chegado ao destinatário, já que as armadas de Vasco da Gama e Pedro Álvares Cabral foram preparadas com o pressuposto de que a Índia era maioritariamente cristã, e os navegadores não tinham informações ajustadas à navegação no Índico, como os ventos de monção.
Ainda assim, os relatos e dados recolhidos por Pêro da Covilhã fizeram dele um dos maiores espiões portugueses, sendo hoje recordado como um aventureiro habituado a viver fora da sua terra natal, à qual nunca mais regressou. Podemos ver-lhe a face em dois monumentos distintos:
Pêro da Covilhã no Padrão dos Descobrimentos em Lisboa
Da autoria do arquiteto Cottinelli Telmo e do escultor Leopoldo de Almeida, o Padrão dos Descobrimentos foi erguido pela primeira vez em 1940, de forma efémera e integrado na Exposição do Mundo Português. . Nas comemorações dos 500 anos da morte do infante D. Henrique, em 1960, o Padrão foi reconstruído em betão e cantaria de pedra rosal de Leiria, e as esculturas em cantaria e calcário de Sintra.
Em 1985 é inaugurado como Centro Cultural das Descobertas, com uma remodelação do interior pelo arquiteto Fernando Ramalho, que lhe conferiu um miradouro, um auditório e salas de exposição. O monumento, destacado contra o Tejo, evoca a expansão ultramarina portuguesa, simbolizando a grandeza da obra do infante D. Henrique, que impulsionou as descobertas. Poderá encontrar Pêro da Covilhã localizado ao lado da bandeira da Ordem de Cristo, sendo o sétimo no alinhamento, mesmo atrás do infante D. Henrique.
Estátua de Pêro da Covilhã na Covilhã (a sua terra natal)
Em frente à Câmara Municipal, na praça principal, poderá ver uma estátua que acompanha o desenho de um mapa, no chão, que representa as viagens ao Oriente, sendo o primeiro português a pisar terras da Índia. Poderá ver na estátua um documento enrolado, debaixo do braço direito, que representa o relatório da missão secreta deste explorador. No interior dos Paços do Concelho existe outra estátua de Pêro da Covilhã, relacionada com o seu traço explorador.